De jaqueta do exército, na ditadura, cobrindo assembleia de professores

Elvira Nascimento

O jornalista José Célio, durante entrevista com o cacique Baiara, da aldeia Jerú Tucunã Pataxó, no Parque Estadual do Rio Corrente, em Açucena

Pouquíssimos sabem, mas a primeira sede/oficina/redação do Diário do Aço ficava na avenida Magalhães Pinto, esquina com rua Salinas, na Baixada do Melo Viana. No local, hoje, funciona uma farmácia. Fui levado por um velho amigo de “roquenrol”, José Eduardo Azevedo, de saudosa memória. Era meu segundo contato com a imprensa, se é que se pode contar que, na infância, vendi exemplares de O Vale do Aço, semanário que circulava no fim dos 1960 em Coronel Fabriciano. Foi também a primeira vez que senti o cheiro das tintas e o barulho das velhas linotipos de chumbo, experiência que ficou perdida na memória.

No fim de janeiro de fevereiro de 1979, o Zé Eduardo me convenceu a trabalhar num jornal que recentemente tinha começado a circular na cidade. Eu acabara de chegar de uma longa viagem, de mochila nas costas, pelo sul do país. Talvez por estar morando muito próximo do futuro emprego, topei a parada. De cara, não conheci os grandes Parajara dos Santos e Marcondes Tedesco, os fundadores do jornal, que até aquele momento ainda residiam em Governador Valadares e, ao que parece, não acreditavam muito na aventura.

Na verdade, fui aceito pela diretora de redação – e revisora – Manoelita Lustosa, que dispensa comentários e maiores detalhes. Tinha um redator de esportes – que onde estiver peço mil perdões por não lembrar seu nome; o Zé Eduardo, redator de notícias internacionais e nacionais (colhidas via recortes dos grandes jornais) e regionais. Comecei como redator de polícia, isso é, transformava em texto jornalístico a transcrição dos boletins de ocorrências copiados nas delegacias pelos repórteres.

Minha primeira cobertura jornalística é impagável. Fui pautado para cobrir uma assembleia de professores. Estávamos em plena ditadura e, por via das dúvidas, os manifestantes estavam reunidos no interior da igreja católica, no Centro de Ipatinga. Eu era o único repórter no local e todos me olhando de rabo de olho. Depois é que a “ficha caiu”. Era uma tarde fria e chuvosa e eu vestindo uma jaqueta… verde-oliva do Exército, adquirida no “mercado paralelo”. Pra lá de desconfiados, mesmo assim, os líderes do movimento grevista me concederam entrevistas.

Nos anos 1980, tínhamos quase que, literalmente, correr atrás das fontes e notícias – de ônibus. Muitas vezes saíamos de Timóteo às pressas, após entrevistas na prefeitura ou reuniões na câmara, locais de acidentes e outros fatos noticiáveis, fazíamos uma verdadeira viagem, chegávamos à redação tarde e escrevíamos a matéria. Noventa e nove por cento transpirados, um por cento inspirados. Nos anos 1990, somente, é que a locomoção para as coberturas passou a ser feitas exclusivamente em veículos próprios da empresa. Outro luxo: acompanhado de repórter-fotográfico. (*Jornalista)

Nas páginas do impresso, a poesia do cotidiano

Sílvia Miranda*

Para Silvia, é importante a construção de perspectivas de esperança em meio ao caos

Viver o jornalismo diário é ter a missão de um poeta, que busca sua inspiração em cada canto que vê, em cada chão que pisa ou em cada pessoa que conhece. E mesmo naqueles dias sem versos felizes, tenta, a partir do fato, construir perspectivas de esperança, de sonhos transformados e de soluções a serem buscadas. Porém, nem tudo depende do poeta repórter.

É como naquela Velha Ponte interditada por sua precária estrutura, situação a princípio denunciada por um atento leitor. Chegamos a acreditar que uma simples matéria bastaria para restabelecer essa ligação entre os municípios de Timóteo e Coronel Fabriciano com segurança. De repente, seis anos se passaram e nada se fez.

O jornalismo também me fez sonhar com a poética da preservação histórica de construções e edifícios, peças importantes para contar a origem de culturas e comunidades. No entanto, muitas vezes nos deparamos com líderes alimentados com ideias de demolição do passado, para substituição de símbolos e templos vazios de valores. Por pouco, a pequena igreja de São José Operário foi salva e ainda sobrevive ao centro da graciosa cidade.

Por outro lado, às vezes, o passado, mesmo com suas construções ainda de pé, padece e agoniza com o extremo abandono, com seus anos de glória relegados ao descaso e quase esquecimento. Dava para sentir os ruídos de socorro quando andei pelas ruínas daquele antigo clube (Choupana, em Timóteo), um dia símbolo de beleza e referência social. Há muito, um amontoado de lixo e focos de mosquito.

Experimentar todos esses sentimentos entre perdas humanas, promessas políticas não cumpridas, sonhos levados pelas enchentes, intermináveis esperas por sentenças judiciais, me fez ainda mais forte e mais convicta pela importância do Jornalismo. Um veículo como o Diário do Aço sempre será essencial para revelar outras tantas poesias da notícia, ainda sufocadas, seja pelo descaso social ou pela corrupção do mundo.
(*Jornalista)

Bertozi: a informatização não substituiu a necessidade de gastar a sola do sapato

“Foram anos de trabalho árduo na busca por boas pautas”

Roberto Bertozi*

O Diário do Aço sempre teve como política a formação prática e humana de diversos repórteres, e como aluno da primeira turma de Jornalismo do Unileste não haveria melhor local no Vale do Aço para iniciar minha carreira e aplicar toda a teoria que começara a receber na faculdade. O início de minha carreira, no DA, foi em 2002, na condição de estagiário, após uma prova de seleção elaborada pela chefia editorial do jornal. Era um período em que os estagiários já atuavam, de fato, como jornalistas. Não havia tempo para muita orientação nem pessoal suficiente para atuar à frente das editorias e, com os também estagiários da época e hoje jornalistas, Roberto Sôlha e Carla Barros, ajudávamos o jornal a “andar”, exceto na editoria de Polícia, que era de responsabilidade do Rodrigo Neto.

Foram anos de trabalho árduo na busca por boas pautas, de cobertura nas ruas, de aprendizado, boas amizades e de lapidação do jornalismo, no meu caso em particular, com ensinamentos do mestre João Senna, e do amigo e um dos grandes revisores de texto que tive a satisfação de ter por perto, jornalista Custódio Ribeiro.

Ao longo de quase 10 anos na redação (foram duas passagens – 2002 a 2005 e 2006 a 2010) passei pelas editorias de Esportes e Cidades, e foi falando de futebol amador, coberturas de esportes especializados e do Ipatinga Futebol Clube – especialmente na série A do Brasileiro – que acredito terem sido os meus principais momentos como repórter.

Foram diversas entrevistas e contato com o povo, trazendo à tona as histórias de muita gente que ajudou e ajuda a construir a história do Vale do Aço. Na editoria de Cidades, já na minha segunda passagem pelo jornal, fiquei responsável, por quase três anos, pela cobertura mais setorizada em Coronel Fabriciano, onde peguei diversas “crises sociais”, como construção do emblemático Parque Linear, as pitorescas discussões em torno da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que nunca saiu, as dificuldades financeiras, o fechamento no antigo Hospital Siderúrgica e a reabertura dele mais tarde como Hospital São Camilo, entre outras.

Foram grandes momentos, em que pouco se fazia pela internet. O velho jargão de que jornalista tem de gastar sola de sapato e ouvir pessoas para colher uma boa história, de fato, fez-se valer. Por mim e por meus colegas da época. Éramos ávidos por boas notícias, andávamos onde estavam as pessoas, e sempre conseguíamos boas pautas. Fica aqui a saudade de ótimos tempos e a felicidade de ter feito parte desses 40 anos de jornalismo. Parabéns, Diário do Aço. (* Jornalista e Especialista em Gestão Estratégica e Comunicação)

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