VIDA REAL: Bandidos roubam contêiner e ação é comparada com série “La Casa de Papel”

Ação considerada cinematográfica roubou cerca de R$16 milhões de contêiner de avião que havia acabado de pousar no aeroporto

“Impossível ter feito isto sem ter a ajuda de alguém de dentro.” A frase é repetida por funcionários, investigadores da Polícia Federal e policiais militares que atenderam à ocorrência do roubo no aeroporto de Viracopos na semana passada, em que 4 milhões de dólares, R$ 3,4 milhões de reais e 1.300 libras esterlinas, um total de R$16 milhões que pertenciam a um banco especializado em operações de câmbio, foram levados por um grupo de assaltantes.

Mais de 30 pessoas já foram ouvidas pela Polícia Federal, entre elas funcionários do aeroporto. Os investigadores também suspeitam que o roubo tenha começado ainda no aeroporto de Guarulhos, local onde os malotes com o dinheiro foram carregados no avião, um cargueiro de uma empresa aérea alemã.

Mas a PF não dá detalhes oficiais sobre o andamento das investigações, que correm em sigilo, mas movimentam a Delegacia da Polícia Federal em Campinas, interior de São Paulo. A unidade recebeu reforços da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo e um delegado da Polícia Civil também passou a integrar a equipe responsável por investigar o roubo.

Em 2017 ladrões usaram caminhonete clonada com cores da empresa do aeroporto em um roubo em 2017 em Vitória (ES) Reprodução
Em 2017 ladrões usaram caminhonete clonada com cores da empresa do aeroporto em um roubo em 2017 em Vitória (ES)
Reprodução

Segundo a especialista em segurança pública Marcelle Figueira, é natural que a polícia trate com sigilo o caso. “Em ações deste porte, em que a participação de pessoas próximas da operação, seja da logística ou da segurança, são consideradas suspeitas. Este é o procedimento correto”, diz Marcelle.

Mesmo com sigilo, o site R7 apurou que os investigadores do caso já reuniram dezenas de câmeras, das mais de mil existentes no aeroporto, e que registraram o trajeto e a ação, algumas com riqueza de detalhes e boa qualidade. A ausência de digitais e a tranquilidade com que os assaltantes agiram também chamam a atenção de quem trabalha no caso, considerado uma ação profissional.

Entre os funcionários do aeroporto, a ação gerou clima de insegurança e queixas de que a região, por ser uma área restrita aeroportuária, não tem atenção das forças de segurança. O local do roubo fica a menos de 500 metros de postos da Polícia Civil, da Polícia Militar e da própria Polícia Federal.

Especialistas são unânimes em reconhecer que pouco poderia ser feito para coibir o assalto. “É uma ação fora da curva, que, sem uma denúncia, fica quase impossível que forças de segurança públicas ou privadas pudessem coibir”, afirma Marcelle Figueira.

A sofisticação que chama atenção do público em geral, que considera o roubo uma ação cinematográfica, cuja referência mais óbvia é a série espanhola “Casa de Papel” e o meticuloso plano para assaltar a Casa da Moeda da Espanha, não ganha respaldo dos investigadores, já que muitas das estratégias dos ladrões já foram utilizadas em outros assaltos pelo país.

A clonagem dos veículos de segurança usados pelo aeroporto, por exemplo, foi uma repetição de uma ação utilizada na tentativa de assalto a um carro forte no aeroporto de Vitória (ES), em janeiro do ano passado. A invasão na área restrita do aeroporto também não é novidade. Em 2015, um grupo já havia levado uma carga de eletrônicos avaliada em R$ 2,5 milhões, também do terminal de cargas de Viracopos.

Ação Precisa e Rápida

A ação em Viracopos começou em um matagal no bairro Jardim Planalto, vizinho do aeroporto. A área faz divisa com a grade que demarca o sítio do aeroporto. No local, há um campinho de futebol, com um barraco onde funciona um bar improvisado. Testemunhas disseram que o “carro do aeroporto” passou no local duas vezes no domingo, uma no fim da tarde e outra no início da noite. Depois nunca mais foi visto.

O carro do aeroporto seria a Hylux Amarela usada no roubo. Ela tinha adesivos e sirenes luminosas e era idêntica à usada pelas equipes de segurança do aeroporto, imitando a ação feita no aeroporto de Vitória em 2017.

Local onde a cerca foi cortada para que os assaltantes entrassem na área do aeroporto de Viracopos Márcio Neves/R7
Local onde a cerca foi cortada para que os assaltantes entrassem na área do aeroporto de Viracopos
Márcio Neves/R7

Protegidos pela vegetação densa do local, os homens, ao menos cinco segundo a polícia e sete segundo moradores do local, cortaram a grade, fizeram uma rampa improvisada e tiveram acesso a uma estrada interna da área do aeroporto. Naquela área existe uma outra cerca, com portões de acesso para uma outra estrada interna que permite acessar a pista de pouso e os terminais de passageiros e cargas. Os assaltantes arrombaram estes portões e, a partir dali, estavam dentro da área restrita.

Do local onde foi feito o buraco nas grades, os assaltantes já tinham também uma vista privilegiada da pista e puderam ver o avião cargueiro pousar às 19h34, vindo de Guarulhos com a valiosa carga. Após o pouso, o avião, um cargueiro MD-11, começou a taxiar — nome dado para o movimento de estacionamento da aeronave.

Após isso, as equipe de cargas do aeroporto começaram a manejar as cargas da aeronave. Segundo funcionários do aeroporto, o procedimento é normal. “Muitas cargas precisam ser readequadas no porão do avião, para distribuir o peso”, afirmou um funcionário de uma empresa que opera no terminal de cargas de Viracopos.

Os investigadores estimam que os assaltantes começaram a ação por volta de 19h20, mas que as grades ja haviam sido cortadas muito tempo antes, logo ao anoitecer, momento em que os veículos de segurança deixam de percorrer a estrada mais externa ao redor do aeroporto. A informação foi confirmada por funcionários do aeroporto.

Após entrarem pelos portões que foram arrombados, os ladrões encontraram um carro da segurança que fazia a ronda nessa segunda estrada, já bem próxima da pista de pouso e decolagem. No carro havia dois funcionários da GPS Segurança, que presta serviços para o aeroporto de Viracopos. Eles foram rendidos e obrigados a acompanhar a ação.

Na fuga, um outro portão que dá acesso a estrada da parte mais externa ao aeroporto é arrombado. A saída é por uma abertura feita na cerca externa do aeroporto, já próximo à rodovia Santos Dumont (SP-75). Após esta fuga, os assaltantes trocaram de carro e atearam fogo no veículo clonado utilizado na ação.

Após esta troca de carros, não há mais informações sobre o paradeiro dos assaltantes. Os investigadores afirmam que também estão analisando as imagens da rodovia e de empresas próximas na tentativa de identificar o veículo utilizado na fuga.

Uma semana depois do assalto, ninguém ainda foi preso ou detido.

Outro lado

O Banco Rendimento, que era o dono do dinheiro e fez a remessa ao exterior, afirma que colabora com as investigações e diz que “a operação é rotineira do mercado de câmbio, e que todas as normas estavam centro cumpridas”. A Receita Federal, órgão que fiscaliza o envio de dinheiro para o exterior, também afirmou que a remessa atendia todos os requisitos legais, e reconheceu que a operação é rotineira.

A Lufthansa, empresa proprietária do avião que fazia o transporte do dinheiro, e a Aeroportos Brasil, empresa concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Viracopos, afirmam que estão colaborando com as investigações.

Já a Polícia Federal informa que o caso segue em sigilo para não prejudicar as investigações, que continuam em andamento.

Da Redação, com Yahoo.com

Postado originalmente por: Portal Sete

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