Cebus alerta para a importância da preservação dos gambás

Yngrid Bragança

Os gambás são importantes para a fauna brasileira, mas sofrem preconceito por serem considerados “malcheirosos”

Eles medem de 40 a 50 centímetros, têm cauda longa e hábitos noturnos. Os gambás (Didelphis sp) são mamíferos e parentes dos cangurus e, assim como eles, também possuem marsúpio (bolsa para carregar os filhotes em formação). E apesar de serem tão pequenos, sofrem preconceito por serem conhecidos pelo mau-cheiro. E isso afeta a vida desses bichinhos.

O cheiro é fundamental na comunicação entre os animais, especialmente na marcação de territórios. “Gambá não é rato e não fede. É um animal silvestre e tem papel importante na cadeia alimentar, principalmente no controle de carrapatos. Quando matamos um gambá, estamos cometendo um crime e causando um desequilíbrio na cadeia alimentar”, afirma a bióloga do Centro de Biodiversidade da Usipa (Cebus), Cláudia Diniz.

Nesta época do ano, além de ser a fase de reprodução dos gambás, o clima é caracterizado pelas chuvas, temperaturas um pouco mais baixas e eles tendem a procurar abrigos. Qualquer lugar seco, escuro e próximo de fonte de alimento pode ser a morada deles.

Encontrei um gambá. E agora?

“Forros das casas, motor do carro, cesta de roupas sujas, quartinho de entulho são os lugares favoritos destes animais para se reproduzirem. E aí, o que acontece, na maioria das vezes, é que, quando a pessoa encontra o animal, não se dá conta de que na bolsa da fêmea tem filhotes, porque ela é uma marsupial”, declara a bióloga.

Segundo Cláudia, ao espantar o gambá, ao tentar retirá-lo do local que ele está, a fêmea pode perder os filhotes pelo caminho ou ficar sujeita a lesões, acidentes, ataques de cães, dentre outros. Na maioria das vezes, a mãe morre e a pessoa fica com os filhotes sem saber o que fazer com eles. E aí entregam os filhotes, ou à Polícia Ambiental ou aos Bombeiros, e eles são trazidos para o Cebus.

“Ao encontrar um gambá na residência ou nos arredores, a primeira providência a ser tomada é verificar se está machucado, com filhotes ou correndo algum risco. Caso seja constatada a necessidade de socorrer o animal, entre em contato com a Polícia de Meio Ambiente ou os Bombeiros. Eles irão averiguar a situação e encaminhar o gambá para o local correto. Caso o animal esteja bem, sem nenhum risco a sua vida, basta deixá-lo sair em segurança do local onde se encontra e encontrar outro abrigo”, completa Cláudia.

O trabalho do Cebus

Como o animal é um marsupial, quando o filhote está dentro da bolsa da mãe é como se ele fosse um embrião e não está totalmente formado. “Dentro da bolsa ele vai concluir a sua formação. Dependendo da idade, é muito difícil conseguir suprir a falta da mãe e muitos acabam morrendo porque não têm as defesas necessárias e nem o desenvolvimento dos seus órgãos de uma forma satisfatória. O que fazemos aqui é manter os filhotes aquecidos, secos e alimentados”, conta bióloga.

No Cebus é utilizado leite próprio para filhotes de mamíferos que supre as necessidades nutricionais básicas. Entretanto, esse leite não tem o complemento que a mãe produz: os anticorpos, as defesas para o bom desenvolvimento desse filhote. Portanto, mesmo com os esforços, o índice de devoluções a natureza é muito baixo.

Alimentação e acolhimento

Somente em outubro foram recebidos 35 gambás pelo Programa de Reabilitação da Fauna Sem Lar, iniciativa do Centro de Biodiversidade da Usipa (Cebus), juntamente com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), Polícia de Meio Ambiente e Associação de Proteção Ambiental do Vale do Aço (Arpava).

O programa tem o objetivo de receber, tratar, medicar e reabilitar animais da fauna local provenientes de apreensões, resgates, doações voluntárias ou maus tratos. Os animais são trazidos ao Cebus pela Polícia Ambiental e pelo IEF.


Encontrou um erro? Comunique: [email protected]

Pesquisar