Educação e envolvimento familiar são focos de programação sobre autismo em JF

Puxado pelo Dia Mundial de Conscientização sobre o autismo, no dia 2, o mês de abril é dedicado a dar visibilidade e modificar o olhar lançado pela sociedade aos autistas. O mês sempre conta com a Semana de Conscientização, cuja parte da programação ainda está em aberto, mas, nesse ano, um dos pontos altos é o workshop sobre o autismo, que será realizado no dia 31 de março, das 8h às 21h, no Trade Hotel. As vagas são limitadas e os interessados devem fazer inscrição pelas redes sociais do Grupo de Pais e Profissionais de Pessoas com Autismo (Gappa), organizador do evento. O investimento é de R$ 150 para pais, professores e estudantes e de R$ 200 para profissionais. Apoiadores também podem colaborar com o financiamento coletivo para ajudar na realização, disponível nas redes sociais do Gappa. A intenção é proporcionar uma experiência diferenciada, que agregue maior conhecimento e contribua para fortalecer a causa em Juiz de Fora e região, com ferramentas práticas.

“Vamos ter três nomes de relevância internacional quando o assunto é o autismo”, comenta Ariene Menezes, presidente do Gappa. Claudia Moraes vai falar sobre os materiais direcionados para auxiliar a educação de pessoas com autismo. “Ela é mãe de um autista adulto e severo. O foco do trabalho dela é fundamental para o desenvolvimento da criança com autismo na escola.” Fátima de Kwant traz o empoderamento familiar em um processo de coaching parental. “Ela vai mostrar como trabalhar com o autista em casa, extraindo o potencial dele. Há ainda muitas pessoas que pensam, por exemplo, que os casos mais severos incapacitam. Mas isso não existe e ela vem, justamente, para dar ferramentas para auxiliar as famílias”, explica Ariene. Fátima também tem um filho adulto com autismo. Ele foi diagnosticado como severo e, em 2015, o diagnóstico foi mudado para leve. Além delas, o evento também conta com o relato da família Brito. O filho, Nicolas Brito, um jovem de 19 anos que era não verbal aos 7 e, aos 12, iniciou sua fala social, hoje ministra palestras e está prestes a lançar seu primeiro livro, além de ser fotógrafo.

Semana do Autismo

Está marcada também a tradicional Semana do Autismo, que acontece entre os dias 1º e 7 de abril, cuja programação é gratuita e aberta ao público. Além de palestras de profissionais que lidam com o autismo e tirarão dúvidas, a semana também conta com iniciativas que dão visibilidade à causa. No dia 6 de abril, sábado, acontece a tradicional passeata, que sai da Praça da Estação e vai até o Parque Halfeld, com participações especiais, como o grupo Doutores do Amor.

No domingo, 7, acontece a primeira edição da “Sessão Azul”, exibição de cinema direcionada ao público infanto-juvenil com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) e suas famílias, no dia 7 de abril, fechando a semana. A sessão funciona como uma adaptação ao ambiente do cinema e funciona como extensão do espaço terapêutico. A exibição é gratuita e os ingressos devem ser retirados no site da Sessão Azul, no endereço www.sessaoazul.com.br.

“O mês inteiro terá visitas às escolas, momentos de lazer e recreação em locais como os shoppings e o Centro de Ciências da UFJF. Vamos articular diversas ações, em várias frentes, para que as pessoas se informem e conheçam as nossas rotinas”, pontua a presidente do Gappa.

Necessidade de despertar outra atenção

Muito em relação ao atendimento das pessoas com autismo já avançou, mas ainda é preciso ir além, pois há problemas em áreas muito importantes para o desenvolvimento, explica Ariene. “A educação, por exemplo, é um desafio frequente. Todo ano é a mesma luta, porque precisamos fazer entender que estar inserido não é estar incluído. Eles estão nas escolas para aprender e precisamos que os profissionais estejam abertos para isso. Por isso, vamos ter palestras com psicopedagogos, psicomotricistas, psicólogos comportamentais voltados para a sensorial.” As capacitações sobre o material estruturado também estarão presentes, em função da importância da adaptação curricular, fundamental para esses alunos. A intenção é enraizar este trabalho em escolas das redes pública e privada.

“Nós lutamos para disponibilizar esse conhecimento. Ampliamos a semana justamente para que as pessoas entendam, esclareçam, tirem suas dúvidas, passem a conhecer o autismo. O espectro é amplo demais: tem aquele que é severo e não é verbal; outro que é moderado, mas também não é verbal; o que olha no olho; o que não olha; tem aquele que aprende, mas não interage; tem aquele que interage, mas não aprende. Entendemos que é muito complexo e daí a importância desse trabalho, de estar ensinando, buscando o entendimento e a inserção dessas pessoas na sociedade como um todo.”

O intuito é que esse trabalho ajude a construir um projeto transformador, que favoreça o desenvolvimento e consiga inserir essas pessoas no mercado de trabalho, por exemplo.”Já temos empresas que contam com psicólogos para o recrutamento. Com esse apoio, o jovem consegue ser melhor assistido e direcionado, considerando suas dificuldades, superando seus desafios. Queremos o desenvolvimento e o aprimoramento de todos e o convívio em sociedade. Temos adultos autistas que são casados, já fizeram a faculdade e é isso que a gente quer ver.”

Importância do conhecimento e da mobilização

Em outras ocasiões, o trabalho realizado pelo Gappa por meio de palestras e cursos já deu resultado. É o que conta Ariene sobre o uso do material estruturado, direcionado para ensinar pessoas com autismo. “Já tivemos cursos como esse na cidade e conseguimos que alguns professores participassem. Eles saíram encantados. Convenci a professora do meu filho a participar e, quando ela chegou com o material preparado para ele e explicou, a resposta foi muito positiva. Essa é a prova real de que quando usamos o material adequado, ele desperta o interesse e há o retorno.” A intenção, segundo ela é enraizar isso de todas as formas, já que, especialmente na educação, algumas barreiras ainda impedem a melhoria do atendimento às pessoas com autismo.

“Nós ainda temos um problema bem intenso sobre a aceitação e o entendimento sobre o autismo. Os casos vêm crescendo cada vez mais. Nos Estados Unidos, a cada 34 nascidos, um nasce com autismo. Como não é uma deficiência visível, gera muitos conflitos, muitos problemas. Tentamos minimizar essa situação aprovando leis. Temos algumas muito importantes em Juiz de Fora, no entanto, elas não são cumpridas”, avalia Ariene.

Leis ainda desconhecidas

Ela exemplifica as situações com duas normas: a que desobriga o uso da biometria facial nos ônibus e a inserção do símbolo do autismo em placas de prioridade. “Pouquíssimos estabelecimentos têm o símbolo do autismo. Já tivemos relato de trocadores que não aceitaram o que está na lei e obrigaram uma criança a olhar para a câmera no ônibus, e isso é muito difícil para eles. Há sempre muitos comentários negativos quando falamos de coisas que são muito importantes para nós. Ainda há muita gente que acha que queremos benefícios, e não é isso. Há coisas que são muito importantes para eles.” O tempo de espera, por exemplo, não é algo facilmente compreendido por todas as pessoas autistas. Em alguns casos, eles entram em crise, que não se encerra depois que a pessoa deixa aquele local.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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