Coronavírus: A educação em épocas de crises sanitárias

Em tempos de crises sanitárias somos desafiados constantemente. Nossas relações
sociais, politicas, religiosas e educacionais precisam ser ressignificadas e repensadas dentro
dos limites que uma pandemia nos impõe. Uma das grandes dificuldades nesse contexto é
diminuir os efeitos negativos advindos de uma má qualidade educacional, por isso, é
fundamental pensar em estratégias eficazes a fim de garantir o direito à educação a todos.

Pensando numa sociedade essencialmente tecnológica como a nossa, podemos
encontrar diversas ferramentas que podem auxiliar as práticas educacionais em tempos de
crise. No entanto, o que se percebe no atual contexto é uma adaptação forçada e sem preparo e
sem planejamento algum. Desse modo, será que estamos preparando e qualificando de fato
nossos jovens ou apenas mascarando um problema que já se arrasta por décadas no âmbito
educacional?

Na Constituição Federal de 1988 no art. 205 encontramos explicitamente que “a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Esse artigo é realçado também na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996, mais precisamente no art. 2 “A
educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Percebemos que além de um
ensino gratuito (conforme pode ser verificado no decorrer dos documentos) é fundamental
que o ensino seja de qualidade capaz de preparar a pessoa para o convívio social e pleno
exercício da sua cidadania. Mas o que estamos fazendo com a educação? A opção EAD
(educação a distância) é a solução frente à crise sanitária que vivemos?

Alguns questionamentos que podemos levantar nesse momento que infelizmente não
podemos responder, mas certamente refletir:
Diversas famílias no país não possuem conexão via internet, a entrega de material
didático para as famílias tem sido a opção para alunos que não tem acesso a internet, sem o
acompanhamento de um profissional da educação “entupir” os alunos com exercícios e matéria é a solução?

Estaremos garantindo um futuro digno a esses alunos? Estamos dando
condições socais e profissionais para estes alunos para o mercado de trabalho futuro?

Outra questão que merece destaque, os professores em nenhum momento foram
preparados para lecionar na frente de uma câmera, muitos sem contato nem mesmo com as
novidades tecnológicas. Aulas estão sendo gravadas sem equipamento técnico apropriado.
Como prender a atenção de nossos alunos por horas na frente de um computador ou celular,
sendo que os mesmos podem acessar páginas e sites mais atrativos?
Outro ponto determinante, que venho criticando há anos, é o modo como a formação
técnica, científica e profissional vem sendo substituído no país pelos famosos youtubers,
pessoas (na maioria das vezes) sem nenhuma qualificação, mas que querem dar opiniões
sobre esse fenômeno complexo e paradoxal chamado de contemporaneidade. A autoridade do
professor graduado, mestre e doutor, é substituída pelo cara divertido da internet que acha e
infelizmente pode opinar sem nenhum compromisso ético e profissional.

Essas são pouquíssimos problemas que podemos apontar com a educação a distância
como forma de substituição das aulas presenciais que tínhamos nesses tempos de pandemia,
que por falta de espaço não podemos discorrer mais sobre. Fato é que, já há algum tempo,
infelizmente nossa próxima geração está caminhando para o despreparo e a improvisação, se
não optarmos nesse momento por uma educação de qualidade mesmo em tempos de crise
sanitária como essa, que valorize nossos professores, respeite a autonomia das instituições
educacionais e desperte em nossos alunos o senso de autonomia e responsabilidade,
levaremos décadas, talvez séculos, para nos tornarmos um país com índices satisfatórios na
educação e enquanto sociedade.

Leonardo Nunes Camargo – Doutorando e Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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Postado originalmente por: Portal Onda Sul – Carmo do Rio Claro

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