Psicólogo aponta sinais que podem alertar sobre suicídio

Wôlmer Ezequiel

Maurínio Alexandre acredita que a conversa é a melhor prevenção

Mesmo sendo enxergado como um assunto tabu, polêmico e complexo pela maioria das pessoas, o suicídio precisa ser discutido e trabalhado nas mais diversas esferas sociais. A opinião é do psicólogo especializado em neuropsicologia, Maurínio Dias Alexandre, para quem a conversa é o melhor meio de prevenção contra o autoextermínio. Em entrevista ao Diário do Aço, o profissional destacou que a maioria dos casos poderia ter sido evitada, caso a pessoa tivesse recebido o apoio necessário.

De acordo com Maurínio, existe um processo até a pessoa chegar ao ponto de dar fim à própria vida. Geralmente, o processo começa com mudanças de alguns comportamentos que podem ser observados, como isolamento social, deixar de lado atividades prazerosas e frequentes críticas negativas sobre a vida. “Esses são os principais sinais de que uma pessoa pode cometer o suicídio. Além disso, 90% daqueles que tentam tirar a própria vida acabam conseguindo, e o restante consegue ser salvo. Então, é possível melhorar esses dados”, afirma.

O psicólogo ainda ressalta que esses sinais, citados anteriormente, também estão relacionados com a depressão. No entanto, isso não significa que todas as pessoas que cometeram suicídio tinham depressão, mas grande parte passa por esse problema, além de outros transtornos psicóticos como esquizofrenia ou dependência química. “Então, é um processo que leva a pessoa a querer desistir da vida. Na verdade, ela não quer morrer, quer resolver seu problema e acabar com o sofrimento. Geralmente elas sentem um vazio e não têm esperança de que as coisas irão melhorar”, explica.

Segundo Maurínio, os amigos, familiares e colegas que conhecem alguém com esse tipo de comportamento precisam ficar atentos e oferecer apoio, ao invés de ignorar o seu sofrimento. “São essas pessoas próximas que mais podem ajudar. E se esses grupos não percebem a mudança de comportamento, o indivíduo vai se sentir mais isolado ainda. É nesse cenário que surgem os pensamentos negativos, e como a pessoa geralmente não se dispõe a se ajudar, ela só isola cada vez mais”, destaca.

Para o psicólogo, atualmente existe uma dificuldade em discutir a respeito do suicídio. Há muito prevalece o conceito de a divulgação de casos pode influenciar negativamente as pessoas. Mas, ultimamente, tem crescido a opinião de que é preciso falar sobre esse assunto, porque é o meio mais adequado para a prevenção. “O Ministério da Saúde, inclusive, tem uma cartilha da Saúde Mental, em que orienta as pessoas sobre o comportamento de um suicida, justamente na tentativa da prevenção. Muitos também têm resistência em admitir que possuem pensamentos suicidas. Então, falar é mesmo o melhor remédio”, aponta.

Crianças e adolescentes

De acordo com Maurínio, o suicídio tem se propagado muito rápido devido à internet. Com isso, muitas crianças e adolescentes ficam por dentro desse assunto, o que pode contribuir no aumento do número de casos entre esse público. “Também tem aqueles jogos e desafios, como a Baleia Azul, que foi o mais recente, que levam os participantes a cometerem o ato extremo”, informa.

Outro fator que também contribui, conforme o profissional, é a pressão que esse público enfrenta na escola, faculdade e até mesmo dentro da família. De acordo com o especialista, as crianças e adolescentes ultimamente não aprendem a ouvir o “não”. Muitos ganham celulares, brinquedos e outros aparelhos na base da pirraça. Então, não são acostumadas a passar por frustrações. “E quando estão em um contexto fora da vida familiar, onde é preciso obter sucesso por conta própria, surge a frustração. Aí é que começam a crescer aqueles pensamentos negativos, de que não tem valor. E isso, junto com a cobrança exagerada, dentro do seu ciclo social, pode levar ao suicídio, como uma forma de tentar resolver o problema”, pontua.


Psicólogo aponta sinais que podem alertar sobre suicídio

Repórter: Tiago Araújo


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