Itair Machado pode ter desviado dinheiro do Cruzeiro para uso particular.

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A primeira parte das investigações da Polícia Civil, que indiciou sete pessoas, concluiu que pelo menos três dívidas pessoais do ex-vice-presidente de futebol da Raposa, Itair Machado, foram pagas com o dinheiro do clube, a partir de negociações envolvendo atletas da agremiação.

Cobertura em Nova Lima

Uma das operações foi para pagar uma cobertura em um condomínio de luxo em Nova Lima, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. O imóvel é avaliado em R$ 6 milhões. Pelo menos uma parte do valor – R$ 3,7 milhões – foi quitada pelo empresário Cristiano Richard dos Santos Machado.

Richard teve relação com o Cruzeiro revelada pelo Fantástico, quando o programa mostrou que o empresário do ramo de equipamento de proteção individual firmou contrato com o clube, acertando empréstimo de R$ 2 milhões.

Um mês depois, as partes firmaram novo acordo. Nele, o Cruzeiro afirmou não ter condições de pagar a quantia e disponibilizou parte dos direitos econômicos de 10 atletas, incluindo uma criança de 11 anos, na época.

– Em data aproximada, esse mesmo empresário realiza pagamento de R$ 3,7 milhões a uma construtora para pagar parte de apartamento a um então dirigente do Cruzeiro. O que eles tentaram alegar, em suas defesas, seria que o pagamento dos mais de R$ 3 milhões seria em decorrência de um contrato de mútuo, contrato esse que sequer possui data de pagamento ao ex-dirigente e garantias. O empresário, então, seria beneficiado com os direitos federativos dos jogadores – apontou o chefe da Divisão Especializada em Investigação de Fraudes, Domiciano Monteiro.

Dívida com Marcelo Oliveira

A Polícia Civil, no momento da divulgação do relatório de investigações, não revelou o nome dos envolvidos, mas a Globo apurou que outra dívida de Itair Machado, paga com dinheiro do Cruzeiro, é relativa a outro clube do qual ele fez parte: o Ipatinga, do Vale do Aço mineiro. O débito é referente ao também ex-técnico da Raposa, Marcelo Oliveira. Foi quitado em 2018, com dinheiro do pagamento de comissão da venda do lateral Mayke com o Palmeiras, em operação realizada em setembro daquele ano.

Dos R$ 800 mil pagos em duas parcelas (outubro e novembro de 2018) à empresa Jeo Rafah Sports, cujo sócio é filho do empresário Carlinhos Sabiá – a título de intermediação pela negociação de Mayke -, pouco mais de R$ 700 mil foram endereçados a Marcelo Oliveira, que tinha valor a receber do Ipatinga a título de verbas rescisórias por sua passagem em 2009. O clube mineiro era então administrado por Itair Machado e que virou também responsável pelo pagamento em ação do treinador na Justiça do Trabalho.

Marcelo nada tem a ver com os desvios cometidos, somente recebeu o valor da dívida com recursos do Cruzeiro, que não estava envolvido com o débito. Carlinhos não era representante de Mayke e nem era cadastrado como intermediário, na época, na CBF.

Em depoimento à Polícia Civil, Marcelo Oliveira confirmou que recebeu o pagamento da dívida por meio de Carlinhos Sabiá e que o valor fora enviado por Itair Machado. Em contato com a reportagem, o treinador disse que não “tinha interesse em falar sobre o assunto”, mas o valor foi pago em 2018 “em nome do Ipatinga”.

Na semana passada, a Polícia Civil comentou sobre o dinheiro do Cruzeiro utilizado para pagar dívida acumulada do Ipatinga e de Itair Machado.

– Esse valor foi utilizado por esse intermediário para pagar dívida particular de ex-dirigente investigado com antigo treinador do clube que ele dirigia.

Contratação de Bruno Silva

O mesmo teria acontecido na contratação do volante Bruno Silva pelo Cruzeiro. O empresário envolvido – não citado pelas autoridades, é Carlinhos Sabiá, agente do jogador – recebeu comissão e repassa parte do valor para Itair Machado sanar dívida pessoal com um profissional liberal.

– Empresário recebeu valores de comissão acima do valor de mercado. Esse mesmo empresário repassa uma parte dos valores que ele recebeu para pagamentos de dividas que ex-dirigente do Cruzeiro possuía com profissional liberal. Investigação mostra isso: pagamento acima de valor de mercado para empresário, que usa parte dos valores para quitar dívida de um então dirigente do Cruzeiro com profissional liberal – disse o chefe da divisão especializada, Domiciano Monteiro.

Relatório da Kroll, obtido pela Globo, mostra que o Cruzeiro se comprometeu a pagar R$ 1,2 milhão a Jeo Rafah Sports, a título de intermediação pela contratação de Bruno Silva – a primeira de R$ 750 mil, com vencimento em 29 de janeiro de 2018, e a segunda, de R$ 450 mil, 10 dias depois. A agilidade para o pagamento da comissão chamou a atenção.

– A gente chegou a essa conclusão através do depoimento do ex-diretor financeiro, da insistência e exigência do pagamento dessa comissão de uma maneira mais ágil. Empresário de futebol, também ouvido, deixou que os valores pagos são totalmente alheios ao mundo do futebol. Com as provas testemunhais, com o sigilo bancário demonstrando que, parte do valor pago dessa comissão, foi para pagamento de dívida de ex-dirigente, a gente entendeu que o ex-dirigente praticou apropriação indébita de valores – afirmou o delegado que presidente o inquérito do Cruzeiro, o delegado Gustavo Xavier.

Há o registro de pagamento das duas parcelas com entrega de notas fiscais em ambas. Em valores líquidos, foram pagos R$ 1.146.000 a Jeo Rafah, de acordo com o relatório da Kroll.

Itair Machado, Sérgio Nonato (ex-diretor geral do clube) e Wagner Pires de Sá (ex-presidente) foram indiciados, na última semana, pelos crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa. O Ministério Público de Minas Gerais analisa o inquérito para avaliar se oferece ou não denúncia.

Procurado pela reportagem, Itair Machado disse que não existe prova nenhuma no inquérito. Até o momento, a defesa dos ex-dirigentes não tiveram acesso aos autos.

“Não procede. Não me beneficiei de nada. E não existe nenhuma prova contra mim no inquérito a não ser as denúncias anônimas e sem comprovação nenhuma. E confio na Justiça.”

A reportagem não conseguiu contato com o empresário Cristiano Richard. Já o empresário Carlinhos Sabiá se pronunciou por meio do seu advogado, Lúcio Adolfo. Ele explicou que seu cliente fez um empréstimo pessoal a Itair Machado, para quitar a dívida do amigo com Marcelo Oliveira.

Por meio de nota, o Cruzeiro analisa que medida tomar quantos às irregularidades apresentadas.

– O Cruzeiro reconhece que há diversas transações que indicam possíveis tendências prejudiciais ao Clube, incluindo os casos citados nas perguntas 3 e 4. O Departamento Jurídico tem analisado e mapeado todas as situações e traçado estratégias para tomar as medidas que julga necessárias e cabíveis nos momentos oportunos, para que não se prejudique a própria eficácia de sua atuação.

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Postado originalmente por: Minas AM/FM

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