Infecções por Covid-19 disparam entre jovens adultos

O contágio por coronavírus entre os jovens adultos tem aumentado exponencialmente em Belo Horizonte. Levantamento solicitado por à Secretaria de Saúde da capital demonstra que entre outubro e novembro houve uma elevação de 6,4 pontos percentuais no índice de pacientes com entre 20 e 39 anos infectados pelo vírus. Eles já são praticamente metade dos novos casos. Novembro registrou 1.162 casos a mais do que outubro nessa camada da população. Em outubro, 43,2% dos infectados eram jovens adultos; no mês seguinte, o índice chegou a 49,6%. Os números confirmam o que os especialistas já percebiam nos atendimentos hospitalares: não apenas os jovens estão se infectando mais como também é crescente a incidência de casos graves nessa faixa etária.

Os números ainda sugerem que a elevação vai continuar. Mesmo com dados parciais, este mês segue a tendência de alta e já apresenta 51,3% de contágio entre os jovens adultos. O balanço foi enviado pela prefeitura no dia 7 de dezembro.

Segundo avaliação do infectologista Estevão Urbano, os jovens se arriscam mais porque costumam ter uma falsa sensação de imunidade, o que não é verdade.

À medida que a Covid-19 atinge o público jovem, parece aumentar também a consciência de alguns deles sobre a necessidade de cumprir o distanciamento social, apesar das cenas de bares, festas e ruas lotados. Passado o contágio, parte desse público percebeu os impactos do vírus – físico ou psicológico – e agora assume que falhou na adesão às regras sanitárias.

O que os jovens estão compreendendo é que aquela partida de futebol ou a roda de samba, até então por eles consideradas inofensivas, representam um risco que pode ocasionar a morte de alguém. A coordenadora de marketing Elisa Santana, 35, é um exemplo de quem assume que errou, mas se compromete a mudar. “Fica um sentimento de culpa muito grande”, afirma ela após ter recebido o diagnóstico positivo para Covid em novembro. Seu maior receio era contaminar os pais, o que, felizmente, não aconteceu.

Elisa assume que foi a uma festa de casamento e compareceu a um evento de samba. “Depois de ter passado por isso, não tive coragem de ir a lugar externo. Foi um baque muito grande ter descoberto (o contágio)”, desabafa. Fortes enjoos, dores em todo o corpo e cansaço extremo foram os sintomas da infecção nela. “Nunca tinha sentido isso. Até água me causava enjoo”, conta. Agora, ela é testemunha da alienação de alguns: “Os jovens ficam achando que são imunes. Ouvi gente falando: tive, recuperei e não vou pegar de novo. Então, vou para o bar mesmo”.

O gerente de contas Ramon Teixeira, 34, admite que jogou futebol em meados da pandemia, mas, em seguida, percebeu que a prática traria riscos não só para ele, como também para a família, que tem idosos e pessoas com comorbidades. Em julho, ele foi alvo da Covid, e sua mulher também testou positivo. Os filhos, de 7 e 9 anos, ficaram doentes, mas não houve necessidade de realizar o exame de confirmação. “Trabalho na área comercial e tinha que visitar alguns clientes. Cumpri todos os procedimentos, mas nunca temos certeza”, disse.

Na turma do futebol semanal que ele frequentava, somente 10% deixaram de praticar o esporte depois da flexibilização das atividades. Teixeira não teve sintomas, mas Maria Clarisse, 38, sua mulher, perdeu o olfato e o paladar. “Bebia cerveja, e parecia que era água com gás”, relembra a atendente de telemarketing. “Agora estamos preocupados com a reinfecção”, preocupa-se.

Os reflexos na saúde mental também são relatados pelos jovens infectados. “Fiquei apreensiva de saber como meu corpo iria reagir com a doença. Tem gente que é assintomática, mas há quem perde a vida”, observa a bancária Yarima Corrêa, 31. O diagnóstico positivo para o coronavírus veio em 1º de dezembro, mesmo com uso de máscara e higienização das mãos. Ela já se recuperou.

Responsabilidade por contágio

O aumento no contágio entre jovens adultos configura uma dupla responsabilidade, segundo avaliação do infectologista Estevão Urbano. Para o integrante do comitê municipal de enfrentamento à Covid-19, o jovem precisa não somente derrubar o mito de que está isento de adoecimento grave. Também é necessário o compromisso de evitar se transformar em um agente de transmissão do vírus, levando a Covid até pessoas com maiores chances de adoecimento severo.

“Temos tratado alguns pacientes com faixa etária mais baixa que evoluem para casos graves. E pacientes sem comorbidades que evoluem até para óbito. É uma roleta-russa, não dá pra saber quem vai evoluir bem e quem vai mal”, explica o especialista.

A responsabilidade social é levantada por Urbano para alertar sobre a gravidade da situação. “Estamos vendo os jovens morrer talvez mais do que a primeira fase em junho. O jovem tem responsabilidades com ele mesmo e com a sociedade. Esse aumento acontece porque eles têm a falsa sensação de que estão protegidos”, avalia.

“Outros não têm a resiliência de esperar o mundo voltar à normalidade com a vacina e falta engajamento social maior. É uma responsabilidade compartilhada com a sociedade”, completa.

 

Fonte: O Tempo

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Postado originalmente por: Portal Onda Sul – Carmo do Rio Claro

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