Fibromialgia: a doença invisível

A fibromialgia é uma doença antiga, tendo sido descrita pela primeira vez em torno de 1904. Mas somente nos últimos 30 anos é que ela começou a ser mais estudada e seus mecanismos melhor entendidos. Ainda assim, principalmente por não ter causa definida, muitos pacientes enfrentam uma longa trajetória, acompanhada de dor crônica, até obter o diagnóstico. Entre os motivos estão a descrença na enfermidade e o despreparo médico, e o alerta é reforçado por quem convive diariamente com a síndrome.
A síndrome da fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Junto com a dor, a fibromialgia cursa com sintomas de fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas como alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Uma característica da pessoa com FM é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura pelo examinador ou por outras pessoas. mA fibromialgia é um problema bastante comum, visto em pelo menos em 5% dos pacientes que vão a um consultório de Clínica Médica e em 10 a 15% dos pacientes que vão a um consultório de Reumatologia.

De cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão porque isto acontece. Não parece haver uma relação com hormônios, pois a fibromialgia afeta as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa. Talvez os critérios utilizados hoje no diagnóstico da FM tendam a incluir mais mulheres. A idade de aparecimento da fibromialgia é geralmente entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes. O diagnóstico da fibromialgia é clínico, isto é, não se necessitam de exames para comprovar que ela está presente. Se o médico fizer uma boa entrevista clínica, pode fazer o diagnóstico de fibromialgia na primeira consulta e descartar outros problemas.
De acordo com a líder voluntária da Associação Nacional de Fibromiálgicos e Doenças Correlacionadas (ANFIBRO) de Minas Gerais Lessandra Sonia da Silva, a fibromialgia é conhecida como a “doença invisível” porque embora a pessoa aparente estar bem, na realidade pode estar em grande sofrimento. “A fibromialgia é uma doença caracterizada por “crises”, ou seja, uma pessoa que viva com esta doença pode sentir-se muito bem num dia e no dia seguinte não conseguir sair de casa. É necessário estar preparada para enfrentar e lidar com a imprevisibilidade da doença, uma vez que esta pode pôr em causa rotinas diárias, viagens, fins de semana a passear ou outros planos especiais”, explica.

Há dez anos, Lessandra Sonia trata de reumatismo e há dois descobriu que é fibromiálgica. Segundo ela, a fibromialgia é o que se chama de diagnóstico de exclusão, ou seja, é necessário ser avaliado por um médico que tenha experiência não só no diagnóstico, mas que amplie a visão, porque é fundamental afastar outras doenças, por exemplo, o paciente tendo artrite e reumatoide, pode até ter fibromialgia, mas são condições clínicas diferentes que podem até coexistir, assim como lúpus e a polimialgia reumática, então o olhar do médico é sempre ampliado para esse tipo de doença. “É difícil quantificar a dor de alguém. Ainda mais se ela nunca vai embora, fica ali, de forma persistente e generalizada, por muitos e muitos anos ou por toda a vida. Assim é na fibromialgia. O corpo todo reclama. É literalmente viver com os nervos à flor da pele, a ponto de a pessoa não querer nem ser tocada, porque um simples abraço gera sofrimento. E não é frescura. Sinto dor em tudo, mas há dias em que estou mais sensível e não suporto nem que me toquem”, diz.

Como se não bastasse essa agonia sem fim, o diagnóstico da fibromialgia não é fácil. Os exames não acusam o problema. Assim, os pacientes costumam passar por vários médicos e enfrentar o descrédito de parentes e da sociedade em geral. “Isso ocorre primeiro porque o quadro de fibromialgia pode simular outras doenças. O uso de medicamentos para baixar colesterol, como as estatinas, dá dor muscular. No hipotireoidismo, há problemas com os níveis de cortisol. E em algumas doenças neurológicas, como no Parkinson, a pessoa tem muita contratura muscular. E aí, o paciente fica indo de consultório em consultório, com sacolas e sacolas de exames, todos negativos. É muito frustrante. E ainda costumamos ser taxados como o tipo de paciente que deveria procurar um psiquiatra”, explica a líder voluntária da ANFIBRO.

Incidência e tratamento
O problema costuma surgir entre os 30 e os 50 anos, porém existem casos em crianças e em pessoas mais velhas. No Brasil, cerca de 3% a 5% das pessoas têm fibromialgia, e a maioria é formada por mulheres. A síndrome não traz deformidades ou sequelas nas articulações e músculos, mas os pacientes apresentam uma má qualidade de vida. A principal indicação é tratamento não-medicamentoso, ou seja, os cuidados do paciente consigo mesmo são mais importantes do que as medicações, embora estas também tenham seu papel. As medicações são úteis para diminuir a dor, melhorar o sono e a disposição do paciente com fibromialgia, para permitir a prática de exercícios físicos. Importante não esquecer que a pessoa com fibromialgia, como qualquer outra, pode ser acometida de outra enfermidade do aparelho locomotor, tal como lombalgia, tendinite, artrite, entre outras. Daí a importância de que a pessoa mantenha um acompanhamento médico regular e procure seu médico assistente, caso surja um sintoma não usual. Hoje sabemos que para alcançarmos bons resultados na terapêutica não bastam somente medicamentos. Mudanças de atitudes, tais como incorporar atividade física aeróbica à rotina e adoção de estratégias de controle do estresse aprendidas em espaço terapêutico com utilização de técnicas psicoterapêuticas do tipo cognitivo comportamental, tem demonstrado grande importância para o sucesso do tratamento”, reitera.

Lei Municipal
Em Manhuaçu a Lei Municipal 3.940/2019, sancionada no dia 6 de maio, instituiu o Dia Municipal da Fibromialgia. Autor do projeto, o vereador administrador Rodrigo, explica que a lei prevê a realização de palestras, debates, aulas e seminários de discussão durante a comemoração da data. O objetivo é conscientizar a população sobre a Fibromialgia. Ele acrescenta que as empresas públicas, concessionárias de serviços públicos e empresas privadas serão obrigadas a dispensar, durante todo o horário de expediente, atendimento preferencial aos portadores de Fibromialgia. Já as empresas que recebem pagamentos de contas e bancos deverão incluir os portadores da doença nas filas destinadas aos idosos, gestantes e deficientes.
O vereador acrescenta que será permitido que os portadores de Fibromialgia estacionem em vagas destinadas aos idosos, gestantes e deficientes. Os veículos devem estar devidamente identificados com adesivo municipal após comprovação médica. Para este benefício, o fibromiálgico deve se dirigir até a Delegacia de Polícia Civil. O atendimento é realizado todas as quartas-feiras.

E quem tiver Fibromialgia e quiser fazer a carteirinha deve se dirigir até a sede da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social, que fica à rua Monsenhor Gonzalez, 484, Centro, portando os seguintes documentos: xerox da identidade e CPF laudo médico ou atestado com CID 10. M79-7, comprovante de residência atualizado, foto 3×4 e título de eleitor.

Danilo Alves – Tribuna do Leste

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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