Cresce procura por atendimento na rede de saúde mental do município

Procura pelos atendimentos da rede de Saúde Mental do município cresceu significativamente desde o início da pandemia, em março do ano passado. Somente no Serviço Intermediário de Atenção Psicossocial (Siap) foram 1.490 novos casos e nos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), mais de 500 novos pacientes graves.

O psicólogo Sérgio Marçal, que é diretor da Atenção Psicossocial do município, disse que o aumento de casos nesse período tem ligação com o momento que estamos passando. “O aumento da demanda é muito expressivo e sinaliza para situações reativas, ou seja, aquelas em que o paciente se manifesta diante de uma questão específica, como a pandemia, havendo também o agravamento dos casos de pessoas que já possuíam algum sofrimento ou transtorno mental”, completou Sérgio.

Nas queixas relatadas por aqueles que procuraram o Siap bem como o Caps a predominância são crises de ansiedade e depressão em seus diferentes subtipos. Sérgio também disse que “é importante destacar o aumento de casos novos e o agravamento de casos que já eram assistidos em decorrência da pandemia”.

Luiz Carlos Fortes, psiquiatra que atende no Caps do ambulatório Maria da Glória e, também, em consultório particular, relatou à reportagem do Jornal da Manhã que, nos últimos meses, tem notado procura maior de consultas. Os sintomas mais frequentes expostos pelos pacientes são sensação de fadiga, falta de disposição, dificuldade de concentração, sensação de falta de ar e aperto no peito, insônia, pensamentos obsessivos de insegurança em relação ao futuro e declínio do humor.

“É natural sentir angústia e tristeza durante o período de isolamento e diante de tantos acontecimentos e notícias cada vez piores sobre a crise sanitária global”, diz Sérgio Marçal. Ele orienta que a população deve ficar atenta caso se perceba mudanças no comportamento e a ajuda profissional deve ser procurada assim que se observar os sintomas constantes e prejuízos na rotina para desenvolver atividades que antes eram feitas com tranquilidade. “Nestes casos, é importante e necessário procurar ajuda profissional, lembrando que a saúde mental não está dissociada da saúde geral, ou seja, exige iguais cuidados, e que qualquer sintoma não tratado pode evoluir para uma doença grave”, alertou o psicólogo.

No atual momento, em que as medidas de distanciamento precisaram ser adotadas, os atendimentos a pacientes que já estão vinculados à rede de saúde mental estão sendo feitos de forma remota. Os profissionais estão fazendo uso de recursos como chamadas de vídeo, atendimentos em grupo por aplicativos de reuniões e, também, através de chamadas telefônicas. “O modelo de trabalho e abordagem tem sido reavaliado constantemente e adaptado aos diferentes estágios da pandemia, de modo a resguardar a integridade de pacientes e trabalhadores da Saúde”, informou o diretor de Atenção Psicossocial do município. 

Caps Infantil recebe cerca de dez novos casos de crises por semana

Os casos de sofrimento mental grave em crianças e adolescentes cresceram muito e chama atenção o fato que o Caps Infantil tem admitido até dez novos casos por semana de situações de ansiedade e seus subtipos (crises de pânico, fobias específicas, TOC), além do aumento de casos de depressão grave, inclusive com tentativas de suicídio e automutilação, informou o diretor da Atenção Psicossocial, Sérgio Marçal. “O isolamento social, a perda do convívio e a interação social entre pares na escola, como também a mudança abrupta e prolongada da rotina, têm impactado de forma negativa e importante na saúde mental das crianças e adolescentes”, explicou Sérgio.

A pediatra Marília Monti Castro alerta os pais para prestarem atenção nos sentimentos que as crianças demonstram em casa. Alguns critérios a serem considerados, como humor deprimido ou irritável, perda de interesse em atividades, perda ou aumento de apetite, podem indicar um estado depressivo. Marilia relatou que, em seu consultório, tem recebido queixas sobre crianças que começaram a roer as unhas, desinteressadas, apresentando falta de entrosamento com a família e compulsão alimentar. “Existe a necessidade de diferenciar se tais sintomas são adequados à resposta de um estímulo externo que a criança está tendo, que é a pandemia; a todas as coisas difíceis que todos estão passando ou se já entrou em um quadro de depressão ou ansiedade”, explicou.

A pediatra deu algumas dicas para os pais: tentar manter a rotina na casa com horários para estudar, brincar, hora de dormir e de acordar; estimular o contato com os amigos on-line e determinar um limite de tempo para uso de eletrônicos.

Todas as Unidades Básicas de Saúde do município de Uberaba possuem psicólogo de referência que compõem o Núcleo de Apoio à Saúde da Família, o Nasf. Nas UBSs é possível agendar atendimento, em que será feita a consulta caso a situação seja de baixa complexidade. Os casos de atendimento especializado serão encaminhados para o Caps ou Siap. Após o acolhimento do paciente, é feita triagem, em que são levantadas as necessidades de cada um e definida a conduta de serviço compatível com o caso. 

Postado originalmente por: JM Online – Uberaba

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