Casos de suicídio ainda preocupam em Patos de Minas; saiba como ajudar ou pedir ajuda

Os casos de suicídio, em Patos de Minas, ainda são motivo de preocupação. No Brasil, são mais de 11 mil casos anualmente, e muitas dúvidas surgem, como por exemplo, o que fazer nessas situações. No entanto, há como ajudar aqueles que atravessam momentos de sofrimento. Especialistas alertam que é importante tratar o problema como uma questão de saúde pública. É equivocado simplificar os casos ou atribuir uma única causa. Cada indivíduo reage de forma diferente aos fatores complexos da própria história. Buscar informação é o caminho.

Embora os jovens formem um dos principais grupos vulneráveis, segundo o dr. Mauro Aranha, psiquiatra e coordenador do departamento jurídico do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), é entre os idosos que ocorre o maior número de suicídios. “O risco é ainda maior entre aqueles que têm doenças crônicas, incapacitantes ou intratáveis e que, por conta da idade, perdem amigos e companheiros de vida”, explica.

Fatores de risco

Conforme informações da cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, produzida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), existem dois fatores de risco principais para o suicídio:

Tentativa prévia: pessoas que já tentaram tirar a própria vida têm de cinco a seis vezes mais risco de tentar outra vez. Estima-se que metade daqueles que se suicidaram já tinham tentado antes.

Doença mental: quase todos os indivíduos que se mataram tinham algum transtorno mental, em muitos casos não diagnosticados, não tratados ou não tratados de forma adequada. Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja: quanto mais diagnósticos, maior é a vulnerabilidade. Existem ainda fatores desencadeantes, como desesperança, impulsividade, isolamento social e falta de um sentido na vida.

Fique atento aos sinais!

De acordo com o dr. Mauro, na grande maioria dos casos é possível identificar uma progressão que conduz uma pessoa desde a ideação (o pensar no ato) até a efetivação do suicídio: em um primeiro momento, não existe a ideia de se matar, mas sim um pensamento vago de que seria melhor morrer; depois, vem a ideação (o pensamento de se matar para aliviar seu sofrimento), seguida de pesquisas sobre como fazer isso; em muitos casos, a pessoa informa seus entes próximos e, por fim, executa o ato.

Ele afirma que é possível interromper esse processo com orientações e tratamento médico e psicológico. Os familiares podem e devem falar sobre o assunto e tentar avaliar em que momento o paciente pode estar. “Perguntar sobre o desejo de morrer não é indutor de suicídio. Muito pelo contrário, pois quando você dá oportunidade para a pessoa falar, ela conta com uma referência de acolhimento e auxílio que não tinha antes”, conclui o médico.

Os sinais de alerta incluem: falar sobre o suicídio (ou frases relacionadas, como “eu gostaria de estar morto” ou “eu não queria ter nascido”); ausência ou abandono de planos futuros; isolar-se de contato social; apresentar grandes mudanças de humor (estar eufórico em um dia e profundamente desencorajado em outro); ter atitudes arriscadas, como dirigir de forma imprudente ou entrar em brigas; e dizer adeus aos amigos e familiares como se não fosse vê-las novamente. “Os sinais nem sempre são óbvios e podem variar. Não representam o diagnóstico em si, podendo nem estar presentes ou estar presentes e não indicarem necessariamente risco de suicídio. Mas como são comumente associados ao perfil, vale a pena observá-los. Alguns deixam suas intenções claras, enquanto outros mantêm os pensamentos suicidas e sentimentos ocultos”, revela o dr. Claudio Duarte, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, em São Paulo.

Cuidado com julgamentos

O diálogo e a transparência são elementos fundamentais na prevenção. Ao falar com alguém que demonstra ideação suicida, devemos ter uma abordagem acolhedora e sem nenhum tipo de preconceito. É preciso ter interesse pleno em ajudá-la e fazer as perguntas que vão dimensionar em que fase do processo ela está. “O desejo de se matar precisa deixar de ser tabu para ser sintoma de um sofrimento psíquico que, aliviado, impede o suicídio”, afirma o dr. Mauro.

O dr. Cláudio acrescenta que, quando alguém nos procura para conversar sobre suas emoções, é importante nos mostrarmos disponíveis e não adiar ou arrumar desculpas para evitar o assunto, pois isso passa a ideia de que não nos preocupamos de verdade. Outra reação que deve ser evitada é o uso de expressões que diminuem o que ela sente, como “isso não é nada”, “tem gente em situação muito pior” ou que a façam se sentir ainda mais culpada, como “não avisei que isso ia acontecer?” ou “foi você que procurou isso”. Esse é um momento em que o paciente precisa de acolhimento, e não de repreensão. “Na realidade, será preciso muito mais do que uma única conversa. Você tem que mostrar que a pessoa pode contar com você para desabafar. Por isso, estabeleça o diálogo em locais fechados, de preferência em um ambiente confortável”, recomenda o médico.

Para a voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) Eliane Soares, a importância do diálogo para alguém que está passando por um sofrimento profundo é enorme, pois falar abertamente sobre seus sentimentos ajuda a aliviar as pressões internas. “Às vezes, não é suficiente para resolver o problema em longo prazo, mas dá mais tempo e permite que a pessoa reorganize suas ideias e emoções”, opina.

O CVV é um serviço de apoio emocional gratuito e realizado por voluntários via telefone, chat ou e-mail. Em 2017, foram cerca de 2 milhões de atendimentos. O modelo é sigiloso e não diretivo, ou seja, não há aconselhamento ou julgamento. “O tempo de atendimento varia muito e não há limites formais. Tem gente, por exemplo, que liga só para dar e receber um ‘boa-noite’, enquanto outros ficam por mais de uma hora conversando”, conta Eliane.

Texto: Dr. Drauzio Varella.

Por Clube Notícia – Patos de Minas

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