Manifestantes pegam carona em greve e pedem intervenção militar

Na contramão da história, do Brasil e de países da América Latina, manchada pelas ditaduras militares que provocaram a morte de milhares de seus cidadãos, bem como pelo cerceamento da liberdade, ontem um grupo de manifestantes foi para a porta do quartel da Polícia Militar, em Uberaba, e posteriormente na porta do Tiro de Guerra 11-003 pedir a intervenção militar. Depois, com a adesão de caminhoneiros de empresas e motoristas de carros, realizaram carreata por ruas da cidade e seguiram para a rodovia BR-050, onde interditaram o trânsito nas proximidades do posto Zote. Entre os participantes estavam até mesmo freiras e crianças.
Segundo Rodrigo Filia, um dos organizadores da manifestação, o grupo apoiou a greve dos caminhoneiros e agora reivindica uma intervenção militar no país. “A intervenção que estamos exigindo é que o país seja tomado pelas Forças Armadas e tirem nosso presidente de lá. Foi estipulado um prazo até a meia-noite para que fosse feito um acordo com os caminhoneiros e até agora ele não se manifestou. Não se manifestando, agora estamos querendo a intervenção, que o Exército tome conta, coloque a casa em dia e depois faça uma nova eleição”, afirma. Questionado se o fim da democracia seria a única solução para resolver os problemas do país, o manifestante afirmou que sim.
A manifestação da tarde de ontem, que começou com poucas pessoas na porta do quartel, cresceu quando se deslocou para o Tiro de Guerra, com chamadas em redes sociais.
Segundo os dicionários de língua portuguesa, democracia é o regime que se baseia na ideia de liberdade e de soberania popular, e num sistema governamental e político em que os dirigentes são escolhidos através de eleições populares. Sem ela, caminhoneiros não teriam direito à greve e grupos não poderiam ir às ruas realizar manifestação de qualquer tipo.
À Folha de S.Paulo, o general da reserva Antônio Mourão afirmou que não concorda com uma ação militar contra o governo federal para encerrar a crise política. Na avaliação dele, há “aproveitadores” pedindo uma intervenção das Forças Amadas, mas que soluções dessa natureza se sabe como começam e não se sabe como vão terminar. Para Mourão, se o governo não tem condições de governar, deve pedir a renúncia e antecipar as eleições, não dar margem para intervenção.
Aliás, ainda em entrevista à Folha, o general da reserva reforça que grupos de manifestantes têm radicalizado o discurso por uma “intervenção militar” para disfarçar o pedido por um golpe militar, como o que ocorreu em 1º de abril de 1964, que levou à prisão ilegal de 25 mil brasileiros, muitos dos quais as famílias nem tiveram mais notícia.

Postado originalmente por: JM Online

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