Mulheres líderes são vistas como motivação para quebrar tabus

Apesar de, nos últimos anos, presenciamos cada vez mais a inserção da mulher no mercado do trabalho, o fato de pertencer ao sexo feminino ainda pode significar um salário menor, com carreira limitada, marcada por restrições, sem falar, é claro, nos inúmeros casos de assédios morais e sexuais que vieram e vem à tona neste ambiente. A última matéria de nossa série de reportagens em celebração ao Dia Internacional da Mulher aborda a participação da mulher neste meio, os desafios enfrentados e o espírito de liderança como ferramenta de combate à desigualdade em um espaço predominado por homens.

Dados divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP) nessa quarta-feira, 7, mostram que nos anos de 2015 e 2016 a População Economicamente Ativa (PEA) das mulheres mineiras reduziu 1,1% no período, enquanto a dos homens permaneceu estável. O estudo também aponta queda de 4% de postos de trabalho para o público feminino. Para as pessoas do sexo masculino, a redução foi de 2,5%. Entre outras coisas, a participação das mulheres segue inferior à dos homens. Em 2016, pouco mais da metade delas estava no mercado de trabalho (53,9%), ao passo que para eles esse percentual foi de 73,7%.

Ainda segundo o levantamento, 29% das mulheres estão concentradas nos setores de serviços e comércio, nas ocupações elementares – aquelas com baixa qualificação e baixa escolaridade (24%) – e entre os profissionais das ciências e intelectuais (13%). No caso dos homens há uma maior concentração entre os qualificados na mecânica e construção (22%) e nas ocupações elementares (19%).

 

POR QUE ELAS NÃO OCUPAM POSIÇÕES DE LIDERANÇA?

 

Uma pesquisa realizada recentemente pela consultoria Grant Thornton, indica que as mulheres representam apenas 24% dos cargos de liderança em empresas privadas em nível mundial. Na visão de Suzana Fagundes, vice-presidente de RH, Jurídico e Sustentabilidade da empresa ArcelorMittal desde 2005, não há justificativa para as mulheres não serem lideres nas empresas, visto que elas são tão qualificadas quantos os homens. “Ter mulheres em cargos de liderança, seja em organizações públicas ou privadas, agrega valor na tomada de decisão. Faz com que as empresas exerçam um olhar mais dinâmico e abrangente. Soma-se diversidade. A participação das mulheres faz com que, de forma mais igualitária, estejam ali representadas”, disse.

 

E O QUE FAZER SE SÃO OS HOMENS QUE OCUPAM OS CARGOS MAIS ALTOS NAS EMPRESAS?

 

Segundo ela, a reversão deste cenário passa por uma mudança de mentalidade. “A discussão precisa ser aberta e fomentar a ideia de que não se trata absolutamente de uma disputa de poder entre homem e mulher, mas de uma simples e justa questão de direitos. Essa é uma atitude que faz com que os homens pensem nessa realidade e que as mulheres conquistem oportunidades mais igualitárias”, explica.

 

“NÃO NASCEMOS LÌDERES. LIDERANÇA É A GENTE QUE DESENVOLVE”

 

Essa é a frase utilizada pela reitora do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Márcia Mota, para definir sua caminhada. Há mais de oito anos à frente da instituição, ela relata os desafios enfrentados para chegar ao cargo. “É um trabalho de grande responsabilidade. São cerca de 9.000 alunos que estudam na instituição. Mesmo estando na liderança, me deparo com vários empecilhos, principalmente, por ser mulher. A sociedade ainda tem dificuldades em aceitar a mulher no mercado de trabalho. Somos vistas com um olhar de fragilidade, carregado de dúvidas quanto à nossa capacidade e conhecimento”, diz.

Segundo Márcia, quanto maior o grau de escolaridade, menores são as dificuldades. “Não quer dizer que elas não irão passar por isso [dificuldades], mas é o que costumo dizer, ‘o conhecimento é a chave para o sucesso’. Infelizmente, estamos em um mundo em que a falta de instrução ocasiona a discriminação. As mulheres não são aceitas no mercado e o que sobra são os cargos que elas menos se adaptariam, por exemplo, os trabalhos domésticos, que já nos marcaram muito no passado”, reforça.

Apesar disso, o estudo ‘Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil’, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nessa quarta-feira, mostra que essa não é uma realidade no país. De acordo com a pesquisa, realizada entre a população de 25 anos ou mais, até 2016, 23,5% da população feminina possuía ensino superior completo, enquanto que o percentual dos homens era de 20,7%. Mesmo em número maior, as mulheres ainda enfrentam desigualdade no mercado de trabalho.

Entre 2012 e 2016, as mulheres ganharam, em média, 75% do que os homens receberam. Significa que elas tinham rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$1.764, ao mesmo tempo em que o deles era R$2.306. Para Márcia, essa disparidade está relacionada ao porte da empresa. “Quanto menor e menos organizada for a instituição, mais essas diferenças se acentuam”, afirma.

 

LIDERANÇA É SINONIMO DE MOTIVAÇÃO

 

A reitora ressalta a presença feminina na coordenação de cursos superiores, o que é o suficiente para encorajar outras mulheres a lutarem por seu direito. “A gestão feminina se torna motivação para outras mulheres traçarem o mesmo caminho. Somos o espelho para elas acreditarem que podem mais. Mas, para alcançar tal posto, é preciso, primeiramente, ser humilde. Você não deve ter vergonha de aprender e buscar conhecimento se quiser ser uma líder. Não podemos fraquejar perante o obstáculo, apesar de o mercado ainda nos forçar a isso. O conhecimento quebra qualquer barreira”, finaliza.

 


MULHERES PIONEIRAS NA HISTÓRIA

 

* Valentina Tereshkova (1937 – )

A paraquedista russa Valentina Tereshkova foi a primeira mulher a ir no espaço, em junho de 1963. No comando da nave Vostok-6, ela deu 48 voltas em torno da Terra durante 71 horas. O tempo foi maior do que o previsto, em decorrência de um erro na trajetória da nave.

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* Ada Lovelace (1815 – 1852)

Matemática e escritora inglesa, Ada Lovelace foi a primeira programadora da história. Com uma formação rigorosa em matemática, se encantou pelo projeto da máquina analítica, considerada o antecedente dos modernos computadores, e trocou detalhes do invento com seu criador, Charles Babbage.

Ao traduzir para o inglês um documento sobre o invento de Babbage publicado em uma revista francesa, acrescentou notas explicativas que acabaram por duplicar a extensão do texto original. Tais notas antecipavam ideias modernas sobre programação, inclusive sistemas cujos formatos seriam utilizados para programar os primeiros computadores.

 

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* Rosalind Franklin (1920 – 1958)

A londrina Rosalind Franklin foi a responsável pela captura da foto que demonstrou que o DNA possuía uma estrutura em dupla hélice. O resultado foi obtido por meio de estudos com difração dos raios-X. Porém, outros três pesquisadores – James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins – é que foram reconhecidos por seus descobrimentos sobre a estrutura molecular dos ácidos nucléicos: quatro anos após a morte da cientista britânica, eles ganharam o Nobel de Medicina.

As pesquisas de Rosalind também contribuíram para a compreensão do RNA, do carvão, do grafite e dos vírus.

 

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* Alzira Soriano (1897 – 1963)

Natural de Jardim de Angicos, no Rio Grande do Norte, Alzira Soriano foi eleita prefeita do município de Lajes em 1928, aos 32 anos, tornando-se a primeira mulher da América Latina a assumir o governo de uma cidade (segundo informação dada na época pelo jornal norte-americano “The New York Times”).

Alzira conquistou o cargo no executivo antes mesmo das mulheres conquistarem o direito de voto no país, o que aconteceu apenas em 1932. Ela também exerceu três mandatos como vereadora em sua cidade natal.

 

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Postado originalmente por: Diario Regional – Juiz de Fora

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