Professor analisa os reflexos da Proclamação da República na atualidade

Wôlmer Ezequiel

Wallace acrescenta que, apesar das controvérsias, a data da Proclamação da República faz parte da identidade brasileira e ressalta o sentimento patriota

Nesta quinta-feira, 15 de novembro, é celebrada uma das datas históricas mais controversas do país, a Proclamação da República. O Brasil foi o último entre os países vizinhos nas américas que deixou de ser um império para ser uma República Presidencialista, em 1889. O fato provoca intensos debates ainda hoje e precisa ser discutido de forma ampla, na visão de especialistas.

O mestre em História Social e Política e professor da Escola Estadual João XXIII, em Ipatinga, Wallace Ferreira dos Santos, detalha que a Proclamação da República foi resultado de um longo processo. “Este ato é o resultado de um levante político-militar no Brasil, desencadeado pela crise na monarquia. A figura que marca esta data é o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca. A proclamação foi algo contraditório e se formos analisar a vida do próprio Marechal Deodoro, encontramos uma figura também contraditória. Ele era amigo pessoal de Dom Pedro II, defensor da monarquia, mas foi o personagem que convidou o imperador a se retirar do poder”, explica Wallace.

Para o especialista, ao mesmo tempo em que o ato tinha ideais de firmar um Estado brasileiro, ele também pode ser considerado um golpe de estado. “Há um debate entre os historiadores e muitos defendem a tese que a Proclamação da República foi, de fato, um golpe de estado ilegítimo. Uma vez que, a monarquia ainda era o modelo mais apropriado para a sociedade da época. A República foi proclamada, mas o povo não entendia do que se tratava. Segundo diversos estudiosos, foi uma ação política de uma minoria, que atendia a interesses de políticos, de fazendeiros latifundiários, da Igreja Católica e da Maçonaria”, pontua o especialista.

“Mas em uma visão mais romântica, a proclamação busca por afirmação do Estado, de criação do sentimento de pertencimento e identidade brasileira, com a criação e exaltação a símbolos nacionais como a bandeira do país, o hino nacional. A proclamação também é um marco de ruptura com a política praticada por Portugal. Ela rompe, de certo modo, com os ecos do I Reinado”, pondera Wallace.

República e Democracia

O especialista indica que, em geral, o conceito de república está ligado ao de democracia. Contudo, estas ideias ainda necessitam de ser mais trabalhadas na sociedade brasileira. “A etimologia da palavra república, do latim res publica, significa coisa pública. Ou seja, na república os bens e riquezas do país pertencem a todos e devem ser de uso coletivo, não sendo usado para fins particulares. Infelizmente no nosso país, o bem público ainda é tratado para atender interesses pessoais. Além disso, a república quase sempre está acompanhada pelo conceito de democracia, claro que há exceções. Mas a ideia de democracia remete aos conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, conceitos que também não são bem trabalhados na nossa sociedade”, informa o professor.

Wallace acrescenta que, apesar das controvérsias, a data da Proclamação da República faz parte da identidade brasileira e ressalta o sentimento patriota.

“A data faz parte da nossa história, e assim como os símbolos nacionais, ela nos recobra ao patriotismo que é diferente do nacionalismo. O patriotismo é o respeito a estes símbolos, é conhecer a história do nosso país e nos orgulhar isso. Contudo, o nacionalismo é algo que anula o outro, que prega superioridade e fechamento às diferentes culturas. O nacionalismo exacerbado foi um dos motivos da 1ª Guerra Mundial, e após 100 anos do término da guerra vemos a retomada deste sentimento em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Por isso, precisamos entender a nossa trajetória nestes 129 anos de proclamação. Todas as conquistas de liberdade não foram fáceis para o Brasil e para o brasileiro”, conclui o mestre.

Fernando Lopes


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