Celebrando a liberdade de pensamento

Dentro de qualquer sociedade democrática, há diversos indivíduos que pensam de maneira diferente e que lutam pelos seus ideais, de acordo com seus princípios. Cada ser humano já nasce com a capacidade de refletir sobre determinado assunto. E para comemorar esse privilégio, neste sábado (14) foi celebrado o Dia da Liberdade de Pensamento.

Wôlmer Ezequiel

Ricardo Mégre ressalta que, nas mídias sociais, há uma exigência, cada vez maior, de que é preciso concordar com aquilo que o outro pensa

Em entrevista ao Diário do Aço, o psicólogo clínico Ricardo Mégre destaca que a convivência com o próximo ou com a diferença do outro tem sido cada vez mais complicada. E para que isso dê certo, as pessoas precisam saber que a liberdade delas termina onde começa a do outro. “Hoje nós temos quase que uma ditadura do politicamente correto. É como se as pessoas ficassem até envergonhadas ou culpadas de não acompanharem determinada corrente de pensamento. Nas mídias sociais podemos perceber indivíduos cobrando posicionamento ou quase exigindo. Parece que há uma exigência cada vez maior de que temos que concordar com aquilo que o outro pensa. Mas não é assim, eu posso discordar”, argumenta.

No entanto, para o psicólogo, essa liberdade de defender o pensamento, principalmente, nas redes sociais, tem gerado discussões em que as pessoas utilizam discursos sem fundamentos. “Hoje, todo mundo fala sobre tudo, de justiça, política, religião, dentre outros assuntos, sem se preocupar em basear-se em nada. Apenas no achismo mesmo. Dessa forma, o sujeito acha que pode discordar de tudo. E quando alguém não aceita seu argumento, ele fica até nervoso e começa a discutir. Vemos muito isso nas redes sociais”, resume.

Segundo o psicólogo, as pessoas pararam de respeitar aquele sujeito que possui autoridade em determinado assunto, como faziam antigamente, e passaram a enxergar as pessoas em sua volta como alguém que possui o mesmo nível de conhecimento. “Quanto mais tem essa igualdade, mais tem a rivalidade. Por exemplo, os filhos discutem mais entre si do que com os pais, porque enxergam a autoridade dos seus genitores, enquanto entre os irmãos existe uma igualdade. Então, nas redes sociais, ocorre isso. As pessoas acabam se igualando nesse espaço, onde todo mundo tem o direito de publicar e comentar o que pensa, o que gera o discurso de ódio”, salienta.

Arquivo pessoal

Para Joice Mendes, a liberdade de pensamento é fundamental para o funcionamento de uma sociedade democrática

Dentro desse contexto de liberdade, Ricardo Mégre aponta que surgem também os grupos de minorias, baseados em suas diferenças, que exigem seus direitos e respeito. “É claro que temos que respeitar, mas também tem que ter um certo limite para isso, porque eu não posso ser obrigado a gostar e aceitar certas coisas. Cada um faz o que bem entende, desde que respeite o outro”, enfatiza.

Democracia
Já para a jornalista Joice Mendes, a liberdade de pensamento é imprescindível em uma sociedade democrática, principalmente na imprensa, porque toda vez que os jornalistas são impedidos de adotar algum posicionamento, isso prejudica a liberdade de pensamento e de expressão. “A imprensa é a voz de muitas pessoas que não são ouvidas. E toda vez que o profissional da imprensa não consegue, por alguma razão, colocar seu pensamento em um texto ou se expressar sobre questões políticas ou qualquer tipo de assunto, isso compromete o funcionamento de uma democracia, da liberdade de pensamento”, destaca.

Direito fundamental
De acordo com o advogado e presidente da seccional de Ipatinga da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eduardo Figueredo, a liberdade de pensamento é um direito fundamental, previsto no artigo 5º da Constituição Federal. Entretanto, o operador do Direito explicou que a pessoa é livre para pensar o que quiser, mas a partir do momento que ela expressar seus pensamentos, seja de forma escrita ou falada, já passa a existir limites, que são impostos pela lei, como forma de resguardar a imagem e a honra de terceiros. “Então a liberdade de pensamento é livre, mas ao expressá-la, já não se tem essa liberdade. Ou seja, a expressão da pessoa não pode atingir o direito do outro, sob pena de responder civilmente por ações de danos morais e materiais e também criminalmente pelos crimes de injúria, difamação e calúnia”, cita.

Tiago Araújo

O advogado Eduardo Figueredo destaca que é preciso tomar cuidado ao expressar o pensamento, de forma que não prejudique a honra e imagem do outro

O advogado também acrescenta que, atualmente, os tribunais estão cheios de ações de reparação de danos morais e materiais em função de crime de injúria, difamação ou calúnia. Segundo ele, as redes sociais permitem, de forma democrática, a participação de todos. E com isso, pode-se notar que muitas pessoas cometem vários tipos de crime ao expressar seu sentimento, de forma exagerada, sobre um determinado assunto. E muitas vezes, ela nem tem conhecimento sobre a gravidade disso. “Então é necessário melhorar o monitoramento, para que não vire uma terra sem lei, onde as pessoas postam e falam o que querem. As pessoas têm o direito de expressar seu pensamento, sim, principalmente nas redes sociais, desde que isso não prejudique a honra e imagem do outro”, pontua.
      
Repórter: Tiago Araújo


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