500 estudantes de JF assistem aulas em galpões adaptados

Os cerca de 500 alunos da Escola Estadual Professor Francisco Faria, no Bairro Benfica, região Norte de Juiz de Fora, têm assistido aulas e desenvolvido suas atividades escolares em galpões adaptados há três anos. A situação ocorre porque, após a demolição da antiga unidade de ensino, localizada na Praça Duque de Caixas, a Praça CEU, as obras para a construção da nova sede escolar, na mesma área, estão temporariamente interrompidas. A escola tem funcionado provisoriamente no Bairro Nova Era, região Norte, na Rua General Almerindo da Silva Gomes 162. As salas foram instaladas ao longo dos galpões, delimitadas por divisórias de PVC. Improvisado, o teto faz com que o som de cada espaço propague para as outras salas, dificultando o entendimento e, consequentemente, a apreensão de conteúdo pelos alunos.

A construção da nova sede da escola, que outrora trouxera esperança e satisfação para pais, alunos e educadores, transformou-se em indignação. Isso é o que relata Maria Cristina Cobucci do Nascimento, mãe de um estudante de 10 anos, que cursa o 5° ano do ensino fundamental na escola. “Nós ficamos satisfeitos porque os alunos saírem do antigo local era sinal de que a nova sede iria ser construída. A mudança trouxe esperança porque, embora as crianças estivessem sido transferidas para um galpão adaptado, era algo temporário. Mas ninguém esperava que fosse demorar tanto. Estamos indignados com esse tempo todo e mais o que está por vir”.

Maria Cristina lembra que quando seu filho foi transferido com os outros estudantes para o galpão, ele estava cursando o segundo ano e que tinha a expectativa de estudar no prédio novo. No entanto, isso não vai acontecer, já que a escola atende alunos que cursam até o fim da primeira fase do ensino fundamental. Sobre os possíveis prejuízos que a instalação da escola em galpões improvisados causam no aprendizado dos estudantes, ela afirma que as dificuldades afetam não somente as crianças, mas professores.

“As crianças deixam de realizar determinadas atividades, que iriam contribuir ainda mais para o aprendizado. Isto porque ou não tem lugar adequado ou porque o barulho causado vai atrapalhar a outra turma. E são atividades que poderiam estar acontecendo se a outra escola estivesse pronta. No casos dos professores, eles também são muito prejudicados, porque o barulho de uma sala atrapalha a outra. As divisórias não dão conta de abafar o som. E um professor, para dar aula em uma sala com cerca de 25 a 30 crianças, muitas vezes, precisa aumentar o tom de voz. A situação fica muito complicada: tem que desenvolver o trabalho, mas ao mesmo tempo tem as restrições.”

Embora o galpão não seja o espaço ideal para o funcionamento da escola, na opinião de outra mãe, que preferiu não ter sua identidade revelada, o local não oferece riscos de segurança aos alunos. Fator que ela atribui aos esforços da direção e dos professores da unidade. “Risco de segurança eu acredito que não oferece, até pelo fato de terem sido feitas todas as adaptações possíveis e necessárias para a transferência. Eu acompanhado de perto e vejo que a escola faz o possível. Tudo é muito pensado, tudo é feito com muito carinho. Além disso, o trabalho pedagógico desenvolvido é excelente. Agora, precisa do novo espaço para se ter continuidade, porque além do prejuízo aos alunos e professores, também existe a questão do que está lá parado. A construção está estragando, há infiltração de água. Isso prejudica a todos”, afirma, lembrando dinheiro que o governo já investiu na obra. Segundo a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE), a primeira etapa do projeto foi orçada em cerca de R$ 600 mil.

Em Nova Era, galpão foi adaptado para receber cerca de 500 alunos; Tribuna não teve acesso às dependências internas

Professores

“A situação realmente é complicada. Nós nos viramos. Procuramos fazer diversas atividades, levamos os alunos para visitar espaços fora da escola, museus e outros passeios, para que possam ser incentivados e estimulados, mas no dia a dia tem ficado muito difícil. Nós adaptamos o espaço, mas está longe de ser o ideal, e isso reflete nas aulas, no aprendizado dos alunos. Você imagina: muitos alunos sonham com uma boa escola, com uma infraestrutura legal. Mas na nossa atual realidade, isso não existe. Por mais que façamos o possível, isso desanima algumas vezes. Apesar disso, sempre buscamos fazer o melhor”, ressalta uma professora, que também prefere ter seu nome preservado.
A educadora também afirma que a situação é prejudicial aos profissionais da educação, que precisam desenvolver as aulas mesmo em um local que não proporciona as melhores condições de trabalho. “Também não é a melhor condição para nosso trabalho. Prejudica sim, mas não temos opção”, lamentou.

Ao jornal, a diretora de comunicação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) de Juiz de Fora, Yara Aquino, afirmou que o sindicato está acompanhando a situação desde o início do imbróglio. “Nós acompanhamos o casos, fizemos algumas manifestações na Zona Norte para defender a escola. Também tem a questão da Escola Estadual Delfim Moreira, no Centro. O Governo tem ignorado essas situações, e é um descaso com os trabalhadores e os alunos. A gente espera, e, sendo possível fazer qualquer outra coisa, a gente vai fazer”.

Comissão requer medidas para avaliar situação

Em relação à nova sede, até o momento, foi erguida a estrutura edificação (paredes, muro, rampas e escadas), contudo, não há previsão para continuidade e finalização do prédio. O montante dos recursos disponíveis para a primeira fase da edificação esgotou-se, e a verba parlamentar conseguida em 2015 para garantir a continuidade da obra ainda não foi liberada.

Esta situação foi exposta em reunião ordinária da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada no final de abril. Na ocasião, a diretora da escola, Vera Lúcia Zambelli, esteve presente. Durante a sessão, a titular reivindicou a liberação da verbas “que lutaram para receber” e a continuidade e finalização da nova unidade escolar. “A obra não pode ficar parada e largada. (A construção) está se deteriorando. Também temos monitorado para não dar dengue. Não aguentamos mais. Os professores estão adoecendo, as crianças estão sendo prejudicadas. Um ano já é muito, três é descaso.”

Vice-presidente da Comissão de Educação, o deputado Roberto Cupolillo (Betão, PT) relatou à Tribuna que dentre os requerimentos votados durante a reunião, dois diziam respeito à situação da escola. Foi aprovada uma visita, ainda sem data marcada, dos deputados integrantes da comissão à atual sede e à obra; e também uma audiência com a atual secretária de Estado de Educação, Júlia Sant’Anna.

“A Secretaria de Educação foi comunicada (sobre a situação da escola), mas até semana passada ainda não havia chegado uma resposta (…) Mas de qualquer forma, eles têm que mandar uma resposta. Estamos aguardando também uma audiência com secretária de Educação. A situação é complicada, porque o que está tendo aqui são cortes e contenção de despesas e, infelizmente, isso está atingindo a educação”, disse o deputado.

Resposta

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Educação ressaltou a crise financeira enfrentada pelo governo estadual e mencionou a dívida de R$ 34,6 bilhões herdada da gestão passada, o que tem dificultado a viabilização de recursos financeiros. Informou, entretanto, que está trabalhando para a liberação de recursos necessários para a conclusão das obras prioritárias nas escolas estaduais. Conforme a pasta, a nova estrutura já possui dois andares com nove salas e áreas de cozinha, refeitório, laboratório de informática, dentre outras. A secretaria afirmou ainda que o valor de R$ 200 mil, necessário para o início da próxima etapa, “será liberado o mais breve possível”.

Por Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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