Mas por que muitos idosos descumprem a exigência, mesmo que as informações sobre os riscos sejam divulgadas de maneira intensa em todos canais de comunicação? O psicanalista e psicólogo Fabiano Siqueira explica que muitos idosos vivem um processo de negação.

Segundo ele, há uma negação gramatical, de recusa de uma realidade externa e interna, como negar a existência e o perigo da pandemia, além de recusar a realidade de vulnerabilidade do corpo.

“Há ainda uma negação no sentido psicológico, chamada de denegação, que se aplica aos desejos, pensamentos e sentimentos do sujeito que estavam recalcados. Em dado momento, esse sujeito usa a negação para se defender”, explica.

A psicóloga Lívia Guimarães explica que muitos idosos têm medo da finitude, da morte, e da solidão. “Muitos deles se distraem com as coisas cotidianas da vida para se esquecerem dessas questões. Ir ao supermercado e ver gente na rua são ações que distraem dos medos. Quando estamos sozinhos, temos que olhar para dentro e lidar com as dores e angústias”, explica.

E ficar em casa não é fácil, especialmente para aqueles idosos que vivem sozinhos e, mais ainda, para os que moram em pequenos domicílios. “Imagina só ficar trancado, por tempo indeterminado, sozinho, em um apartamento pequeno, sem familiaridade com a tecnologia, com a TV ligada cheia de notícias ruins?”

A orientação de Lívia é que as famílias se engajem nessa questão. Não apenas obrigando os idosos a ficarem em casa, mas trazendo soluções para que eles não se sintam solitários. “É preciso criar uma cultura para que o idoso se sinta, dentro casa, útil, vivo. É preciso mantê-lo ocupado, dando a ele tarefas em casa que dá conta de fazer. Ele precisa sentir parte da casa e vivo”, recomenda.

idoso isolamento social

Alguns idosos utilizaram a academia ao ar livre durante o período de isolamento / Lucas Prates / N/A

Consciência

A psicóloga teve de lidar com essa questão em casa. Seu sogro, Antônio Mendes, de 77 anos, no início não aceitou o fato de que deveria ficar em casa. Mas, após muitas conversas, ele compreendeu a necessidade do isolamento.

“Eu morro ou fico dentro de casa preso. Prefiro ficar preso em casa”, conta seu Antônio. “Eu não tô acostumado a ficar em casa. A rua é onde divirto, distraio, tomo ar puro. Mas agora tenho que acostumar a ficar em casa, porque se não é caixão e vela. Tem que aceitar”, completa.