Mick Jagger, Salvador Dalí, Orson Welles e Pink Floyd: por que a primeira versão de “Duna” nunca saiu do papel

Um dos filmes mais esperados de Hollywood teve versão incompleta rodada por diretor chileno nos anos 1970

O filme Duna, do diretor Denis Villeneuve, que tem previsão para estrear em 2020, promete colocar na telona um dos melhores elencos de todos os tempos de Hollywood: além do protagonista Oscar Timothée Chalamet, estão no casting nomes como Javier Bardem, Josh Brolin, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Charlotte Rampling e Jason Momoa.

O filme é uma adaptação para o cinema do livro de ficção científica de mesmo nome publicado pelo escritor estadunidense Frank Herbert em 1965. Villeneuve, que fez fama com filmes como Sicario (2015) e Blade Runner 2049 (2017), vai competir com um filme de mesmo nome e mesma ideia que já foi feito muitos anos atrás: o do diretor chileno Alejandro Jodorowsky, que na verdade nunca foi terminado.

Alejandro Jodorowsky, que também é escritor, ator e “psicomágico”, é conhecido entre os cinéfilos pelos seus filmes surrealistas. Dois deles, especialmente, são mundialmente famosos: El Topo, de 1970, e A Montanha Sagrada, de três anos depois, que teve parte da produção financiada por John Lennon e cujas imagens foram usadas por Kanye West em uma turnê internacional em 2013.

Ambas as fitas foram concursos abertos para a entrada de Jodorowsky no rol dos grandes cineastas da história: em 1974, o produtor francês Michel Seydoux lhe contatou afirmando que, a partir dali, financiaria qualquer obra cinematográfica que ele decidisse empreender.

Com o dinheiro de Seydoux, Alejandro Jodorowsky decidiu rodar uma adaptação de Duna, mesmo sem ter lido o livro de Herbert. A obra narra uma batalha pelo controle de um planeta deserto chamado Arrakis, mas que se torna Duna durante o roteiro. O protagonista é um adolescente, Paul Atreides, que lidera exércitos e cavalga sobre insetos gigantes – algo impensável de ser reproduzido no cinema nos anos 1960.

Alejandro Jodorowsky não só quis adaptar o livro, mas viu na sua adaptação uma oportunidade de mudar a mentalidade dos jovens do mundo. “É possível mudar as percepções do público criando um deus artístico e cinematográfico”, disse em entrevista ao jornal La Tercera na época.

Segundo uma reportagem do jornal francês Le Monde, Seydoux alugou um castelo para que o diretor chileno escrevesse o roteiro e pensasse no elenco do filme. O primeiro colaborador convidado foi Jean Giraud, um dos artistas mais cômicos da França daquela época, que ficou responsável por pensar no desenho do filme — ele era chamado por Seydoux e Jodorowsky como o primeiro “guerreiro espiritual” de Duna.

Logo vieram outros: Dan O’Bannon para os efeitos visuais, HR Giger para planejar os aspectos mecânicos das máquinas do planeta da ficção, Chris Foss para projetar a nave espacial do filme e os membros da banda britânica Pink Floyd para a trilha sonora — eles tinham acabado de lançar seu oitavo álbum, The Dark Side of the Moon. Há quem diga que houve inclusive uma reunião em Paris, na França, com todos esses “guerreiros espirituais”.

Para o elenco, Jodorowsky colocou seu próprio filho, Brontis Jodorowsky, como ator principal — ele passou dois anos tendo treinamentos intensivos de artes marciais. Mas ele era somente o filho do diretor em uma lista de contratados que incluía Mick Jagger, David Carradine, Udo Kier, Orson Welles e Salvador Dalí, que atuaria como o imperador da galáxia.

Tudo isso — Dalí só aceitou com a condição de ser o ator mais bem pago da história de Hollywood e Welles topou participar do filme desde que Jodorowsky lhe pagasse os jantares de todo o período de rodagem no seu restaurante preferido de Paris — começou a ficar muito caro. O jornal New York Times diz que Alejandro Jodorowsky e Michel Seydoux viajaram aos EUA em 1975 para pedir US$ 5 milhões aos produtores para começar a filmar a obra. “Tudo era genial, exceto o diretor”, diria o produtor francês tempos depois em um documentário.

Alejandro Jodorowsky, de fato, criou vários problemas, como o fato de não querer reduzir o tempo de duração do filme — ele queria que tivesse 10 horas, enquanto Hollywood advogava por duas. No fim, estes venceram ao decidirem colocar dinheiro em Guerra nas Estrelas, que virou um clássico da história do cinema. Duna, assim, nunca teve uma única cena rodada.

O trabalho de Jodorowsky, porém, não foi desperdiçado: ele e Giraud reciclaram muitos dos conceitos do filme para uma série de romances gráficos, como O Inca, que foi publicado em 1980, enquanto O’Bannon ficaria famoso por fazer o desenho de Alien. O roteiro do diretor chileno também seguiu rodando em Hollywood e foi usado como uma referência para Villeneuve, além de ter sido a base de filmes como Flash Gordon (1980), O Exterminador do Futuro (1984) e O Quinto Elemento (1997).

Da Redação com Conversion

Postado originalmente por: Portal Sete

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