Doutora em educação avalia políticas públicas e deixa mensagem

Wôlmer EzequielA professora Mônica Baptista avalia um retrocesso nas políticas voltadas para a Educação Bruna Lage – RepórterA professora Mônica Baptista, doutora em Educação, e que atua em temas relacionados às práticas pedagógicas de leitura e escrita junto a crianças de até seis anos, esteve em Ipatinga para uma roda de conversa promovida pela Superintendência Regional de Ensino, na semana que passou. Na oportunidade, ela concedeu entrevista ao Diário do Aço sobre temas diversos e relacionados à área educacional. Mônica veio ao Vale do Aço para discutir, dentre outros temas, o compromisso dos gestores de Educação com a implementação do currículo referência de Minas Gerais e o desenvolvimento da Linguagem na Educação Infantil. Ela conversou com a reportagem sobre assuntos variados, como os recursos pedagógicos disponíveis atualmente e o que é ofertado no ensino público. Em sua opinião, o Brasil está defasado, pois ainda existem discussões elementares, como a formação inicial dos professores para atuar com crianças.“Ainda é uma formação muito aquém do que seria necessário. Há escolas que nem sequer têm uma biblioteca. Temos uma lei nacional que aponta que toda escola deveria ter biblioteca até 2020, mas o ano chegou e nós ainda temos um grande percentual sem o espaço. Precisamos pensar nas tecnologias digitais, porque é um direito das crianças, é o perfil do homem e da mulher contemporâneos, e não apenas o acesso. As crianças têm acesso de uma forma ou de outra. Mas o problema é que a escola precisa tomar essas tecnologias como uma questão pedagógica”, avalia.A educadora destaca que as pessoas têm acesso, mas não sabem usar, fazem leitura de textos, mas não sabem se são verídicos ou não. “Somos vítimas das fake news porque, muito mais do que poder acessar a internet, é preciso saber onde navegar, o que perguntar e o que fazer com as respostas que ela nos dá. Como relacionar o que leio na internet com outras mídias e outras fontes? Isso é uma formação urgente que a escola precisa assegurar. Mas antes de chegar nisso, talvez a escola precise ter mais clareza de que cidadão ela quer formar. Nesse sentido, a base nacional e o currículo de referência são elementos importantes para gente construir essa resposta”, pontua. Políticas públicas e estruturaA professora acredita que o país estava caminhando, não na velocidade desejada, mas rumo àquilo que poderia ser classificado como utopia, numa denominação criada por Eduardo Galeano (jornalista e escritor). “A utopia está no horizonte, a gente caminha três passos e ela distancia quatro. Para que serve essa utopia? Para que a gente caminhe. Nós estávamos caminhando, não na velocidade necessária que o Brasil precisa, pois o déficit e a dívida social que temos com a população mais pobre do país é imensa. Hoje, eu temo que tenhamos virado ao contrário e acelerado. Estamos indo para o lugar errado e a 120 km por hora. As políticas que vinham ganhando força, como da diversidade, do respeito à diferença, do piso salarial dos professores, da mudança da formação inicial, da exigência do nível superior para educação infantil e anos iniciais, tudo isso parece querer ruir”, lamenta.Em vez de avançar, acrescenta Mônica, é preciso segurar para não recuar. “E não dá pra dizer para a mãe de uma criança de seis meses que espere mais 20 anos para a construção de creche ou pré-escola. Não podemos. No meu ponto de vista, esse retrocesso vem desde o golpe de 2016, ou até um pouco antes, quando teve início a crise econômica, nos anos de 2014 e 2015”, recorda.Apesar dos desafios, o amor ao que se fazQuestionada sobre o desafio do professor nos tempos atuais, Mônica Baptista observa que a categoria está entre as mais dedicadas no Brasil. Para ela, as professoras, sobretudo, da educação infantil, particularmente, têm compromisso com a mudança. “Claro que toda categoria tem bons e maus profissionais, mas quando você olha num contingente, com olhar de totalidade, temos que nos orgulhar dos professores. Outra coisa que os governantes precisam rever é essa posição de colocar as professoras da educação básica como inimigas, porque elas lidam com adversidades e situações cruéis”, frisa. Mônica pondera que toda a violência de uma sociedade desigual, racista e preconceituosa está dentro de sala de aula. E essa professora, com pouquíssimas condições de trabalho, não conta com apoio efetivo das políticas. “É uma carreira pouco valorizada do ponto de vista salarial, mas diria que a sociedade valoriza muito o professor. Quem não valoriza é a maioria dos governantes. Eles precisam saber que, além do salário, que é importante, é preciso olhar as condições de trabalho. Um professor que precisa estar em várias escolas, por mais que seja comprometido, tem dificuldade de fazer frente aos desafios do dia a dia”, alerta. A professora, que dá aulas para a pós-graduação, relata que sempre brinca com suas alunas e as classifica como ninjas, pois dão aula em dois turnos, fazem as disciplinas e não têm bolsa de estudos. Diante de tantas dificuldades, é difícil para o professor lutar. “Mas apesar das adversidades, é uma carreira atrativa do ponto de vista da realização. Claro que uma professora que detesta o que faz será uma péssima profissional e terá uma vida muito ruim, por dedicar horas do dia a fazer uma coisa que não gosta. Se é a profissão que está nela, que faça dela o lugar de encontro e que você procure ser a melhor profissional. Dizer que não vai fazer porque não ganha por isso é um discurso perigoso para a categoria e para essa pessoa que, certamente, terá uma vida bem menos rica do que se ela comprar essa briga pela educação dentro e fora de sala de aula”, conclui.

Postado originalmente por: Diário do Aço

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