Meliponicultor ipatinguense cria abelhas sem ferrão em casa e destaca benefícios

O produtor possui cinco tipos de abelha sem ferrão e cerca de 20 colônias

Mesmo com suas funções relevantes na natureza, como a polinização das flores, as abelhas são enxergadas pela maioria das pessoas como um perigo, por causa de seus ferrões. Com isso, muitos nem consideram a hipótese de criar esse tipo de inseto dentro de casa. Entretanto, o meliponicultor ipatinguense Vinícius Eler, de 30 anos, morador do bairro Bom Jardim, encontrou uma solução para isso. Ele decidiu criar espécies de abelha sem ferrão para não correr o risco de ficar machucado e poder desfrutar do mel, além de contribuir com o meio ambiente. As espécies criadas são a Mirim Preguiça (Friesella schrottkyi), Mirim Droryana (Plebeia droryana), Jataí (Tetragonisca angustula), Iraí (Nannotrigona testaceicornis), Mandaçaia (Melipona quadrifasciata).

Essa atividade começou quando Vinícius recebeu de presente um enxame de abelhas sem ferrão de um amigo do seu avô. A partir daí ele começou a cuidar delas, com o intuito de aumentar o número desses insetos cada vez mais. “Antigamente, eu e meu pai trabalhávamos com apicultura. Aí no dia a dia, percebemos que levar ferroada não era algo tão agradável, mas fazia parte dessa atividade. Então busquei a ajuda do meu avô para saber se existia outra alternativa e ele conhecia um tipo de abelha que não tinha ferrão. Então, em 2002, eu fui presenteado por um amigo dele que possuía um enxame desse tipo. Hoje posso dizer que tenho cinco tipos de abelha sem ferrão e cerca de 20 colônias”, afirma o meliponicultor, que possui licença para esse tipo de atividade.

Wôlmer Ezequiel

Vinícius Eler cria abelhas sem ferrão desde 2002, quando recebeu uma enxame de presente

De acordo com Vinícius Eler, a cidade é uma área urbanizada com pouca quantidade de espécies de plantas, por isso é preciso ter uma atenção especial nos períodos de entressafra das floradas. “Têm períodos que são satisfatórios, as abelhas sozinhas buscam o néctar e o pólen que precisam para se alimentar e se desenvolver, só que fora desse período, principalmente no inverno, tem que fazer uma complementação alimentar para que elas continuem se desenvolvendo e tenham condições para se multiplicar”, explica.

Conforme o meliponicultor, dentro de uma colmeia, a maioria das abelhas é de fêmeas, à exceção dos zangões, e da rainha que se diferencia por ser a única fêmea fértil. Com isso, ela é responsável por botar os ovos que irão originar as novas operárias, que terão alguns papéis dentro da colônia, como retirar o “lixo”, buscar alimento, construir células de cria e alimentar a rainha. “Essa é a rotina de vida das abelhas. Já os zangões são um caso particular, porque nascem de ovos que não foram fecundados. E a rainha surge a partir de questões genéticas ou alimentares. Quando mais nova, é considerada uma princesa. Só a partir da relação com o zangão é que vira uma rainha”, informa.

Diferenciais
Vinícius aponta, na entrevista ao Diário do Aço, outro diferencial nas abelhas sem ferrão. “Podemos citar a preferência por sabor de néctar. As abelhas com ferrão, normalmente, são generalistas e pegam todo tipo alimento em diferentes flores. Já as abelhas sem ferrão, geralmente, têm certas preferências com cores, cheiros e teor de açúcar diferenciados. Isso faz com que sejam excelentes polinizadoras de determinado grupo de plantas, que atendem caraterísticas específicas. Com isso, o mel delas acaba sendo diferente também, inclusive, entre os próprios tipos de abelhas sem ferrão”, destaca.

Produção

O meliponicultor acrescenta que sua produção de mel, conseguida com as abelhas sem ferrão, tem destinação para consumo próprio, mas de vez em quando, realiza alguma venda. “Eu pretendo continuar multiplicando, porque a partir dessa quantidade de abelhas, eu consigo ter uma produção satisfatória de mel para atender a minha família. E, eventualmente, um amigo ou parente que queira comprar, consigo juntar alguns litros de mel para fazer a venda”, afirma.

Vizinhos

Problemas com a vizinhança por causa das abelhas sem ferrão é algo que Vinícius nunca teve, além disso, muitos nem sabem que ele cuida desse tipo de criação. “Essas abelhas são tão calmas e tranquilas que chamam pouca atenção. Com isso, acaba que não incomoda ninguém. Então é muito bom cuidar desse tipo de abelha em casa, e se por acaso a pessoa tiver algum pé de fruta, é possível perceber que ele vai frutificar mais ainda e as frutas serão bem mais bonitas”, cita.

Natureza

Vinícius Eler alerta que as abelhas têm um papel importante no ecossistema. Ao buscar seu alimento nas flores, fazem a polinização, que contribui para gerar novas plantas e mais frutos. Caso as abelhas deixassem de existir, por algum desequilíbrio na natureza, haveria uma redução drástica na produção de frutos, já que não haveria mais o ciclo natural da polinização. Em alguns lugares do planeta as abelhas despareceram e cientistas tiveram que fazer a reintrodução de espécies para que as culturas de vegetais voltassem ao equilíbrio. “Então, sem abelhas, temos uma menor produção de alimentos, sendo que o consumo continua grande no planeta. Na natureza, isso significa que as plantas irão morrer, por não haver renovação. E na agricultura significa ter que trabalhar mais para conseguir fazer a polinização e produzir o mesmo tanto. Ficaria mais caro e mais difícil para ter bons frutos em quantidade suficiente para atender a humanidade”, conclui.

Repórter: Tiago Araújo


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