Rádio digital: o veículo não deve parar de avançar

Sem o digital, emissoras podem perder um de seus principais patrimônios: a outorga do canal


O rádio é o único veículo de comunicação que permite a realização de diversas atividades ao mesmo tempo que o escuta. Por este motivo, Rogério Correa, engenheiro e sócio-diretor da Teletronix, acredita que o veículo nunca deixará de existir.

Apesar de o rádio ter características singulares e ser um dos veículos de comunicação mais antigos, sua evolução ocorre mais lentamente que a de outros meios, como a TV por exemplo. No Brasil, conforme anunciado na última semana, a TV chegou à tecnologia 8K. Já, a mais recente mudança que ocorreu no rádio, foi a migração AM/FM.

Segundo Correa, hoje o rádio tem dois patrimônios: a marca e a outorga do canal. Ele explica que se a mudança para tecnologia digital não ocorrer, todos acabarão ouvindo rádio apenas por aplicativos da internet. Desta forma, “o canal analógico perde o sentido de existir e o radiodifusor perderá este patrimônio que é a outorga do canal, ficando somente com a marca e concorrentes do mundo todo, pois todas as rádios estarão na internet e qualquer um poderá criar a sua nela”, explica.

Engenheiro e sócio-diretor da Teletronix, Rogério Correa. Foto: reprodução

O engenheiro ainda ressalta que o rádio conectado à internet é capaz de alcançar no máximo dez milhões de ouvintes ao mesmo tempo, devido à limitação dos servidores, porém a evolução tecnológica explode exponencialmente. “Mais cedo ou mais tarde o rádio conectado à internet poderá chegar a um número muito grande de receptores ao mesmo tempo com atraso desconsideráveis”. O que, por consequência, traria ameaça a modulação analógica e a perda da outorga, já que todos ouvirão rádio pela internet conectada e não mais pelo canal Broadcast. Sendo assim, Correa afirma que a digitalização do rádio tem que ocorrer logo, principalmente para “melhorar a qualidade de áudio e possibilitar a multiprogramação”.

Para o rádio migrar para o digital, o engenheiro explica que é necessário escolher um padrão de Integração Broadcast Broadband (IBB), ou seja, um modelo que possa ser integrado à internet. “No início, o rádio digital no Smart Fone recebendo o sinal do transmissor sincronizado e integrado à internet presente nele. No futuro, com a evolução do padrão, o sinal da rádio chegando ao Smart fone como a operadora chega hoje. Ou seja, a rádio no futuro será uma servidora de dados Broadcast para os receptores com o canal de 200khz. Hoje 200khz pode ser pouco, mas no futuro não será”. Correia também acredita que futuramente sejam necessárias algumas mudanças na legislação, mas que atualmente é importante que o canal e a outorga sejam preservados por meio da evolução tecnológica para o digital integrado à internet.

Defesa do Digital

Em agosto de 2006, o ex-presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) José Inácio Pizani criou uma aliança em defesa do rádio digital. Correa participou ativamente do projeto que acabou não indo adiante “devido à falta de vontade política dos governos anteriores, que não destinaram recursos suficientes (pessoais e econômicos) para todos os testes necessários para uma conclusão definitiva sobre os padrões existentes na época”.

O engenheiro ainda ressalta a importância de os radiodifusores do Brasil se unirem pela digitalização, como se uniram pela migração, visto que é o patrimônio das outorgas que está em jogo. “No Rio de Janeiro já devolveram outorgas analógicas de AM’s históricas, talvez se o rádio AM já tivesse sido digitalizado, isto não teria ocorrido.”

Diretor Geral da Abert, Cristiano Flores. Foto: reprodução

O diretor geral da Abert, Cristiano Flores, salientou que o rádio é eficiente quando se trata de se reformular e de se manter expressivo, por este motivo, outros avanços tecnológicos devem ser feitos. “O rádio tem uma capacidade impressionante de se reinventar e de manter a sua relevância junto à sociedade, especialmente como fonte segura de informação e de opinião. Importante, por isso, as discussões tecnológicas para que o meio siga presente no dia a dia do ouvinte, com capilaridade e qualidade de sinal. Nesse sentido, entendemos vital que a política pública em andamento de migração do AM para o FM seja concluída com celeridade e, com isto, avancemos nas demais discussões tecnológicas, inclusive sobre a viabilidade de digitalização do rádio.”

 

Rádio Digital no Brasil

A Associação Brasileira do Rádio Digital (ABRADIG) foi inaugurada, em junho de 2016, para promover a implantação do rádio digital no Brasil. A entidade é formada por um time de pesquisadores e engenheiros com amplo conhecimento sobre o rádio digital e suas implicações econômicas e sociais.

Rafael Diniz, da ABRADIG, enfatiza que o rádio digital pode ser implantado de diversas maneiras, porém o primeiro passo a ser tomado é a definição do modelo de referência a ser utilizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Após a definição do governo, a implantação poderá ser feita de maneira gradativa, como foi feito no passado com a televisão digital, para que radiodifusores e ouvintes tenham tempo para trocarem seus equipamentos. Uma diferença da televisão, é que o rádio utiliza distintas bandas de frequência e distintas canalizações, permitindo que a implantação do rádio digital feita de forma específica para cada banda, que atualmente são OM, OT, OC e VHF (FM)”.

Assim, como na TV digital, o rádio digital possui diferentes padrões. Segundo Rafael, vários países estão em processo de digitalização com êxito, como Índia (padrão Digital Radio Mondiale – DRM), Rússia (DRM), China (CDR), Noruega (DAB) e Estados Unidos (IBOC). “Empresas brasileiras como a BT Transmitters e Teletronix já estão preparadas para fornecer transmissores para o rádio digital, por exemplo”, explica Diniz.

Ainda, de acordo com Rafael, é possível desenvolver um padrão de rádio digital brasileiro que seja híbrido com o sinal analógico por um período. “O sistema DRM, Digital Radio Mondiale, único em consideração pelo país, pois é o único que atende todas as bandas de radiodifusão utilizadas pelo país, Ondas Médias, Ondas Tropicais, Ondas Curtas e VHF, com a adição do middleware Ginga perfil D, desenvolvido no Brasil pela PUC-Rio e o Forum do SBTVD, será o padrão de rádio digital brasileiro integrado com a Internet (Integrated Broadcast/Broadband) e que permitirá a presença do sinal analógico (AM ou FM) por um período de transição. O sinal digital pode funcionar de forma simultânea ao sistema analógico existente pelo tempo necessário para a sua implantação”.

 

Por: Patrícia Marques

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar