Histórias para uma lobinha

Todos os dias, a fêmea de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), Lobinha, recebe uma visita muito especial no Centro de Biodiversidade da Usipa(Cebus), onde se recupera: Wellerson Martins Souza, Vinícius Schuchter e Filipe Augusto de Souza Bersot, alunos dos cursos de Ciências Biológicas e Medicina Veterinária do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste), entram no recinto onde a loba vive e lêem para ela. Lobinha ouve clássicos da literatura brasileira, conteúdo técnico e até mesmo os pontos de vista dos estudantes em monólogos informais.

A curiosa cena do jovem assentado numa cadeira, no mesmo recinto da loba, lendo ou conversando com o animal, faz parte do projeto “Condicionamento operante de uma fêmea de lobo-guará em cativeiro como subsídios para o aprimoramento do manejo”, promovido a partir de uma parceria entre o Centro de Biodiversidade da Usipa (Cebus) e o Unileste. O objetivo da ação é reduzir o estresse do animal durante o manejo em cativeiro nos momentos de medicação, alimentação e limpeza do ambiente.

“É um trabalho semelhante ao adestramento de animais domésticos, que são recompensados com o que mais gostam quando repetem o comportamento esperado, como sentar, deitar ou dar a pata. No caso do animal silvestre em cativeiro, ele aprende a abrir a boca para exame dos dentes, a entrar na gaiola para receber medicação e é recompensado com o que mais gosta: petiscos, carinho ou conversa no recinto”, detalha a bióloga do Cebus, Cláudia Diniz.

Fases do trabalho

Atualmente, Lobinha está passando pela fase de ambientação do projeto. “Neste período, as leituras têm como objetivo fazer com que a Lobinha se acostume à presença e à voz dos alunos e tratadores no recinto. À medida que o condicionamento evoluir, Lobinha será treinada para lidar com o bastão (tocar o focinho e o dorso no bastão), com o cambão (peça de madeira com um tira de couro para a contenção animal pelo pescoço) e para entrar na gaiola”, explica Cláudia.

Wellerson Martins Souza, aluno do 7º período do curso de Ciências Biológicas, acrescenta que, durante os primeiros minutos do período de leitura, ele sempre bate papo com um dos tratadores do Cebus. “Nosso trabalho também consiste em treinar a equipe do Cebus para fazer o condicionamento, já que são eles que cuidam dos animais. Normalmente, quando entramos no recinto, a Lobinha faz caminhadas num mesmo trajeto. Depois, ela se acalma e até deita para nos ouvir”, relata.

O estudante de Medicina Veterinária, Henrique Schuchter, ressalta que esse condicionamento é fundamental para a vida do animal silvestre em cativeiro. “O estresse em animais silvestres pode levá-los ao óbito. Por isso é tão importante trabalhar o condicionamento com reforço positivo desses animais”.

Marcele Pena

A curiosa cena do jovem assentado numa cadeira, no mesmo recinto da loba, lendo ou conversando com o animal, faz parte do projeto “Condicionamento operante de uma fêmea de lobo-guará em cativeiro como subsídios para o aprimoramento do manejo”

História da Lobinha

Lobinha nasceu em 17 de agosto de 2008, no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da Universidade Federal de Viçosa (MG). Em Viçosa, ela passou por um período de condicionamento e era premiada com petiscos, a recompensa favorita dela. Após mudanças na designação do Cetas, Lobinha foi transferida para o Cebus, onde recebe cuidados e atenção possíveis. O processo completo de condicionamento da Lobinha deve ser concluído em fevereiro de 2019.


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