Estrutura que cobre o Arrudas na Andradas pode romper, alertam especialistas

Imagens de grades sendo arrancadas pela força da água assustaram moradores de Belo Horizonte

A cena do rio Arrudas “explodindo” em plena região Centro-Sul de Belo Horizonte impressionou os moradores da capital. Ao menos 70 grades de concreto do canteiro central do bulevar, na avenida dos Andradas, foram arrancadas pela força da água.

Para especialistas, isso evidencia o que seria um problema grave: um possível risco de rompimento da estrutura em dias de temporais.

Para eles, a situação seria fruto da canalização do curso d’água, iniciada no século passado, e da posterior cobertura do rio, feita a partir de 2007, com as obras do Boulevard Arrudas. Ou seja, o investimento de mais de R$ 40 milhões feito pelo Estado ao invés de reduzir os danos ocasionados em períodos chuvosos, teria piorado esse quadro. Eles acreditam que, a água poderia exercer tanta pressão no canal a ponto de explodir a estrutura.

“O bulevar consiste na cobertura do ribeirão, que desaparece da paisagem urbana. Ele foi construído sob a justificativa de melhorar o trânsito na região, dentro do pacote de projetos da Linha Verde, mas não resolveu nada quanto a isso e virou uma bomba-relógio. Os estouros dos respiradouros são uma prova disso. Se cai uma chuva muito intensa em um curto espaço de tempo, vai saber o que vai acontecer? A água tem que sair para algum lugar”, explica o geólogo e autor do livro “Rios Invisíveis da metrópole mineira”, Alessandro Borsagli.

Segundo ele, cobrir cursos d’água nunca é um bom negócio, especialmente em um rio da dimensão do Arrudas. “Isso encaixota o rio, encerrando-o em um canal artificial, e, quando vem uma chuva de maior magnitude, arrebenta tudo. Aquilo ali é um aviso do rio, dizendo: ‘Você está querendo me esconder, mas estou aqui, uma hora vou tomar meu lugar de direito’”, diz Borsagli.

O especialista explica ainda que, com a excessiva impermeabilização, intensificada nos últimos anos, a água da chuva deixa de penetrar no solo e corre diretamente para os fundos de vale.

“O Arrudas se tornou um verdadeiro turbilhão hidráulico nos períodos chuvosos”, afirma.

Reprodução
Reprodução

O fundador e idealizador do projeto Manuelzão, Apolo Heringer, prevê que uma explosão pode ocorrer no bulevar entre a avenida do Contorno e a praça da Estação, se nada for feito: “A maior energia cinética que tem em Belo Horizonte é o rio Arrudas, aquilo vai explodir todo o bulevar e pode causar a maior tragédia ambiental dentro de Belo Horizonte. Vai pegar todo mundo de surpresa, porque esconderam o perigo debaixo do asfalto”.

O arquiteto e urbanista e professor da UFMG, Roberto Andrés, também acredita na possibilidade de rompimento do bulevar. “Não faz nenhum sentido cobrir um ribeirão como o Arrudas para colocar pista de automóvel, isso é uma obra defasada. A cidade precisa inverter essa lógica o quanto antes e voltar a entender que a água faz parte da nossa vida e que a gente tem que cuidar dela convivendo com ela”, diz.

Alerta 

Vídeos e relatos de moradores apontam para o surgimento de trincas na avenida dos Andradas, após as chuvas dos últimos dias.

Veja vídeo:

Posicionamento

Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no local há juntas de dilatação, que não oferecem qualquer perigo. O município informa que, após o período de chuvas e a desobstrução das vias, a questão na avenida será solucionada.

A PBH ainda disse que a  ideia é criar reservatórios futuramente para o armazenamento do excesso de águas pluviais que cai no rio.

Criação de parques pode ser solução

Solucionar o problema do Arrudas e de outros cursos d’água de BH passa pela criação de áreas permeáveis na cidade e nas residências e pela educação ambiental da população, segundo especialistas. Eles também recomendam a criação de parques ciliares.

“O parque ciliar consiste em devolver ao rio o leito natural dele. No caso do Arrudas, no contexto natural, talvez não seria possível. Ele continuaria a ter interferência urbanizada. As áreas do entorno não podem ter esse tipo de uso que têm hoje, e, sim, uma espécie de parque, com áreas verdes de lazer e ciclovias”, explica o urbanista Roberto Andrés.

Para o geólogo Alessandro Borsagli, os erros começaram na criação da capital, quando os cursos d’água foram retirados de seu leito natural para serem adequados ao traçado da urbanização. “O que pode ser feito principalmente é a criação de áreas permeáveis nas vertentes dos cursos d’água. Isso contribuiria para a diminuição da velocidade de escoamento superficial e para a água penetrar no solo”, pontua.

 

Fonte: O Tempo

Postado originalmente por: Portal Sete

Pesquisar