Como se proteger dos crimes digitais durante a pandemia

Do filho do jornalista William Bonner à cantora Marília Mendonça: não é só o novo coronavírus que tem se proliferado durante o isolamento social, mas também os crimes cibernéticos e os estelionatos. De acordo com números da Polícia Civil, com base em registros da Superintendência de Informações e Inteligência Policial, os golpes cresceram 62% em março e abril deste ano, quando comparados ao mesmo período de 2019 em Minas Gerais. Os dados têm como combustível um cenário de aumento das compras e vendas pela internet e também por boa parte da população precisar se cadastrar em sites do poder público para resgatar auxílios e cestas básicas.

“Quando você tem algum tipo de benefício financeiro que precisa do cadastro, como é o auxílio emergencial, você tem um terreno fértil para esse tipo de crime. É uma maravilha para os bandidos especializados”, alerta Ernani Machado, presidente da JMM Tech, empresa especializada em proteção digital. Apesar de algumas estratégias de ludibriação já serem conhecidas, Ernani ressalta que a criatividade de quem ganha a vida “passando a perna” nos outros é “cada vez maior”.

Na mesma linha, o delegado Guilherme Santos, chefe da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil, pontua a necessidade de a população ficar atenta aos mínimos detalhes antes de clicar em um endereço na internet, os links, sobretudo neste período. “Este momento da pandemia estimula a aplicação de golpes e fraudes pela internet, já que as pessoas compram mais por esse meio. É preciso desconfiar de e-mails e mensagens de remetentes desconhecidos que estão pedindo para clicar ou fazer algum download”, afirma. Guilherme também enumera alguns sinais de tentativas de golpe. “A atenção é fundamental, porque é muito comum ter erro de grafia ou uso de domínio (nome que serve para localizar e identificar um determinado site) fraudulento”, explica o delegado.

Vítimas de estelionato e ataque cibernético não faltam durante a pandemia. Só em março e abril deste ano, a polícia computou 1.760 crimes do primeiro tipo em Minas Gerais, média de quase 30 por dia. Para efeito de comparação, os mesmos dois meses de 2019 somaram 1.086 golpes no estado, 62% a menos que em 2020.

No entanto, esses números, de acordo com o especialista Ernani Machado, não refletem a realidade, já que para ele há uma enorme subnotificação dos golpes, principalmente porque os bancos, por exemplo, costumam estornar os valores para os clientes. “Existe pouco empenho para uma área tão importante. Os bancos se responsabilizam por quase todos os casos. Muitas pessoas não procuram a polícia porque as instituições financeiras já resolvem a questão. Por que vou procurar a polícia se meu problema já foi resolvido? Há uma subnotificação absurda. É um fato claro”, enfatiza.

Entre os prejudicados está o funcionário público Elder Gabrich, de 30 anos. Desde janeiro, ele já foi alvo dos golpistas em quatro oportunidades, duas delas durante a pandemia. Em nenhuma das ocasiões ele procurou a polícia. O método usado pelos bandidos? O já conhecido: clonagem dos dados dos cartões que estão em nome do servidor. “Foram dois golpes com cartões virtuais (criados por bancos digitais para realizar uma compra específica) e outros dois com cartões físicos. Entrei em contato com os bancos e consegui recuperar o dinheiro”, relembra. “O último teve uma compra de R$ 987 numa loja de varejo. O que indiquei para os meus amigos, e vale para todos, é que fique atento ao extrato bancário, porque havia pequenas transações de R$ 30 que não haviam sido feitas por mim. Isso me passou batido por meses”, aconselha.

De acordo com Elder, é certeira a influência da pandemia da COVID-19 na ação dos golpistas. “Tem tudo a ver com esse momento. As pessoas estão comprando e navegando mais na internet. O aumento do volume de compras on-line faz crescer também o de golpes”, diz.

Aos 20 anos, Samara Cristina foi vítima ao tentar vender um celular por sites de compra e venda na semana passada. “Uma pessoa de nome Bruna entrou em contato comigo em um site e pediu para que eu cadastrasse o produto em outro site, para que ela ganhasse pontos. Recebi um e-mail de confirmação do cadastro nessa nova loja virtual, mas tive os dados roubados”, conta. Segundo ela, a golpista combinou de depositar o dinheiro em 24 horas, mas nunca o fez. “Entrei em contato, mas ela me bloqueou no WhatsApp e excluiu o perfil na loja. Perdi cerca de R$ 600. Complicado, porque muita gente está apertada financeiramente neste momento”, lamenta.

Situação semelhante foi presenciada pelo tenente Francis Santana, da Polícia Militar. Na segunda-feira, ele registrou um estelionato em BH em uma modalidade já conhecida: a negociação “triangulada”, na qual o golpista faz a cópia de um anúncio verdadeiro, porém com preço mais em conta, e convence compradores a depositarem quantias.

“O que a gente indica para o cidadão evitar esse tipo de golpe é sempre conferir a identidade de quem está negociando. O ideal é marcar um encontro próximo a uma base comunitária da Polícia Militar. São várias pela cidade. Sempre é bom evitar realizar transferências bancárias sem conhecer o vendedor”, indica o militar.

Como se proteger
A prevenção por parte do cidadão passa, também, pela diferenciação entre crime cibernético e estelionato. Essa primeira modalidade requer especialização técnica por parte do golpista, que cria links falsos para roubar informações ou força a vítima a baixar programas que, na verdade, vão entregar seus dados de bandeja ao criminoso.

Já o estelionato tem um ingrediente fundamental: a ludibriação. Os alvos são, sobretudo, idosos e pessoas que estão em dívida com bancos. Pessoas que anunciam produtos na internet também são vítimas em potencial.

O sequestro de dados também é um dos ataques cibernéticos mais comuns, segundo a polícia. Nesse crime, o hacker exige dinheiro para que a pessoa resgate arquivos, até mesmo fotos e conversas íntimas. “Quando houver solicitação de código verificado (comum em cadastros) é importante verificar o endereço (de e-mail) de quem está mandando. Tem que tomar muito cuidado, porque isso a gente tem visto que é uma das principais ferramentas de clonagem de WhatsApp. A pessoa te manda um código, que, na verdade, é de reinstalação do aplicativo”, explica o chefe da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil, Guilherme Santos.

Especialista em proteção de dados, Ernani Machado ressalta a necessidade, no caso dos ataques cibernéticos, de as pessoas e, principalmente, empresas se protegerem. “No caso das médias e grandes empresas, é fundamental que elas contratem uma empresa para mapear potenciais falhas em seus sistemas de segurança cibernéticos. As pessoas podem optar por aplicativos e alguns antivírus, mas vale lembrar que esses programas não conseguem impedir alguém de clicar em um link fraudulento”, alerta.

Quanto ao estelionato, ele é enfático. “Os antivírus não protegem da ludibriação. O correto é sempre duvidar de ofertas generosas demais. E, claro, dos prêmios, que na verdade não existem”, pontua.

 

Fonte: Estado de Minas

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Postado originalmente por: Portal Onda Sul – Carmo do Rio Claro

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