' O mais importante é querer se livrar do vício '

Divulgação

Sede da fazenda da AAMAR em Itamarandiba: sobrevivendo com doações de empresários e da comunidade.

William Trevizani*

Imagine um lugar acolhedor, onde tudo está organizado, limpo, em ordem e harmonia: a Natureza, as acomodações para os internos, as atividades de labor, lazer e espiritualidade e, principalmente, os homens que ali se encontram. Quando se chega à sede da Associação Amar e Renascer (AAMAR) – na cidade de Itamarandiba, no Norte de Minas Gerais, essa é a sensação que se tem.

Ali, não há revolta, não há maus tratos e o amor ao indivíduo, à família e a Deus é o que impera. Uma imagem bem diferente do que estamos acostumados a imaginar quando o assunto é recuperação de dependência química e alcoolismo. A entidade prepara a começo do atendimento em uma unidade também no Vale do Aço. A apresentação será no próximo fim de semana, em Santana do Paraíso.

Fundada pelo empresário Gilberto Fernandes de Araújo, a AAMAR teve como motivação para sua origem um caso crônico de alcoolismo em família. “Eu via o sofrimento da minha tia chorando pelo filho com convulsão alcoólica e me sensibilizei com aquilo. Perguntei para ele: ‘Você quer sair desta vida? Quer mesmo?’ Quando ele disse ‘sim’ procurei uma clínica em Ipatinga e o internei, pois ver o sofrimento de uma mãe tocou meu coração”, relata Araújo.

Passados 10 anos Gilberto resolveu criar uma clínica em Itamarandiba e em 2005 fundou a AAMAR. O trabalho cresceu e, em 2009, a entidade recebeu a doação de um terreno da Aperam Bionergia, com apoio da Fundação Acesita, para a instalação da comunidade terapêutica naquela região. Desde então, já foram recuperadas mais de 400 pessoas, com um índice de mais de 88% de pessoas que permaneceram sem recaída, número considerado elevado, em termos de Brasil, explicam os coordenadores.

A entidade tem entre seus internos, pessoas dos mais variados lugares do Brasil (Fortaleza, Pedra Azul, Governador Valadares, Betim, Taubaté, Diamantina, Brasília, entre outras) e até do exterior (República Dominicana).

Família e religião

Reunião da família: momento de reflexão e conexão com o parente internado

Embora a AAMAR só receba, por enquanto, homens para internamento, outros membros da família, que também são dependentes químicos e alcoólatras, acabam se recuperando por meio das palestras das quais participam na preparação para receber os entes queridos. Segundo o fundador da AAMAR, “a recuperação de uma pessoa provoca a transformação em todos os pares. A cada pessoa recuperada pelo menos 10 pessoas na família também decidem mudar a própria vida e os hábitos de consumo de álcool e drogas”.

Os coordenadores da AAMAR dedicam um tratamento especial às famílias, que participam de uma série de reuniões até receber de volta o parente recuperado.

Além do trabalho manual, na horta que sustenta a cozinha da AAMAR, outro aspecto valorizado para auxiliar o fortalecimento do interno é o acompanhamento espiritual e todas as religiões são bem vindas na AAMAR. “Mas, não tem doutrinação e sim um importante apoio espiritual”, esclarece Araújo. “Tem o dia do pastor, do padre, do espírita, que tratam do tema da semana como fé, superação, caridade, amor. É uma força só movimentando a família AAMAR”, pontua.

Vale do Aço

Gilberto: "Os internos da AAMAR renovam a fé, a esperança e o amor e a família precisa estar pronta para recebê-lo. Esse é o grande diferencial em nosso tratamento"

No próximo sábado (19) às 15h, no Espaço Santana, ao lado da praça de Santana do Paraíso, será oficialmente apresentada à comunidade os trabalhos que a entidade realiza e o que pretende fazer no Vale do Aço. A sede da AAMAR na cidade será em terreno de 15 mil metros quadrados, doado por Rita Alvarez e família, uma área que tem um prédio e uma cachoeira, bem no centro de Santana do Paraíso. A entidade já conta com a ajuda do padre William, da paróquia local, do empresário Antônio Eugênio Fernandes, de Coronel Fabriciano, além de membros ligados ao Rotary Club, à Associação Amigos da Natureza e à União do Vegetal, entre outras.

Gilberto Araújo afirma que espera vencer as dificuldades na manutenção da estrutura para acolher os dependentes. “O mais importante é querer se livrar do vício. Em 12 anos e meio de funcionamento até hoje não voltou uma pessoa por falta de dinheiro. Contribui quem pode, com um salário mínimo”.

Custo

Para atender aos cerca de 40 internos a um custo mensal de cerca de R$ 25 mil, a AAMAR de Itamarandiba, por exemplo, vive de doações, que podem ser feitas no site da entidade

Para o presidente da AAMAR Vale do Aço, o professor Sérgio Taniguchi, conhecer de perto o trabalho que é desenvolvido em Itamarandiba o sensibilizou a auxiliar e contribuir. “Atualmente é comum encontrar pessoas que sofrem com a dependência química de álcool e drogas em todas as classes sociais e em todas as religiões. Além do sofrimento causado às famílias, uma grave consequência é o aumento da criminalidade no país. Felizmente vemos pessoas de bem dentro da sociedade que voluntariamente têm se organizado para auxiliar as famílias a resgatar vidas, devolvendo a dignidade a essas pessoas”, afirma.

Neste sentido, Taniguchi acredita numa soma de esforços e conta com o apoio de empresários, poder público, entidades religiosas, Polícia Militar e entidades organizadas da sociedade civil. Para melhor conhecer o trabalho desenvolvido pela AAMAR,um vídeo foi produzido voluntariamente pela empresa Caturra Digital, de Belo Horizonte: .

William Trevizani é voluntário AAMAR.


Encontrou um erro? Comunique: [email protected]

Pesquisar