25 anos do Real: ex-diretor do BC diz que risco de hiperinflação voltar é mínimo

Há exatos 25 anos chegava ao bolso dos brasileiros um dinheiro novo, que materializou o plano econômico que conseguiu domar a hiperinflação, causada pela dívida externa que disparou nos últimos anos do regime militar e parecia ser impossível de ser contida.

Você lembra? As notas eram de 1, 5, 10, 50 e 100 reais. A de 2 reais só entrou em circulação em 2001 e a de 20 reais, em 2002.

Em 2006, a Casa da Moeda encerrou a produção das cédulas de 1 real. Já as moedas tinham os mesmos valores que hoje: 1, 5, 10, 25 e 50 centavos e 1 real.

Mas o Plano Real foi muito mais do que a troca do dinheiro em circulação. Foi um processo de estabilização econômica que começou em 1993, com o objetivo de acabar com a hiperinflação, que reduzia o poder de compra do trabalhador brasileiro.

A inflação acumulada nos 12 meses, de julho de 1993 até junho de 1994, se aproximava de 5.000%. No fim daquele ano, a inflação oficial estava em 916% e caiu para 22%, em 1995.

O Banco Central teve papel importante nesse processo. Coube à autoridade monetária estabelecer a taxa básica de juros e controlar o câmbio.

Na elaboração do Plano Real, as equipes do Banco Central, da Casa da Moeda e do Ministério da Fazenda trabalharam em conjunto.

O economista Carlos Eduardo de Freitas foi diretor do Banco Central durante o processo de adoção do Plano Real. Ele lembrou que uma das preocupações da equipe econômica era evitar que, na dúvida sobre a conversão de preços, a população corresse às lojas e aumentasse a inflação.

O Banco Central, a Casa da Moeda e o Ministério da Fazenda organizaram a implantação do plano econômico em três etapas. A primeira foi com um ajuste fiscal, que permitiu ao governo remanejar o orçamento e aumentou impostos, com a criação do Fundo Social de Emergência.

A segunda fase foi marcada pela criação de uma unidade de conta, para padronizar valores, a partir da URV, a Unidade Real de Valor. A terceira etapa foi a própria implantação do Real.

Para garantir que o novo dinheiro começaria de fato a circular em todo o país, a partir de 1º de julho de 1994, a Casa da Moeda estava distribuindo cédulas e moedas para os bancos desde o mês de abril.

Naquele dia, já estavam nos bancos 940 milhões de cédulas e 688 milhões de moedas de real.

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) destaca que essa sequência de etapas permitiria a flexibilidade para a correção de erros e daria imagem de serenidade na reinstitucionalização da política econômica.

Essa estratégia acalmou os ânimos e evitou que o comportamento do consumidor acelerasse ainda mais a inflação.

Afinal, foi um processo que aumentou impostos durante uma clássica recessão, com grandes perdas no crescimento econômico e aumento de desemprego.

O economista Carlos Eduardo de Freitas destacou que uma das estratégias da equipe econômica foi vincular o real ao valor do dólar, por meio da ancoragem cambial, para controlar a inflação.

Quase cinco anos depois, o câmbio deixou de ser fixo e ficou flutuante, como é hoje. A então equipe econômica decidiu estabelecer o regime de metas para inflação. Esse regime ainda se mantém.

Antes de continuar, vamos falar um pouco mais sobre os quatro meses que antecederam a circulação da moeda que usamos até hoje. Durante aquele período, nós nos acostumamos a usar a URV, como uma unidade de conversão da nossa antiga moeda, o Cruzeiro, que estava em uso desde 1990 e, em 1993, passou a se chamar Cruzeiro Real.

Essa conversão do Cruzeiro Real em URV era feita a partir de uma tabela atualizada todos os dias, pelo Banco Central. E servia para definir pagamentos de salários, benefícios da Previdência Social e alguns tipos de contrato.

No dia 1º de março de 1994, quando começou a ser usada, uma URV equivalia a 647 cruzeiros reais e 50 centavos. No último dia, 30 de junho, já correspondia a mais de quatro vezes esse valor: cada URV custava 2 mil 750 cruzeiros reais. No dia 1º de julho, uma URV custava um real. Então, quem ainda tinha cruzeiros reais teve até setembro de 1994 para trocar o dinheiro por reais, com essa taxa de conversão: cada real valia 2 mil 750 cruzeiros reais.

Antes do Plano Real, a hiperinflação fazia o dinheiro perder valor tão rápido, que era difícil ter noção se algum produto estava caro ou barato. Quem podia, fazia reserva de dinheiro em dólar, mas a maior parte da população não tinha como se proteger do aumento de preços e ficava cada vez mais pobre.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas afirma que os 25 anos do Real foram bem-sucedidos e que o risco de a hiperinflação voltar é mínimo.

O país iniciou, então, uma longa e difícil caminhada em direção à estabilidade econômica. Os sistemas bancário e financeiro passaram por reformas. Foi o fim da remarcação de preços e da constante troca de moeda.

Hoje comemoramos 25 anos do Real, enquanto nos 25 anos que antecederam aquele 1º de julho de 1994, o Brasil teve seis moedas: cruzeiro novo, cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real.

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