Sócios montam comissão para tentar salvar o Alfa

Alex Ferreira

Assembleia marcada por intensos debates resultou em comissão

Durou cerca de três horas e meia a assembleia de associados do Clube Alfa, em Timóteo, realizada no domingo (9), no ginásio coberto do clube. Os sócios cotistas (que têm direito a voto) decidiram, em maioria, por formar uma comissão para enfrentar a situação calamitosa. A atuação da comissão será no sentido de pesquisar a realidade documental do clube e avaliar as propostas de compra da área parcial ou integral do clube. “Estaremos aguardando a decisão da comissão de sócios, mas nada no clube pode esperar. Pode ser que nem sequer abra essa semana, nem o clube e nem a secretaria”, alertou o presidente do clube, o presidente da associação, Luiz Claudio Fernandes Durso (Tiné).

A assembleia teve momentos de tensão, com acusações de omissão dos sócios e falta de transparência das diretorias anteriores, que deixou o clube de lazer mergulhado em uma dívida que chega a R$ 5.310.706,43. Esse valor é composto por débitos previdenciários que se arrastam desde 2005 (R$ 2.498.389,24) já refinanciados, mas com parcelas em atraso, e trabalhistas (R$ 1.471.685,23), além de valores devidos ao sistema bancário, IPTU e fornecedores.

Os números apresentados indicam que, atualmente, 229 sócios cotistas estão em dia com as mensalidades e 30 estão inadimplentes. Conforme o estatuto do clube, depois de seis meses sem pagar o associado perde a cota. Desse total de adimplentes, 71 compareceram à assembleia no domingo. Sócios contribuintes (sem direito a voto) também participaram.

A receita mensal não passa de R$ 26 mil, conforme afirmou o presidente, Tiné, “valor insuficiente para arcar com as despesas de manutenção do parque aquático, sauna e a Lagoa Bonita, que beiram os R$ 33 mil”.

Diante desse quadro, a medida apontada pela diretoria para resolver a situação da entidade de lazer é vender parte do imóvel que sobrou do Alfa. Com isso, seria comercializada uma área de 29.300 metros quadrados (suficientes para implantar um loteamento com 50 imóveis), incluindo a área da portaria ginásio e campos de futebol. Sobrariam 27 mil metros quadrados, onde estão unicamente o estacionamento, piscinas e quiosques. A proposta revoltou alguns dos associados.

Ameaça real

A preocupação maior alegada pelos diretores é com a ameaça de execução de algumas das dívidas e suspensão de refinanciamento com a Receita Federal, o que não deixaria margem de tempo para qualquer negociação e levantamento de crédito para arcar com as obrigações. Por se tratar de uma associação, o clube não pode se beneficiar de recursos legais, como a recuperação judicial ou a falência. A legislação permite apenas que, ao fechar as portas, o clube faça a dissolução. Nesse caso, os bens seriam penhorados para pagar as dívidas e, se houver sobra de ativos, o recurso seria distribuído entre os sócios.

Proposta da diretoria é vender mais uma área do Clube Alfa para pagar dívidas emergenciais

Clube não se adaptou ao esvaziamento de associados

A situação do Clube Alfa, um dos mais importantes de Timóteo, foi atribuída ao histórico de falhas administrativas ao longo de 20 anos, quando houve a redução significativa do quadro de associados, sem que medidas saneadoras fossem adotadas. Planejado para abrigar cinco mil associados, em seu auge, o clube passou a enfrentar a saída ininterrupta de associados, com os anos de crise financeira e desemprego. Atualmente, menos de 600 pessoas integram o seu quadro, entre os sócios cotistas e os sócios contribuintes e, ainda assim, com inadimplência na casa dos 30%.

Com as contas no vermelho ao longo de 20 anos, uma das saídas dos gestores anteriores foi o parcelamento e venda de ativos do clube, com a comercialização de lotes ao redor, na área doada pela antiga companhia Acesita. Os imóveis foram vendidos e as dívidas não foram quitadas em sua totalidade, o que também levanta questionamentos acerca das operações.

Ocorre que, em 2015, a direção da Aperam não concordou com esse procedimento e, sob o argumento de descumprimento de cláusula do contrato de uso do imóvel, ingressou com uma ação na Justiça reivindicando a retomada da posse de toda a área.

A diretoria do clube, alegando que não tinha advogados para enfrentar a direção da siderúrgica, partiu para uma negociação. Em 2017, um acordo estabeleceu que a Aperam retomaria a posse de 24 hectares de terras no bairro Horto Malaquias, deixando para o Alfa os atuais 6 hectares. O acordo também assegurou a doação escriturada do imóvel ao clube composto pela portaria, ginásio, campo de futebol e o parque aquático.

Investidores

Na assembleia de domingo a diretoria apresentou uma proposta de comercialização da área que vai da portaria ao campo de futebol. Presente à assembleia, o representante de um investidor imobiliário, interessado, fez a proposta de pagar R$ 2,7 milhões no imóvel do clube, o que não daria sequer para quitar a dívida. Os associados não aceitaram a proposta e alegam que a área, ainda que desmembrada, vale mais.

“Ou vende tudo e paga a conta e acaba com o clube ou não vende nada”, defendeu um dos associados lembrando que, se a maioria optasse por acabar com o clube em Timóteo, os associados também estariam decretando o fim da Lagoa Bonita, área da Aperam cedida em um comodato de 25 anos para o lazer dos sócios do Alfa. “Deu a entender que, na assembleia, os diretores vieram com a pretensão de pressionar pela votação para a venda do clube. Disseram que a proposta de venda tem validade para 15 dias e o investidor ainda afirmou, perante todos, que em meia hora oficializava a documentação a intenção de compra e venda. Literalmente, foi faca no pescoço e nós não aceitamos”, reclamou outro associado.

“Passamos a vida toda aqui dentro, nossos filhos cresceram aqui, participando de programas esportivos, nunca fomos consultados sobre crise alguma, nunca foram prestadas as contas e agora o que nos oferecem é o fechamento do clube. Não vamos aceitar”, afirmou uma associada.

De fato, em 2017 foi realizada, pela primeira vez, uma assembleia de prestação de contas, quando a situação crítica foi demonstrada.


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