Usiminas completa hoje 56 anos de operações em Ipatinga

Fotos: Wôlmer Ezequiel

Usina começou operação para produção de gusa em 25 de outubro de 1956

Hoje completa 56 anos do início das operações da Usina Intendente Câmara, da planta da Usiminas, em Ipatinga. Para o presidente da companhia, Sergio Leite, esse é um número tradicionalmente pouco comemorado nas celebrações corporativas, mas especialmente importante na história particular da empresa. O executivo lembra que a Usiminas acaba de consolidar uma trajetória de recuperação de resultados depois de um período recente de enormes desafios que quase levaram a empresa à insolvência.

Para Leite esse é um risco ficou no passado graças ao trabalho de cada pessoa que compõe a equipe Usiminas e ao apoio de todos que estiveram juntos ou torceram por mudanças nos resultados, dentre eles clientes, comunidade, fornecedores e acionistas. “Este ano de 2018 vem sendo de muito trabalho e realizações, mostrando a capacidade de superação do nosso time, que tem construído bons resultados dia após dia. Hoje, aos 56 anos, a empresa pode construir seu presente e seu futuro”, afirma Sergio Leite. Em entrevista ao Diário do Aço, o executivo aborda outros assuntos, no dia do aniversário de operações da empresa.

Na marca dos 56 anos, quanto a usina em Ipatinga deve produzir esse ano?

Estamos otimistas e esperamos um crescimento econômico maior neste ano de alguns setores importantes para a Usiminas, como o automobilístico. Em 2017, o setor automotivo foi o grande destaque da indústria, com crescimento de mais de 17%, puxando todo o resultado industrial para o azul depois de três anos de quedas consecutivas. A expectativa é que neste ano o setor automotivo também tenha crescimento de dois dígitos o que, seguramente, terá impacto positivo na siderurgia nacional e na Usiminas, que é líder no mercado de aços planos e vende, hoje, cerca de um terço de sua produção para a indústria automotiva.

Números recentes divulgados pelo Instituto Aço Brasil mostram que a produção brasileira de aço bruto alcançou 26,1 milhões de toneladas no acumulado até setembro 2018, o que representa uma expansão de 2,5% frente ao mesmo período do ano anterior. A produção de laminados no mesmo período foi de 17,5 milhões de toneladas, aumento de 5,5% em relação a 2017. A produção de semiacabados para vendas foi de 7,2 milhões de toneladas no acumulado de 2018, o que significa um aumento de 1,7% na mesma base de comparação. Na Usiminas, os números dos seis primeiros meses do ano apontam um crescimento de 8% na produção de laminados, considerando as Usinas de Ipatinga e Cubatão.

Vale ressaltar que a Usiminas tem grande tradição e é conhecida pelos aços de alta qualidade para todos os setores. Tivemos, recentemente, um forte ciclo de investimento tecnológico, o qual nos permite oferecer ao mercado nacional produtos exclusivos, customizados para diferentes setores, de alto valor agregado e em igualdade com concorrentes importados. Estamos oferecendo no Brasil produtos que até então só eram encontrados no exterior. Isso nos dá um grande diferencial frente à concorrência e vem impulsionando nossas vendas em 2018.

Sergio Leite afirma que capacidade do time tem assegurado a superação da Usiminas

Logo após a chegada do senhor à Presidência, houve um esforço para a reaproximação da empresa com a sociedade no Vale do Aço, a resposta foi positiva?

Certamente, tanto que esses laços que estamos reforçando são a base da nossa campanha comemorativa do aniversário de 56 anos de operação. Recebemos frequentemente retornos positivos sobre essa abertura da empresa, que acredito ter sido um passo fundamental em nosso processo de revitalização. Queremos seguir com um diálogo amplo e transparente com a comunidade da qual somos parte. É importante ouvir as pessoas e também mostrar a elas o que temos feito para manter a Usiminas no caminho do crescimento, além das iniciativas que desenvolvemos em benefício delas, seja em educação, esporte, saúde ou cultura. Temos objetivos comuns com todos, como a geração de riqueza e a qualidade de vida da população da nossa região, e estou certo que essa parceria só traz benefícios.

No cenário mundial, recentemente, falou-se muito no protecionismo e das barreiras comerciais envolvendo o aço. Houve impactos nos negócios que envolvem a Usiminas?

A Usiminas concentra a maior parte de suas vendas no mercado nacional, sofrendo menos impacto dessas medidas no curto prazo. Entretanto, não acredito que devamos nos prender a isso uma vez que, no longo prazo, todo o mercado é prejudicado, em maior ou menor escala, pelo protecionismo. Queremos atuar em um mercado que ofereça isonomia para que as empresas possam concorrer em qualidade, inovação e tecnologia.

No que diz respeito à indústria de maneira geral, por meio do Instituto Aço Brasil e de outras entidades, estamos trabalhando fortemente pela retomada dos investimentos na área produtiva, e aí eu destaco a construção civil, a área de infraestrutura – que vive atualmente um momento de caos – e o setor automotivo, que, felizmente, está se recuperando e deve apresentar um crescimento da ordem de 12% em 2018. Estamos em permanente diálogo e negociação com os países que vêm sobretaxando nossos produtos, tentando trazer os negócios para o liberalismo econômico e não para o protecionismo de mercado. Vamos continuar lutando por relações comerciais equilibradas e isonômicas.

E o cenário de 2018, para o mercado siderúrgico, como está, visto que em 2017 o senhor manifestou otimismo em relação à retomada do desenvolvimento brasileiro?

Estamos vindo de um período marcado por uma forte recessão econômica interna e as projeções de crescimento do PIB ainda são muito tímidas. No primeiro trimestre, havia uma perspectiva concreta de um crescimento na ordem de 3%, segundo avaliações do banco central, e elevação da demanda do consumo aparente de aço em torno de 10%. Hoje, as projeções apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto em torno de 1% em 2018 e a perspectiva é que o consumo aparente de aço registre alta de cerca de 5%. Vamos ter, sim, crescimento da economia e do consumo do aço, mas muito aquém daquilo que nós esperávamos e do que o país precisa. O melhor ano de vendas de aço no mercado interno foi em 2013, vinte anos depois de outro pico semelhante, ocorrido em 1993.

Assim como em toda a indústria, o mercado siderúrgico é afetado por esse cenário ruim e estamos longe de recuperar as perdas registradas nos últimos anos. Mas temos nos esforçado em diversos níveis para conquistarmos resultados positivos, mantermos nossas vendas em patamares elevados e recuperarmos os preços dos nossos produtos. Sigo otimista e seguro que estamos fazendo a nossa parte.

Estamos à véspera da definição da eleição presidencial, a pauta “Siderurgia” chegou a ser tratada, em algum momento com os candidatos?

Dado o cenário recente da economia, a polarização e o intenso debate que se estabeleceu na sociedade em torno das candidaturas, as eleições deste ano ganharam ainda mais importância. Ainda estamos numa fase de consolidação da nossa jovem democracia e precisamos estar atentos e participativos no processo eleitoral. O Brasil é um país de enormes potencialidades, mas igualmente de imensas carências.

Seja qual for a escolha da população brasileira para comandar o país a partir de janeiro de 2019, o que espero é que tenhamos um próximo governo que olhe com atenção para a indústria nacional. Precisamos – não somente a siderurgia -, de uma política industrial séria, bem estruturada, que defenda o mercado interno e que ajude as empresas a crescer e colocar o produto nacional no exterior. Ressalto que não falo em privilégios, reservas ou nada nesse sentido. Mas em igualdade de condições com a indústria internacional.

Hoje, vemos em todo mundo um movimento de fechamento dos mercados. Mas o Brasil permanece aberto. Qualidade de produto e custos de produção competitivos já temos, precisamos que o chamado “Custo Brasil” caia, para que possamos competir em condições de igualdade. Estivemos e continuamos abertos para dialogar sobre essas questões com o futuro presidente e sua equipe.

O que o senhor considera como maior desafio para a siderurgia nacional na atualidade?

A indústria do aço no Brasil é extremamente competitiva dos portões para dentro. Temos custos compatíveis com as grandes empresas mundiais, mão-de-obra qualificada e conseguimos produzir aço no nível da excelência em termos de qualidade, tecnologia e customização. Porém, perdemos nossa competitividade por uma série de fatores externos às usinas. O Brasil é um país que exporta imposto e, ao competir com outros países como, por exemplo, a China – que não é uma economia de mercado e não remunera adequadamente sua mão-de-obra e nem o capital – enfrenta, de maneira inquestionável, essas assimetrias no mercado internacional.

Tenho dito que o maior desafio da siderurgia e de toda a indústria nacional de modo geral é ocupar a capacidade instalada, pois desenvolvemos elevados padrões produtivos e há mão de obra disponível. Para isso, é necessário que o país entre em uma trajetória de crescimento sustentado e a índices de cerca de 5%, bem superiores ao que tivemos em 2017 (1%) e ao projetado para este ano (1,3% segundo o Boletim Focus de 19/10). Estamos prontos para crescer muito mais do que isso, mas é preciso segurança e estabilidade para que o dinheiro reencontre o caminho da aceleração da produção.

Retomando para o foco local; agora mesmo está em andamento uma campanha salarial dos metalúrgicos, cuja data-base é 1º de novembro. O que os trabalhadores podem esperar dessa negociação?

A Usiminas tem como princípio o diálogo transparente com os colaboradores. O que todos queremos, e acredito que temos ótimas condições de alcançar, é um acordo justo e equilibrado. Queremos o melhor para o empregado, respeitando as condições da empresa e do mercado em que atuamos.

Por fim é impossível não tocar no assunto gasômetro. Após o acidente do mês de agosto, o que restou apurado? Providências adotadas e se houve impacto na produção e resultados da empresa nesse segundo semestre.

As providências foram tomadas desde a ocorrência e, em cinco dias, voltamos à operação normalmente, com total segurança no processo. Chegamos à causa inicial com bastante agilidade e seguimos com um processo investigativo bastante específico. Agora, estamos na fase de desmontagem, processo que deve se estender por um período estimado entre quatro e cinco meses. Em paralelo a empresa já iniciou a fase de solicitação de propostas de fornecedores para instalação de um novo equipamento, que envolve a licitação, contratação, desenvolvimento de engenharia, fabricação e montagem. A instalação definitiva do novo equipamento está prevista para acontecer em aproximadamente 18 meses da data de contratação. O gasômetro tem um volume de 150 mil metros cúbicos e todas as licenças e autorizações necessárias para a condução do processo já foram concedidas. As estimativas de custos ainda estão sendo fechadas.


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