Blog do Leo Lasmar – Cruzeiro não decola. A culpa é do piloto ou do avião?

Amigos, assisti a coletiva do Felipe Conceição antes de ter visto o jogo contra o Tombense na íntegra. Estava na transmissão do jogo do Atlético, quase simultâneo, e consegui ver só o primeiro tempo ao vivo. O segundo, vi no dia seguinte, em casa, já depois de ter ouvido a coletiva e os elogios do treinador do Cruzeiro, exaltando a evolução (!!!) do time depois de mais um tropeço, que só não foi pior porque Fábio pegou um pênalti.

Procurei a evolução no jogo, com boa vontade, e não achei. Sinceramente, não achei. Aí cheguei a conclusão que precisava escrever aqui sobre esse Cruzeiro que não se encontra na temporada. Parei diante da tela em branco por uns minutos, sem saber direito por onde começar. E imaginei que Felipe deve estar vivendo exatamente isso a cada treino e jogo com esse elenco, fazendo suas várias mudanças na escalação em busca de um rumo, de um assunto, de uma sequência de vitórias.

Não sejamos injustos. Felipe não parte do nada. Uma ideia de jogo é clara, um sistema tático já está definido, na estrutura de 4-3-3, que vira 4-1-4-1 sem bola. A ideia de ter a posse, de trabalhá-la desde trás, de se aproximar mais do DNA ofensivo do clube mesmo que isso custe romper com o estilo de jogo de Felipão, que funcionou razoavelmente para a Série B. Corajoso. Isso está posto e tem sido repetido, mesmo com todo o problema de execução visível nos jogos.

O grande problema passa pela escolha das peças. Não há um time base, embora existam alguns titulares absolutos já definidos na defesa. O ataque já teve centroavante fixo e Sobis como falso nove. Nas pontas, já vimos jogador destro e canhoto atuando na direita e na esquerda.

Velocista, jogador de um contra um, segundo atacante aberto. O armador já foi Marcinho, Claudinho e até Ruschel. Na esquerda, Matheus Pereira já apareceu e o primeiro homem de meio já foi Matheus Neris e agora é Adriano. Sem padrão, sem repetição de escalação, sem convicção.

Aí a gente pensa em duas coisas: será que não é a hora de Felipe mudar a origem? Mudar a ideia de jogo? Mudar a formação? Tentar elaborar uma ideia de time mais condizente com os jogadores que tem?

Um 4-4-2 com Sobis e Moreno, um 4-2-3-1? A ideia atual de Felipe cabe no atual elenco do Cruzeiro? Matheus Barbosa, usado como segundo volante, não viveu no Cuiabá sua melhor fase atuando por ali. Marcinho era meia-armador em um 4-2-3-1 bem montado do Sampaio Corrêa na Série B.

Adriano, hoje primeiro homem de meio, jogou bem com Felipão em um sistema em que tinha a ajuda mais clara de Jadsom Silva e dois volantes em vez de um. Talvez as características dos jogadores disponíveis para Felipe o forcem, de alguma forma, a modificar o jeito de jogar. Talvez ele tenha que ceder.

Por outro lado, será que as peças tem desempenhado o que podem? Considerado a solução pra lateral esquerda do Cruzeiro, Alan Ruschel tem pelo menos três jogos ruins nesse início de trabalho, contra Uberlândia, América (como meio-campista) e agora contra o Tombense, com direito a expulsão boba. Não está 100% fisicamente e nunca completa os 90 minutos em campo.

Marcinho está em posição diferente, mas será que se esforça o necessário para se adaptar a esse papel de terceiro homem de meio, de composição de segunda linha de marcação? Será que está fazendo o possível no trabalho do dia a dia para assimilar isso e atender ao que o treinador lhe pede?

Rafael Sobis, curiosamente, também deve nesse início. De peça-chave no time de Felipão, reativo, que enfrentava um nível até superior de adversários na Série B 2020, para um centroavante com posição bastante ameaçada hoje por Marcelo Moreno, sem gols na temporada e com atuações bem abaixo do que entregava na temporada anterior. Isso, mesmo em um time que deseja circular a bola e prendê-la lá na frente, habitat de Sobis.

Dá pra falar também de William Pottker, de quem nem exigimos o nível avassalador da Ponte Preta, mas que mesmo no Inter em 2017 jogou mais bola, ou Aírton, que parece em clara crise de confiança em meio a disputa por posição no ataque do Cruzeiro, agora com mais opções no nível dele. É muita gente abaixo. E isso, não podemos cobrar só do Felipe.

Felipe Conceição já passou pela pressão de treinar um grande clube em início de temporada, reformular o time e sofrer. Experiência no Botafogo em 2018, clube que conhecia bem por ter sido atleta e treinador nas divisões de base.

Eliminado da Copa do Brasil no início, depois tomou uma pancada em um clássico decisivo contra o Flamengo e perdeu o emprego em fevereiro, com apenas sete jogos, mesmo número que tem no Cruzeiro atualmente. É um cenário que conhece, que sabe da pressão que carrega e que tenta não repetir.

Cruzeirense, quando estiver abrindo o seu ovo de Páscoa no domingo e ligando a TV para ver o jogo do Cruzeiro, que é as 11 horas, pouco depois da passagem do Coelhinho na sua casa, saiba que estará começando também uma semana chave para Felipe, para o Cruzeiro e para os jogadores.

Consequentemente, para o projeto de reconstrução. É semana que vai culminar no clássico no dia 11, com o jogo contra o Coimbra no meio de semana, pouco tempo pra treino e pressão para entrar no G4 antes de entrar em campo no Mineirão contra o Atlético.

Para repetir a insuficiente campanha do ano passado, que tirou o Cruzeiro na primeira fase do Estadual com 20 pontos, o time (que tem oito pontos) já precisa de quatro vitórias nos cinco jogos que restam. Pode se classificar com menos que 20 pontos?

Pode, e tudo indica que esse ano, o ponto de corte pra semifinal baixará. Mas o mais importante, que vai até além da classificação, é achar um caminho para que se tenha uma escalação ideal, um jeito de jogar, e que se saiba claramente as carências do elenco pensando no Brasileiro, esse sim, a prioridade. Boa sorte nessa semana, Felipe.

Por Henrique Fernandes – GE

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Postado originalmente por: Minas AM/FM

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