Moradores em situação de rua dominam arredores da Estação Memória

Wôlmer Ezequiel

Após o anoitecer, o espaço e o entorno dele é dominado por moradores em situação de rua

Considerada um patrimônio histórico, a Estação Memória “Zeza Souto”, no Centro de Ipatinga, que há muito funciona como um espaço cultural, está às voltas com uma situação complicada. Após o anoitecer, o espaço e o entorno dele é dominado por moradores em situação de rua, que se aglomeram ao redor da Estação Memória e praticam diversas atividades. No dia seguinte, comerciantes e lojistas que trabalham nas proximidades, afirmam que encontram restos de comida, dejetos humanos, lixo e outros resíduos no patrimônio histórico e também em frente aos seus estabelecimentos. Com isso, a Estação Memória deverá ser cercada com grades para evitar danos em sua estrutura.

Em entrevista ao Diário do Aço, comerciantes e lojistas das ruas Belo Horizonte e Montes Claros, explicaram a situação que enfrentam no dia a dia e como isso prejudica o seu comércio. De acordo com a vendedora Layse Evangelista Vieira, chega a ser constrangedor falar acerca desse assunto, por envolver atitudes surreais. “Eu abro a loja todos os dias às 8h e, dificilmente, não tem um morador em situação de rua dormindo em frente à porta. Além disso, eles defecam e urinam muito aqui perto. Com isso, todos os dias temos que lavar e esfregar a calçada. Já a praça da estação fica mais suja ainda. Tinha que cercar lá o mais rápido possível”, sugere.

Layse Evangelista acrescenta que já presenciou até cenas de roubo dentro da loja em que trabalha. “Teve um dia que uma cliente foi abrir a carteira para dar um dinheiro para uma moradora em situação de rua. E assim que abriu, a moça tomou a carteira dela e saiu correndo”, conta.

O chaveiro Ivanildo José dos Santos também reclamou da situação ao Diário do Aço. Segundo ele, a Estação Memória foi dominada pelos moradores em situação de rua. “Todo dia de manhã fica uma imundície danada o local. E eles fazem muita sujeira aqui nas proximidades. Muitos até defecam onde eles praticamente dormem. E são muitos que ficam andando no entorno, chega a fazer medo na gente. Alguns são até bem agressivos”, ressalta.

Já um dono de um estabelecimento, que preferiu não ser identificado, afirmou que já sofreu diversos furtos e roubos praticados pelos moradores em situação de rua. “É uma situação difícil. Moradores do Centro e comerciantes estão indignados com essa situação, porque são muitos roubos e furtos, o que acaba desmotivando as pessoas de transitarem aqui perto. Além disso, eles não respeitam nem o patrimônio histórico, que deveria ser bem mais cuidado”, pontua.

Wôlmer Ezequiel

Iris Matilde da Silva informou que, todo dia de manhã, ele encontra lixo e fezes em volta da Estação Memória

Situação crítica
O gerente da Estação Memória, Iris Matilde da Silva, revelou que sua rotina na parte da manhã é a mesma dos comerciários e lojistas. Todo dia quando chega para trabalhar, ele encontra muita sujeira na calçada e em volta do patrimônio histórico. Dessa maneira, a estrutura da Estação Memória fica sob ameaça, o que exige a implementação de mais segurança. “Nos preocupa muito esses andarilhos que vêm aqui durante a noite e utilizam a área para fazer várias coisas desagradáveis. Infelizmente, nós aqui do Centro estamos em uma situação muito crítica. Todo dia que chego aqui encontro muita sujeira, principalmente, na segunda-feira. Então, é preciso de alguma proteção para conservar a Estação Memória, que é onde está a história de Ipatinga”, explica.

Drama social
Procurada pelo Diário do Aço, a administração municipal de Ipatinga afirmou, por meio de uma nota, que a cidade vivencia o fenômeno da população em situação de rua, assim como em outros lugares. “Um drama social complexo que precisa ter o envolvimento de diversos segmentos da sociedade para encontrar soluções. No município, as pessoas em situação de rua que aceitam a assistência oferecida pelo Poder Público podem contar com diversos serviços, como o Centro de Referência Especializado para a População de Rua e a Casa de Acolhimento Parusia”, ressalta.

A nota também destaca que todos os dias, durante o período noturno, é realizado na Estação Memória o serviço de vigilância para proteção do patrimônio histórico e cultural do município. Nos períodos matutino e vespertino, o local está sob responsabilidade do gerente do setor.

Além dessa vigilância, a Prefeitura de Ipatinga informou que devido aos diversos episódios de arrombamento e depredação ocorridos na Estação Memória, patrimônio histórico do município, está sendo encaminhada uma parceria com a Usiminas, sem custos para o erário público, para implantação de um sistema de proteção junto à edificação. “A medida está em fase final de discussões, sendo debatida pelo Departamento de Cultura, órgão ligado à Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Ipatinga, junto ao Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Ipatinga (Comphai)”, conclui a nota.

História
A Estação Memória é um marco importante na história do Vale do Aço. No local (entre as ruas Belo Horizonte e Montes Claros) foi construído, em 1930, um novo ponto de embarque e desembarque de passageiros para substituir a Estação de Pedra Mole, o primeiro posto ferroviário de que dispunha o então distrito de Ipatinga, inaugurado em 1922 e que funcionava num ponto hoje encoberto por uma pequena mata, entre os bairros Castelo e Cariru. Atualmente, ainda existem ruínas desta edificação.

Desativada em 1951, as dependências da estação do Centro de Ipatinga foram utilizadas, no período de 1963 a 1964, como sala de aula para os filhos de trabalhadores. Já no ano de 1968, serviu de abrigo para vítimas de enchente que atingiu a área onde se localiza o Novo Centro.

Em 30 de dezembro de 1981, a Estação Ipatinga foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Municipal, por meio do Decreto nº 1.422. Após algumas reformas, em 1992 o local passou a ser um espaço cultural para a divulgação de projetos de artes, abrindo-se à visitação pública e exposições de pinturas, fotografias, vídeos, documentos históricos, além de shows musicais.


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