Cruzeiro 100 anos: Muitas Glórias Imortais e momento atual de reflexão.

São dezenas de taças e conquistas. Símbolos de um sonho que começou com a comunidade italiana de Belo Horizonte e tocou o coração de milhões de torcedores. Um amor que chega aos 100 anos com muita história pra contar. A paixão pelo agora centenário Cruzeiro Esporte Clube.

Para o clube, nascido como Societá Sportiva Palestra Itália em 2 de janeiro de 1921, o primeiro título é o campeonato de 1926, conquista não reconhecida pela Federação Mineira de Futebol como um estadual, já que foi obtida por uma liga paralela à instituição que vinha organizando o Campeonato da Cidade, à época. O primeiro Mineiro (oficial) veio em 1928.

Mas um jornal que circulava na comunidade italiana, em Belo Horizonte, na época, reescreve um pouco da história das conquistas do Cruzeiro. E por meio da chamada “segunda esquadra” ou segundo time, como cita um trecho do jornal Araldo Italiano, em edição de 1922.

“A segunda equipe é uma verdadeira potência. Em 1922, (o Palestra) conseguiu vencer brilhantemente o campeonato de segundos quadros. Tirando do forte América o título de campeão, que foi do adversário nos seis anos anteriores. Esse resultado faz prever um futuro glorioso às duas esquadras do Palestra Itália” – apontava trecho da matéria.

“Esses italianos vieram com uma série de estereótipos, de preconceitos. Embora, com o processo da abolição da escravatura, e eles precisavam de trabalhadores, os italianos não eram a etnia mais desejada. A colônia italiana começa a apoiar, e eles se sentem meio que na obrigação de treinar mais para conseguir ganhar os campeonatos e, com isso, se tornarem mais aceitos e terem esse sentimento de pertencimento” – relembra Rodrigo Moura.

Cem anos depois daqueles primeiros passos, o sentimento é outro.

“Se você pegar os livros de história e folhear, vai começar a se emocionar porque você vai ver a história de nascimento de um clube feito pelos imigrantes italianos que chega a 100 anos como um dos grandes vencedores do futebol brasileiro e sul-americano” – comenta o ex-meia Alex, um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro e maestro do time campeão da Tríplice Coroa de 2003.

Futuro do Cruzeiro foi moldado pela Segunda Guerra Mundial. Em 1942, o Brasil rompeu relações com países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Um decreto do governo federal proibiu o uso de termos que fizessem referência a esses países. O Palestra Itália passou a se chamar Cruzeiro Esporte Clube.

“É um título de segunda esquadra. Não deixa de ser um título do Palestra, mas não da equipe principal do Palestra, né? Era um segundo time, que era muito comum na época, essas competições dos segundos times” – explica Rodrigo Moura, doutor em história do esporte pela UFRJ.

A primeira casa do Palestra Itália saiu dois anos depois da fundação. Era inaugurado o estadinho, no bairro Barro Preto, hoje o parque esportivo do clube, no coração de Belo Horizonte. Arquibancadas eram de madeira, com capacidade para 600 pessoas. Uma vitória, naquele momento, para um grupo que passava por dificuldades.

As cinco estrelas logo seriam reconhecidas em todo o Brasil. O futuro médico Eduardo Gonçalves de Andrade era um dos jovens talentos do Cruzeiro na decisão da Taça Brasil de 1966.

“O Brasil inteiro queria ver quem era o Cruzeiro” – relembra Dirceu Lopes, outro ídolo da história celeste e integrante daquele time.

Time que goleou, na final daquele torneio, o Santos de Pelé, no Mineirão, por 6 a 2, no primeiro jogo. No segundo, o Santos abriu 2 a 0 no primeiro tempo, mas não esperava a virada do Cruzeiro na segunda etapa. Uma conquista histórica e inesquecível.

“Lembro que, na comemoração no vestiário, um fotógrafo colocou uma coroa de papel em minha cabeça e bateu uma foto. No outro dia estava na primeira página de um grande jornal com os dizeres: “O novo Rei”. Me senti um falsário. Um usurpador de trono. Lembro da chegada e da festa em Belo Horizonte. Inesquecível. O Cruzeiro passava a ser um time do Brasil e do mundo. A lembrança é o elo entre o passado e o presente. Entre o corpo e a alma” – relembra Tostão.

Foi o primeiro de quatro títulos brasileiros.

“A gente ouvia que o Cruzeiro tinha chegado a finais e não tinha ganho, 66 ainda não tinha sido reconhecido, então nosso trabalho era todo voltado pra ser campeão brasileiro” – relembra Alex sobre 2003, um ano mágico.

Além do Campeonato Brasileiro, o clube também conquistou o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil naquela temporada. Tríplice Coroa que só o Cruzeiro, no Brasil, conquistou. As estrelas amarelas também decoraram os títulos de 2013 e 2014.

“Nunca imaginei que eu poderia alcançar uma história vitoriosa, que se moldasse a uma história vitoriosa que o Cruzeiro já tinha” – relembra o goleiro Fábio, integrante das duas últimas conquistas.

História de glórias eternas. Nos anos setenta, filas eram comuns no Mineirão para ver o campeão da América.

“Eu não tinha consciência de tamanha irresponsabilidade, não. Até hoje eu não tenho, não, entendeu (risos)”? – relembra Joãozinho, que causou euforia à torcida cruzeirense com a cobrança de falta em 30 de julho de 1976, diante do River Plate, no estádio Nacional de Santiago.

Era a final da Libertadores. Era o gol do título do Cruzeiro.

“Eu já ia xingar o Joãozinho, mas aí eu vi a bola entrando e o juiz correndo para o meio. Aí todo mundo correu atrás dele para abraçá-lo” – conta Nelinho, que era o responsável pelas cobranças de falta daquele time.

Titulo inédito e saudade do atacante Roberto Batata, que morreu num acidente de carro na rodovia Fernão Dias dois meses antes da final.

“Nossa maior homenagem é dedicada àquele que também foi um dos maiores responsáveis por esse nosso sucesso… por essa nossa conquista tão importante e tão séria, que foi o nosso ex-colega Roberto Batata” – dizia o capitão Piazza, após o título.

Uma nova conquista veio 21 anos depois… De uma cobrança de escanteio de Nonato, rebote, e chute de Elivélton. Gol do Cruzeiro. Gol do bicampeonato da Libertadores.

“Na verdade eu não vi a bola entrando no gol. Saí correndo porque eu vi a explosão da torcida, né. Aquele jogo foi o jogo da minha vida” – relembra o meia daquele time.

Também inesquecível cada uma das seis conquistas do maior vencedor da Copa do Brasil. As taças de 1993, 1996, 2000, 2003, 2017 e 2018 tornaram o Cruzeiro como um dos times mais copeiros do Brasileiro.

Os dois últimos dos 100 anos não condiz com a história do clube. Rebaixado à Série A do Brasileiro e envolvido em irregularidades, sendo investigado pela Polícia Civil em 2019, o Cruzeiro não conseguiu voltar à Série A em 2020, tendo chances mínimas ainda. Uma dívida que chegou a estar em R$ 1 bilhão. Feridas que vão demorar a ser estancadas.

O nome certo desse amor. Um sentimento que não se rouba. Idealizado pela comunidade italiana. E que faz os corações de milhões de torcedores baterem mais forte.

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Postado originalmente por: Minas AM/FM

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