EDITORIAL: A pandemia das fake news

Terra sem lei é uma expressão comumente usada para definir as redes sociais, que muitas vezes presta mais desserviço do que serviço. Não temos dedos nas mãos de todos os brasileiros para contar em quantas “pegadinhas” as redes sociais já nos colocaram. E quem pratica esse tipo de crime não percebe que as vítimas somos nós. Eu, você, o vizinho, a amiga, Deus, Raimundo e todo mundo. É exatamente o momento em que a Imprensa (com “i” maiúsculo mesmo) mostra o seu valor. A informação chega às pessoas para dissipar dúvidas, ao passo que as fake news se espalham mais rápido que o coronavírus, causando danos diversos. Por isso, apoiar o jornalismo sério, profissional, com credibilidade é tão importante.

O que diferencia os “repórteres” de redes sociais e os jornalistas que carregam no peito um nome como o do Jornal da Manhã e de tantos outros veículos sérios e respeitados em Uberaba é justamente isso: o respeito pela informação correta e confiável.

Nas redes sociais – as tais “terra sem lei” – é comum alguns “repórteres”, “blogueiros” e demais pessoas fazerem as mais bizarras acusações à imprensa séria e até mesmo incitarem outras pessoas a depreciar a imagem de veículos que pautam sua trajetórias na responsabilidade e no compromisso com seu público. Tudo isso faz parte do dia-a-dia de veículos de comunicação sérios, dentre os quais o Jornal da Manhã e a Rádio JM.

Mas e quando esses agentes “depreciativos” saem do anonimato das redes sociais e passam a atuar em órgãos oficiais?

Ver o governo, seja em qualquer esfera, trabalhar contra a imprensa chega a arrepiar os defensores do Estado Democrático de Direito. Ora, a liberdade de expressão deixou de ser um direito constitucional para virar arma contra a própria imprensa?

Esta semana nós fomos vítimas, mais uma vez, de notícias falsas, usando indevidamente o nome do Jornal da Manhã. Pessoas de bem pegaram notícia publicada na versão online de segunda-feira, 1º de março, e na versão impressa, de terça-feira, 2 de março, e se colocaram nas filas de vacinação acompanhadas de seus parentes idosos, de 85 e 84 anos. Mas, eles foram impedidos de se vacinar, porque a informação do JM, segundo os profissionais no drive-thru, era “mentirosa”.

Ora, as informações divulgadas pelos veículos JM foram obtidas de forma lícita e junto a fonte oficial, no caso a secretária-adjunta de Saúde, Fabiana Prado, que é o grande esteio da comunicação neste momento tão triste e doloroso que estamos vivendo durante a pandemia da Covid-19. Sempre solícita, a doutora Fabiana atende a reportagem da Rádio JM e do Jornal da Manhã sempre de forma respeitosa aos jornalistas que conduzem as entrevistas e aos ouvintes, ávidos pelas informações por ela passadas. A essa médica exemplar só temos a agradecer!

Mesmo com incansável trabalho à frente da Saúde em Uberaba, junto com o secretário Sétimo Bóscolo, Fabiana Prado já teve suas falas contraditadas pela assessoria de comunicação da administração municipal. Mais de uma vez, inclusive, somente com informações prestadas ao Jornal da Manhã e Rádio JM. A primeira delas foi lá no dia 17 de fevereiro, quando, ao ser questionada sobre provável aproveitamento do Hospital São José para reforço ao atendimento a pacientes com Covid, doutora Fabiana disse que a possibilidade de uso da estrutura daquele hospital não estava descartada. Sempre serena e ponderada, a adjunta disse que não tinha muitos detalhes de como o HSJ poderia ser usado pelo Município.

Como é de praxe, jornalistas da casa acionaram o departamento de comunicação da Prefeitura de Uberaba para obter mais detalhes sobre o São José, até para trazer uma resposta para a população que sempre pede seu uso diante do colapso iminente da rede hospitalar em Uberaba.

“Não há, neste momento, nenhuma perspectiva para uso do Hospital São José, visto que o Hospital Regional tem capacidade significativa para ampliação visando atender a comunidade. Cabe lembrar que uma reforma no São José acarretaria um investimento significativo com estrutura, o que não é o caso do HR, que já está pronto, tem estrutura moderna, compatível com os padrões hospitalares mais elevados, atendendo todas as normas técnicas necessárias”, disse ipsis litteris a nota enviada à reportagem.

Naquela oportunidade, “nos safamos” de publicar informação sobre a qual a Prefeitura apresentaria outra versão, na sequência. “Sorte” semelhante não tivemos no início de março, com as idas e vindas sobre o cronograma da vacinação para idosos na faixa dos 84/85 anos…

Com a habitual presteza, Fabiana Prado foi novamente entrevistada na Rádio JM na segunda-feira, 1º de março, no programa O Pingo do Jota. Naquela oportunidade, ela adiantou aos ouvintes quais seriam as datas para imunização dos idosos nesta semana.

As notícias sobre vacinação são as que todo jornalista que se preze vibra em divulgar em tempos nebulosos de pandemia. Ninguém gosta de falar sobre o número de mortos, nem sobre pessoas morrendo sem assistência hospitalar adequada. Noticiar os números estratosféricos de uma doença que assola um país desgovernado é doloroso para todo profissional que tem sangue correndo nas veias. Mas, falar sobre a chegada das vacinas é também uma dose de esperança para todo jornalista. Afinal, somos todos humanos e estamos vendo todos os dias nossos amigos e parentes vitimados pelo coronavírus…

Porém, quando uma informação positiva é contraditada, sem a adequada comunicação prévia, como neste caso da alteração no cronograma da vacinação, o que se fere não é apenas a palavra do entrevistado. Fere-se de morte a honra do veículo que a divulgou, maculando irremediavelmente seu trabalho, que foi realizado de forma lícita e responsável.
Inadmissível, sob todos os aspectos, o que se viu na manhã desta quinta-feira, quando idosos de 84 anos se colocaram na fila da vacinação na Funel desde as primeiras horas do dia, mas, chegando sua vez, ouviram que não poderiam receber as doses porque este não era o dia deles. E mais: foram “informados” que o Jornal da Manhã “inventou” as datas do cronograma e que somente as informações oficiais da Prefeitura que são dignas de crédito.

Em que país democrático a assessoria de imprensa do poder Executivo duela com a imprensa pela informação mais correta? Pelo “furo”? Desde quando o trabalho da assessoria é driblar a imprensa? São tempos muito loucos esses em que uma assessoria de imprensa trabalha contra a imprensa.

E para justificar tamanha afronta ao trabalho do Jornal da Manhã, a assessoria de imprensa da Prefeitura emitiu a seguinte nota: “A secretaria de Saúde informa que durante o momento da entrevista da Dra Fabiana, para a Rádio JM e TV Integração, o cronograma divulgado foi em cima da tabela disponibilizada pelo Estado. Coincidentemente, a equipe da vacinação estava na manhã de segunda-feira, recebendo o 4º lote da SRS. Junto com o lote vem a nota fiscal e junto a ela, veio anexa a Nota Técnica informando a mudança na vacinação. Como é de conhecimento, é preciso que Central de Vacinação siga as notas técnicas. Para evitar a ocorrência de situações como está, a partir de agora, a SMS só irá dar a informação após receber as remessas e verificar se houve mudança na programação, por meio de novas notas técnicas do Ministério da Saúde. Cabe destacar que, assim que foi observada a mudança, um release foi produzido e encaminhado a imprensa local, já com as informações corretas, e que seguiam as determinações do MS”.

Sem qualquer mea culpa.

Em torno do papel essencial que a imprensa exerce em uma democracia que se preze, é de se esperar parceria entre Poder Público e iniciativa privada, para disseminar a informação correta ao maior número possível de cidadãos. Todos temos um inimigo comum: o coronavírus. É contra ele que temos de lutar. E não de criar obstáculos, ou “pegadinhas”, ou até mesmo enveredar em disputas estéreis.

As ondas do rádio são os maiores pulmões do mundo, porque falam com todos. Com cada um. E chegam muito mais longe que redes sociais oficiais de qualquer governo. Um jornal com quase cinquenta anos de história como é o Jornal da Manhã chega nas casas, nos smartphones, nos carros, nos fones de ouvido, de praticamente todos os uberabenses. Tanto é que a fila vista hoje na Funel era praticamente formada por leitores do Jornal da Manhã. E desprezar o alcance desses veículos não é uma estratégia inteligente.

Vale destacar, por fim, que os veículos de comunicação são abastecidos diariamente com releases produzidos pela equipe de jornalistas da assessoria de imprensa da Secretaria de Comunicação. Impressiona a quantidade de retificações enviadas quase diariamente. Dia sim, outro também, a PMU precisa “corrigir” um texto, enviar uma errata, um novo texto com a advertência “vale este”. Teremos de esperar até qual horário para saber qual será a versão final dos fatos?

O release divulgado após a entrevista da doutora Fabiana trazia realmente informação diferente da que ela passou aos veículos que concedeu entrevista. Mas o texto oficial não trouxe qualquer alerta aos veículos de comunicação sobre a “mudança no cronograma de vacinação”. O questionamento que fica é: o interesse da assessoria de imprensa da Prefeitura é comunicar ou “furar” a imprensa?

Com esgotamento de leitos e com um pé na onda roxa, a preocupação de todos deve ser com a união para disseminar ao máximo as informações corretas, que são a única vacina eficaz contra as fake news. Para isso, é preciso ter urgência na divulgação da informação. Sem posteriores e tardios “vale este”, ou correções inadvertidamente divulgadas em forma de releases.

Postado originalmente por: JM Online – Uberaba

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