Janeiro Branco: campanha destaca importância da saúde mental

O ano se inicia cheio de promessas, sendo normal atribuir a busca por novos objetivos à passagem do ano. Esse novo ciclo inspira novas tentativas e renova as forças para concluir alguns objetivos. Contudo, imagine que em meio às novas expectativas, o motor que conduz a essa nova realidade não tem forças ou está desgastado. É o que acontece quando nossa mente não consegue se regenerar.

Os motivos podem ser vários. Sejam eles problemas familiares, de relacionamento, financeiros ou profissionais. O importante é compreender que esses fatores podem ser limitantes quanto a nossa capacidade de reação. Uma vez que somos expostos a tais dificuldades de forma constante, é gerado um stress e sem a devida condução, ou tratamento, isso nos leva a um colapso mental.

Janeiro é o mês em que as pessoas estão propensas a pensarem mais sobre a vida, relações sociais, condições e sentidos existenciais. Pensando na influência do primeiro mês do ano em termos simbólicos e culturais criou-se o Janeiro Branco em 2014. A campanha procurou uma forma de cuidar da mente e induzir a busca por alternativas ao estresse imputado a todos em suas rotinas.

O projeto se iniciou em Uberlândia (MG), espalhando-se por todo Brasil e em outros países. Entre os quais podemos citar Angola, Japão, Colômbia, Estados Unidos, Portugal e Holanda. Nos últimos anos, tornou-se Lei Municipal e Estadual, estabelecendo-se como mês da saúde mental em vários municípios.

A alusão feita ao branco tem ligação com receber uma folha ou uma tela limpa, com possibilidade de reorganizar as histórias da própria vida. Essa possibilidade de reescrever as próprias condições, é feita por meio da reflexão e autoconhecimento. Visão que pode ser obtida a partir do pensamento sobre a vida, sentido e propósito da mesma, bem como suas emoções, comportamentos e a qualidade de seus relacionamentos.

O propósito da campanha de colocar a saúde mental da humanidade em pauta requer inúmeros atores da sociedade. Sejam eles privados, públicos, instituições sociais ou mídias, com sua capacidade de difusão, se fazem importantes nesse universo, segundo o psicólogo e psicanalista, Marcio Rocha Damasceno.

O momento da campanha é de revisões em busca da saúde mental, que devem ser despertadas e levadas para os demais meses do ano. Dessa forma, o Brasil poderá deixar estatísticas como as que apontam o país com a maior taxa de depressão da América Latina, a 2ª maior das Américas e a 5ª do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com Marcio Rocha Damasceno, a campanha se consolidou no calendário dos Municípios e Estados brasileiros, que se dedicam à saúde mental e que têm leis colocando a campanha no calendário oficial, e o foco é agora imprimir à campanha uma conotação de ação familiar. “A campanha conseguiu se institucionalizar e o mais importante é levar as ações para o cotidiano das pessoas, para que em janeiro elas pensem em saúde mental e qualidade de vida, para que depois essas ideias façam parte do cotidiano das pessoas”, explica.

Ele reitera que o cuidado com a saúde mental é fomentado para trazer preocupações e reflexões, atenções e ações em nome da saúde mental. E para fazer isso é preciso chamar a atenção da sociedade. “Quando atraímos a atenção, a segunda coisa importante é vencer tabus como: ao falar sobre saúde mental, as pessoas ligam às doenças mentais. Saúde mental não é doença, é qualidade e propósito de vida coerentes a essas pessoas, é falar de afeto conjugal e até do trânsito, respeitando pessoas. Depois de desmitificar os temas, é necessário passar orientações básicas, distribuindo informação e conscientização”, salienta.

Segundo a especialista, o nome Janeiro Branco foi inspirado no simbolismo da virada do ano, um momento que leva a planejamentos, realizações, busca de sonhos, novas propostas, reorganização dos planos de renovação das forças, utilizando a cor branca que possibilita qualquer ideia, criação, realização, ousadia, novos inícios e reinícios, uma folha em branco.

“Apesar da campanha ter nascido através de psicólogos, contamos com a contribuição de todas as áreas do conhecimento humano para enriquecer, ampliar e promover a conscientização a respeito de todas as temáticas relacionadas ao universo da Saúde Mental. Que essa Campanha e o início de ano possam contribuir para o fortalecimento e a disseminação de uma ‘cultura da Saúde Mental’, que sirvam de motivação, de inspiração para que todos possam mudar”, acrescentou.

Importância da boa saúde mental
A OMS afirma que a saúde mental depende do bem-estar físico e social, lembrando que o conceito de saúde vai além da ausência de doenças. Esse conjunto é fundamental para que, como seres humanos, tenhamos plenas capacidades individuais e coletivas para pensar, nos emocionar, interagir uns com os outros e aproveitar a vida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo, um transtorno mental frequente que afeta todas as faixas etárias, de qualquer raça, etnia ou classe social. A doença é a principal causa de incapacidade e é pauta de destaque quando se fala em saúde da mente.

“Cada pessoa pode buscar meios de cuidar da própria saúde mental, seja fazendo terapia ou atividades que proporcionem bem-estar. A elaboração de políticas públicas também é parte importante a fim de promover uma cultura da boa saúde da mente”, acrescenta o psicólogo e psicanalista.

Objetivos
Para que se pudesse fazer algo de efetivo na conscientização, os tópicos mais considerados são: saúde emocional, psicoeducação, educação emocional e harmonia nas relações. Dessa forma foram estabelecidos os seguintes objetivos para englobar suas temáticas: fazer do mês de janeiro um marco temporal para fomentar o debate, conhecimento, planejamento de ações em prol da saúde mental.

Isso tanto no nível individual quanto em práticas coletivas; chamar a atenção da sociedade para observar a mente e o emocional das pessoas ao redor; vincular a simbologia de ano novo com a renovação do modo que se cuida a mente; colocar as mídias e instituições sociais em alerta no combate ao adoecimento emocional dos indivíduos; contribuir para construção e disseminação de uma cultura de saúde mental.

Um modelo de ação em que a prática de cuidar da saúde mental é a padrão e não esporádica. O que objetiva auxiliar o poder público na criação de políticas públicas nesse sentido.

Muitos profissionais e uma parcela da sociedade, em geral demonstraram apoio à campanha e passaram a divulgar a preocupação com a saúde mental. Um exemplo disso são atitudes simples como levar mensagens positivas e reflexivas que impactam a vida das pessoas que recebem.

Tais ações, orientações e reflexões podem salvar vidas. Essa é a expectativa dos psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e tantos outros envolvidos com a campanha Janeiro Branco.

O nome dado pelos psicólogos a este conjunto de atividades é psicoeducação. Uma palavra pequena para simbolizar seu impacto de amor à humanidade, responsabilidade social, senso de dever profissional e solidariedade.

A psicoeducação resulta na prevenção de sofrimentos e dores através do aprendizado de como lidar consigo mesmo. Fora isso a difusão de conhecimento pode ser uma ferramenta para servir a outros, que passam pela mesma situação.

Danilo Alves

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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