Encurralados pela crise: mineiros sofrem com custo de vida mais alto e desemprego

Em meio a um cenário de caos econômico, marcado pelo desemprego e pelo aumento do preço de serviços essenciais, como metrô e cesta básica, a renda média do mineiro, que precisa se desdobrar para colocar comida em casa, despencou.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento caiu de R$ 1.917 no primeiro trimestre do ano passado para R$ 1.868 no mesmo período desse ano. Entre os motivos, o aumento de desalentados, que desistem de procurar trabalho, a informalidade do mercado e o fato de as pessoas aceitarem cargos piores, com salários menores do que estavam acostumadas.

“O mercado formal por certo teve queda de renda média, mas porque pessoas que recebiam salários maiores foram substituídas por mão de obra barata. E como a renda média é gerada pela renda total dividida pelo número de trabalhadores, ela cai”, pondera o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato.

O fenômeno é motivado pela falta de perspectivas do trabalhador na área em que ele procura emprego. Como reflexo, ele aceita trabalhar em áreas com menos qualificações. O objetivo é colocar comida na mesa.

É o caso da bancária Tatiana Xavier, que está desempregada desde 2017, engordando as estatísticas. Em Minas, 9,9% dos desempregados estão em busca de emprego há mais de 1 ano e menos de 2 anos. Muitos acabam desistindo – os chamados desalentados. O número nessa categoria chegou a 426 mil em abril no Estado, o maior da série histórica. “Intensifiquei a busca por emprego há cerca de um ano, e até hoje só fui chamada para uma entrevista”, lamenta Tatiana.

Reservas no fim

Além da falta de perspectivas no setor bancário, Tatiana tem que lidar com a redução das reservas financeiras. “Já usei toda a minha previdência privada e estou usando o FGTS. Só consigo manter minha casa até fevereiro. Se eu não conseguir emprego até lá, não terei como colocar comida na mesa”, lamenta. Devido ao aumento de uma série de produtos e serviços, ela teme que a reserva acabe antes.

A cesta básica, por exemplo, subiu 17,363% nos últimos 12 meses, conforme o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead). Já a gasolina ficou em 5,28% mais cara nos últimos 12 meses, enquanto a energia subiu 18,54%.

“Meu plano de saúde também aumentou 25%, subiu R$ 140. Eu não estava contando com isso. Também não contava com esse aumento da gasolina, por exemplo”, critica Tatiana.

Para o professor de economia da PucMinas, Pedro Paulo Pettersen, a falta de políticas públicas claras faz com que os empresários e os consumidores fiquem de mãos atadas, fazendo com que a reação da economia seja tardia. “O governo tem um foco quase que obsessivo na reforma da Previdência, mas não mostra quais serão as ações de retomada da economia se ela passar. É uma situação grave e arriscada apostar todas as fichas em uma única estratégia”, afirma.

Outra causa ponderada por ele é a dificuldade do governo federal de convencer que pode tirar o Brasil da crise. “O governo apresenta vários projetos, depois recua. Há um desencontro com o Congresso, o Legislativo e os próprios empresários, que querem respostas”, diz Pettersen.

Mineração

A crise na mineração – decorrente da interdição de dezenas de minas no Estado, após o aumento do risco de colapso de várias barragens vir a público – impacta negativamente o cenário econômico e força os índices ainda mais para baixo.

No primeiro trimestre deste ano, a Vale – responsável pela estrutura que ruiu em Brumadinho, matando cerca de 270 pessoas – registrou queda de 28% na produção, conforme balanço da mineradora.

“O efeito em Minas continua em decadência. A redução de produção nesse primeiro trimestre de 2019 da extração mineral é um dos culpados”, pondera o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato.

Relatórios da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) divulgados desde que a barragem rompeu, em janeiro deste ano, apontam para um cenário nebuloso. O número de potenciais desempregados no médio prazo em decorrência da interrupção das atividades pode superar 800 mil.

Estagnação

E o problema é que desviar desse cenário e emergir rumo a um ambiente economicamente saudável é tarefa árdua.
“Estamos atravessando um processo de estagnação e recessão sérios. Não tem outro jeito. A atividade está baixa, e o governo tem restrições em fazer gastos, enquanto as empresas têm restrições orçamentárias”, diz o coordenador do curso Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho. Sem investimentos, o dinheiro não gira e o desemprego continua.

“As pessoas não têm dinheiro. E quem tem não tem coragem de gastar”, resume o professor da PUC Minas Pedro Paulo Pettersen.

Com Hoje em Dia

 

Postado originalmente por: Portal Sete

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