'Bacia do Rio Doce está na UTI', diz especialista

Alex Ferreira

Alessandro é geógrafo e especialista em gestão ambiental

Fernando Lopes

Nesta quinta-feira, 22 de março, é celebrado o Dia Mundial da Água. Para marcar a data, o geógrafo e especialista em gestão ambiental, Alessandro de Sá lança o livro “Atlas da Bacia do Rio Doce: entre a história e o meio ambiente”. O livro possui informações inéditas sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que abrange mais de 220 municípios mineiros e capixabas.

Alessandro destaca que o livro pode ser uma importante fonte de pesquisa para professores e estudantes, em diversas áreas do conhecimento. “Precisávamos aprofundar mais nas questões da bacia e seus diferentes aspectos, ambiental, hidrográfico, socioeconômico e histórico. Neste material, a abordagem é feita de modo a despertar o pensamento crítico e, para isso, apresentamos dados coletados de diversos órgãos”, informa o geógrafo.

Segundo o especialista, a bacia do rio Doce encontra-se em estado crítico e a poluição dos mananciais está presente desde a origem. “Mesmo antes do rompimento da barragem de Fundão (área da mineradora Samarco em Mariana), o rio Doce já estava na UTI. Após a catástrofe a situação piorou demais, o rio ficou praticamente morto, mas estamos vendo a vida retornar aos poucos. Porém, para esta recuperação, temos que tratar toda a bacia e não só o rio principal. Os cursos d’água que formam o rio Doce, como os rios Santo Antônio, Piranga, Piracicaba, Suaçuí Grande, Manhuaçu, estão poluídos desde as suas nascentes, devido ao uso inadequado do solo para a produção agropecuária, mineração e outras atividades industriais”, afirma.

Algumas exceções são citadas no livro, como é o caso do ribeirão Ipanema, em Ipatinga. Mesmo não sendo um curso com água potável, o curso d’água ficou livre de parte considerável do esgoto doméstico em Ipatinga e, de certa forma, desempenha um papel importante, pois chega menos poluído, ao rio Doce, onde deságua.

Já o rio Piracicaba, explica o autor, possui alta contaminação por metais pesados. Ele nasce na serra do Caraça e passa por região de mineração e de siderurgia até desaguar no rio Doce, em um local bem próximo da foz do ribeirão Ipanema, onde as águas se misturam. “Contudo, mais ações precisam ser feitas. Identificamos 567 nascentes no projeto Mapa da Mina, na bacia do Ipanema, das quais 45% necessitam de intervenção de proteção com urgência. A nossa cidade não é autossuficiente nos recursos hídricos, mas podemos ajudar muito a melhorar as condições do rio Piracicaba, do ribeirão Ipanema e, consequentemente, do rio Doce”, avalia Alessandro.

Para o especialista, a garantia de segurança hídrica da bacia do rio Doce depende da gestão de cada município, a partir dos pequenos mananciais. “Não tem como tratar o rio Doce, se eu não trato, por exemplo, o rio Piracicaba, nem o ribeirão Ipanema, nem as nascentes que formam este curso. Cada munícipio deve aplicar o planejamento de recursos hídricos. É preciso ter essa gestão, cada município deve identificar suas nascentes e o estado que elas se encontram, procurar recompor estas áreas de recarga, reflorestar a mata ciliar para fortalecer os córregos, ribeirões e rios”, aponta Alessandro.

O geógrafo destaca que mesmo em condições adversas, o rio Doce deve ser preservado por diferentes questões. “Hoje, o rio Doce ainda tem uma grande importância de abastecimento de centenas de milhares de habitantes e empresas da bacia. A cada dia que passa, temos que entender que o rio Doce é uma fonte de vida e que movimenta uma grande região”, conclui.

O livro “Atlas da Bacia do Rio Doce: entre a história e o meio ambiente”, produzido em parceria com a Gráfica e Editora Art Publish, está disponível nas principais livrarias da cidade. Palestras sobre a pesquisa também podem ser agendadas via telefone: 98606-1419.


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