Dos 148 óbitos registrados em Uberaba em abril, 42 foram de pessoas com menos de 60 anos

Já são 3.116 novos casos de Covid-19 confirmados em abril e 148 mortos, segundo dados obtidos nos boletins epidemiológicos divulgados pela Prefeitura de Uberaba. Os números só não são piores do que os registrados em março, que fechou com 176 óbitos e 3.861 novos casos. Ao todo, já são 12.406 casos confirmados na cidade apenas este ano, que já registrou 438 óbitos.

Os números preocupam, sobretudo pela variação da faixa etária das vítimas fatais e pelo tempo que estão passando internadas antes de irem a óbito. Somente em abril, 42 pessoas com menos de 60 anos perderam a luta para a Covid-19 em Uberaba; inclusive, três delas tinham menos de 30 anos. Essa mudança no perfil do infectado pode ser explicada pela vacinação, na avaliação do infectologista Rodrigo Molina.

“A gente está vendo que mudou mesmo o perfil do paciente. Aquele paciente mais idoso, que a gente via no começo, ficou protegido. Ele ficou protegido porque ficou em casa e também agora pela vacina. Então a gente começou a ver a doença agora em pessoas mais jovens, inclusive sem comorbidades, porque são as pessoas que mais ficaram expostas, tanto as que estão trabalhando quanto as que estão se divertindo sem dó nem piedade do resto da população”, explica Molina.

Além disso, o infectologista argumenta que, com a vacinação em andamento, cada vez mais vai ser restringida a população acometida pelas formas graves da doença. “A gente está vendo sim que os jovens começaram a ser um grupo importante, porque eles estão muito expostos e é o grupo mais difícil de a gente segurar, de cumprir as medidas protetivas. Agora vai ser o grupo mais afetado, porque vai diminuir com o grupo dos vacinados”, afirma.

Contudo, mesmo teoricamente tendo recebido já a segunda dose da vacina, muitos idosos ainda estão morrendo em Uberaba. A reportagem do Jornal da Manhã acionou a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal para ter acesso a levantamento de caso a caso dos idosos que perderam a batalha contra a Covid-19 desde o fim de março, quando muitos deles já deveriam ter recebido as duas doses das vacinas. Rodrigo Molina explica que, apesar dessa imunização ter ocorrido, é importante lembrar que as vacinas não são garantia de que a pessoa não vai pegar a doença. Na verdade, os imunizantes protegem contra as formas graves.

“Primeiro a gente tem que lembrar que a vacina protege das formas graves, mas não impede a pessoa de ficar gripada. Não vi o perfil individual desses pacientes para saber se eles tinham alguma outra doença associada, o que que aconteceu. Então, muitas vezes um quadro infeccioso pode descompensar outras doenças. Às vezes era uma pessoa que já era hipertensa grave, já tinha alguma outra doença fácil de descompensar, e a gente tem que lembrar que o idoso não tem reserva funcional. Isso significa que as doenças são mais agressivas no idoso e na criança. Então pode ter sido por uma descompensação de uma doença que a pessoa já tinha, devido ao quadro gripal, e aí ela se complicou, quando entra junto uma pneumonia bacteriana, que em paciente idoso tem alta taxa de mortalidade, então pode ter sido por uma série de fatores. É preciso analisar caso a caso e não no bolo geral epidemiológico”, pondera o infectologista.

Nesse mesmo sentido, Rodrigo Molina também aborda a questão das crianças, que começam a chamar a atenção não só por estarem ocupando leitos de terapia intensiva com diagnóstico confirmado para a Covid-19 como, em alguns casos, evoluem para óbito, como foi o caso de recém-nascido em Água Comprida recentemente. O infectologista aponta que, a exemplo dos idosos, as crianças também têm o sistema imunológico menos robusto. “A gente viu nesse primeiro ano de epidemia que as crianças não foram um grupo muito afetado. Parece que eles toleram um pouco mais a doença. Claro que sempre vai ter criança que vai evoluir para quadro grave e todo quadro grave em criança não é grave, ele é gravíssimo. Porque a criança não tem essa reserva funcional fisiológica que um adulto jovem tem”, finaliza Molina.

Postado originalmente por: JM Online – Uberaba

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