Novidade no Brasil e tendência mundial, o conceito de indústria 4.0, que aumenta a produtividade das empresas conectando as máquinas para que elas transmitam e gerem informações, começa a despontar no Estado. Segundo levantamento da unidade local do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai MG), Minas tem pontuação 1,98 em uma escala que vai de 1 a 5 e mede a maturação da implementação de tecnologias específicas, permitindo o surgimento das “fábricas inteligentes”.

O número ainda é baixo, mas indica esforço da indústria mineira em implantar as tecnologias no chão de fábrica, conforme afirma o gerente de tecnologia e educação para a indústria do Senai MG, Ricardo Aloysio. De acordo com ele, o sensoriamento das máquinas, que permite a integração dos equipamentos, é o primeiro passo para se criar as indústrias da quarta geração.

“A quarta revolução industrial nasceu na Alemanha, em 2012, e é baseada em um sistema cyber-físico de produção, que significa conectar toda a cadeia produtiva, utilizando esses dados para aumentar a competitividade”, explica o especialista.

Pelo andar da carruagem, ele estima que em meados de 2027, 15 anos após o termo ter sido cunhado, o Brasil esteja em um patamar 3, ou seja, no meio do caminho para a implantação total. Até lá, no entanto, é necessário melhorar a infraestrutura de rede das cidades para viabilizar a internet das coisas, que utiliza banda larga mais potente.

A dependência da internet de boa qualidade é fácil de explicar. Sem um wi-fi reforçado, por exemplo, toda a fábrica pode parar.

Quando estiverem mais maduras, as tecnologias serão capazes de melhorar, e muito, a competitividade do Estado, incrementando o Produto Interno Bruto (PIB) e o faturamento da indústria, que hoje respira por aparelhos.

A capacidade de investimento das companhias também deve ser levada em consideração para estimar a velocidade com que as fábricas se tornarão inteligentes. Conforme o especialista, o custo para implantar internet das coisas nas indústrias gira em torno de R$ 1 mil para cada quatro máquinas que receberão o sensor. O valor, na avaliação do gerente do Sebrae, é baixo frente ao aumento da competitividade. “Mas o empresariado mineiro é desconfiado. É de se esperar que ele veja os resultados em outras praças antes de investir”, diz Ricardo Aloysio.

Conectar uma máquina à internet e produzir informações a partir dela reduz substancialmente os custos e aumenta a produtividade, ele comenta. “Se uma máquina parar, ela pode mandar uma mensagem para a operação informando, antes, que está com problemas. Dessa forma, há uma antecipação para solução das falhas”, afirma.

Se a máquina estiver com o regime de trabalho alterado, produzindo menos, ela também pode enviar uma mensagem ao mantenedor, possibilitando ajuste no equipamento antes mesmo de a produção apresentar falhas.

O economista do Ibmec Felipe Leroy ressalta que o tema é muito recente e destaca que a indústria 4.0 extrapola a planta. “Participei de uma imersão sobre o assunto com CEOs no Rio de Janeiro e conheci projetos sensacionais da indústria 4.0”, afirma.

Como exemplo dos produtos em desenvolvimento, ele cita bodies de bebês que são capazes de medir a temperatura da criança e papeis de parede com isolamento térmico e acústico.

“É um conceito totalmente disruptivo, inovação de processo e de produto. No caso da planta têxtil, o tecido entra chipado na máquina. É possível medir o custo de produção, a melhor maneira de cortar o tecido sem perdas, entre outros”, diz Leroy.

Setores automobilístico, siderúrgico e de bebidas saem na frente

Em Minas, três setores despontam na implantação das tecnologias que caracterizam a indústria 4.0: automobilística, siderurgia e o de bebidas, conforme o gerente de tecnologia e educação para a indústria do Senai MG, Ricardo Aloysio.

Segundo ele, a indústria automobilística sai na frente por ter mais capacidade de investimento. Embora a Fiat não informe o valor do aporte realizado até agora em indústria 4.0, é possível perceber que ele foi alto. Basta andar pela fábrica para encontrar robôs colaborativos, funcionários utilizando exoesqueletos e salas de Proof of Concept (PoC), onde são testadas ideias para melhorar a produtividade e a competitividade da fábrica.

“Eficiência é o que vai garantir o futuro das empresas. Em Betim, a cada lançamento, otimizamos a inteligência da nossa operação com a análise de dados precisa, o desenvolvimento e capacitação de pessoas e a implantação de tecnologias de ponta, como o exoesqueleto no Polo Fiat, com foco no aumento da eficiência e qualidade, seja dos postos de trabalho como dos nossos produtos. Na prática, são linhas mais modernas, compactas, com gestão avançada e sistemas conectados”, afirma o gerente de Engenharia de Manufatura da Fiat Chrysler Automóveis(FCA) para a América Latina, Glauber Fullana.

Como consequência, ele destaca que já é possível constatar ganhos significativos na eficiência dos processos de algumas linhas de produção, com redução dos custos. “O que vemos é que o nível de imprevistos e de distúrbios na produção diminuiu muito. Mas este é um processo contínuo e os ganhos de eficiência e qualidade serão contínuos e crescentes”, diz.

O diretor corporativo de inovação e tecnologia da informação da Usiminas, César Bueno, destaca que a cultura da empresa afeta de maneira crucial a implantação da indústria 4.0. Por isso, é necessário que o ambiente industrial esteja aberto às mudanças.

Para isso, a siderúrgica criou um comitê digital e colocou pessoas estratégicas nos mais diversos setores. “Cada área tem um embaixador da inovação, que tem capacidade de gerar desconforto nos processos, que muitas vezes são ‘jurássicos’”, afirma.

E o esforço tem dado certo. Na companhia, vários treinamentos são realizados por meio de realidade aumentada. “Em vez de ferramentas online ou professores, temos cursos operacionais que simulam o ambiente de trabalho por meio dessas soluções. Inclusive, de segurança de trabalho. A ferramenta permite repetir o ambiente por meio de realidade virtual, traz o profissional para próximo da realidade”, explica o executivo.

Além disso, a empresa implantou chat bots para atender aos chamados de help desk e está rastreando os veículos para que o cliente saiba em tempo real onde está a carga. Como reflexo, ele afirma que é possível perceber ganhos de eficiência que variam entre 5% e 25%.

Para o dirigente da siderúrgica, apesar da automação, não há fechamento de postos de trabalho. “As pessoas são realocadas em novos postos. Se antes eu tinha dez pessoas no backoffice, por exemplo, eu posso colocar essas dez pessoas para campo e aumentar minha capacidade de vendas”, afirma.