AESP TALKS: rádio americano tem queda no faturamento, mas apresenta aumento de 40% na audiência após pandemia de coronavírus

“Como o rádio americano está enfrentando o Covid-19”, este foi o tema da live especial realizada pela Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (AESP) nesta quarta-feira (29). Participaram do debate, o representante da produtora de jingles Reelword, Henrique do Valle, e um dos pioneiros do FM em São Paulo, Paulo Leite (Velho Milk). O presidente da AESP, Rodrigo Neves, e o CEO da Agência RF, Robson Ferri, foram os mediadores do bate-papo.

Segundo Henrique do Valle, que mora em Nova Iorque (EUA), a situação do rádio no país não está muito diferente da enfrentada no Brasil. Porém, diante deste cenário, o radiodifusor tem que ter em mente que será algo temporário.

Valle explicou que em 2020 a receita de publicidade seria de US$ 161,3 bilhões, mas com a pandemia de coronavírus houve queda de US$ 17 bilhões. Ou seja, ocorreu declínio de 10,6% no investimento de publicidade se levado em consideração o período de dois meses.

Neste ano, a receita do rádio vai chegar a US$ 11,4 bilhões, uma queda de quase US$ 2 bilhões. Antes da pandemia, a previsão era de que o rádio arrematasse US$ 13 bilhões. Por este motivo, Valle conta que a lheart Media, empresa que tem mais de 850 emissoras, demitiu pelo menos 1.000 funcionários há dois meses. Estes trabalhadores foram substituídos por Inteligência Artificial.

No período de quarentena, uma das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que as pessoas fiquem em casa para evitar o contágio da doença, o que acabou colaborando para uma mudança de comportamento dos ouvintes. “As pessoas anteriormente gastavam mais tempo mandando mensagens pelo WhatsApp, mas agora elas estão falando mais ao telefone”, afirma Valle.

Dentre as mudanças, está a realização de aulas on-line e atividades home Office. Além disso, para o representante, houve aumento no número de pessoas consumindo áudio pelos fones de ouvido do modelo hearables, específicos para iPods.  De acordo com ele, quatro em cada 10 jovens possuem esses fones nos EUA.

Para Valle, a nova realidade requer adaptação do que os radiodifusores estão vendo no dia a dia.  Um exemplo que ele trouxe, no decorrer da transmissão, foi do jornal New Tork Times, que substituiu duas seções editoriais (Viagens e Esportes) pela seção “Em Casa”. Nesta parte, eles dão dicas para ajudar os filhos com lição de casa, medicamentos e procedimentos caso a pessoa fique infectada pela Covid-19 e tutoriais de como funciona o aplicativo ZOOM.

“Conforto é a palavra da moda”

“Hoje em dia, as rádios dos EUA estão prestando mais atenção na palavra conforto. Elas estão ajustando uma programação mais adequada para essa zona de conforto, principalmente tocando sucessos antigos. Quando a gente houve uma música, a gente volta no tempo, lembra do período que estávamos bem e esquecemos o problema de hoje”, destaca Valle.

Ele conta que as emissoras estão criando conteúdos específicos para que os ouvintes se sintam confortáveis e foquem menos nos problemas enfrentados atualmente.  “Eles estão fazendo boletins sobre o Covid-19, porém com um volume menor para não sobrecarregar a audiência. Já que ao abrir a internet, ouvir ou ver noticiários só se falava sobre isso”.

De acordo com Valle, as emissoras devem desenvolver mais podcastings, como por exemplo, sobre músicas do passado, contando histórias das letras e Morning Shows para propiciar o sentimento de companhia. Já os boletins de trânsito, podem ser substituídos por dicas do que fazer em casa. “Você pode dar dicas de pratos para fazer no almoço, explicar como usar aplicativos, sobre o que está fazendo em casa, dentre outras”.

Neste período, a audiência do rádio subiu 40% nos EUA, por isso é importante analisar se a emissora adaptou a plástica a nova realidade. “Se você tem uma plástica que foi produzida há três meses ela já não condiz com a realidade que vivemos hoje”, ressalta o representante.

Valle também sugere a realização de promoções gratuitas, já que está sobrando inventário comercial por causa da diminuição de investimentos. “Seja parceiro de seus clientes e dê dois ou três vezes mais espaços para eles. Eles não vão se esquecer disso”.

Dentre as ações para fidelizar o público neste período está a doação de laptops para quem precisar estudar on-line e não tem o computador para isso, criação de máscaras com o logotipo da emissora para doar para os ouvintes, contratação de médicos especialistas sobre a Covid-19 para os Morning Shows e deixar os ouvintes falarem.

“Uma coisa muito interessante na sexta-feira é o happy hour. Você pode fazer um com seus ouvintes. É só colocar todos os seus locutores em uma live e fazer um bate-papo de pelo menos uma hora”. Em uma pesquisa apresentada por Valle, 296% dos ouvintes demonstraram interesse neste tipo de conteúdo.

“Quando isso passar à emissora será lembrada pelas suas ações. Você tem que ver de uma forma mais dinâmica. Isso vai passar e eu vou ter que ser mais agressivo agora, já passamos por outras dificuldades e ninguém vai me derrubar. Sendo proativo o seu ouvinte vai lembrar de você nos tempos bons e ruins. Então as emissoras por aqui estão procurando agir desta forma para solidificar sua marca, seu nome e engajamento com os ouvintes. É necessário usar esse período para que sua equipe seja mais criativa e competidora do que nunca. Somente as fortes vão conseguir superar esse problema”, aconselha Valle.

Ano de eleição

Paulo Leite, que vive em Washington, D.C (EUA), explicou que este será um ano preocupante para o rádio no país. Visto que diferente do Brasil, que existe propaganda eleitoral gratuita, nos EUA as emissoras recebem por isso. A eleição no país acontece na segunda terça-feira de novembro.

“O político aqui tem que ter o dinheiro para comprar os anúncios nas emissoras. O faturamento é muito bom para os veículos e usado pelas rádios para gerar um caixa bastante significativo. Acontece é que o preço cobrado pela propaganda eleitoral é baseado na média cobrada por todos os clientes. Existe uma fórmula de cálculo que você não pode cobrar o valor que vem na sua cabeça, você não pode aumentar o preço em função de ser horário eleitoral”.

Por isso, Paulo alerta que as empresas tenham cautela na hora de abaixar o valor do anúncio para o cliente, visto que eles podem perder bastante o faturamento durante o período de propaganda eleitoral.

“A criatividade é o ponto chave no momento. Você vai ganhar pontos ao invés de perder pontos, vai solidificar a audiência, vai criar uma identificação ainda maior com o seu ouvinte que é um dos grandes pontos do rádio e, a partir daí, você vai poder sair fortalecido dessa pandemia que não vai durar para sempre.”

 

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