Mais de 17 mil empresas encerraram suas atividades em Minas em 2020

Na última semana a Fecomércio – A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais divulgou dados alarmantes da economia no estado. O número de empresas fechadas no ano de 2020 já ultrapassa a marca de 17 mil e o cenário pode ser ainda pior. O jornalismo do Tribuna do Leste procurou entender melhor esse momento e o economista-chefe da Fecomércio – MG, Guilherme Almeida, nos concedeu uma entrevista com tom de precaução, mas também de muito otimismo.

O economista-chefe da Fecomércio – MG, Guilherme Almeida, destacou o cenário de incertezas ante a pandemia (Foto: Tarcísio de Paula/Sesc em Minas)

A Pandemia do Novo Coronavírus tem causado diversos efeitos negativos tanto na cadeia produtiva quanto na sociedade. “Com foco no setor produtivo, nós vemos que aqui em Minas Gerais esse impacto negativo vem por duas vidas. Primeiramente pela impossibilidade de vários seguimentos de operar, em abrir as portas, em manter as suas atividades funcionando normalmente, dado os decretos municipais, e segundo pela mudança de comportamento de consumo das famílias. Nesse período carregado de incertezas e com taxa de desemprego elevada, acabam optando por consumir bens de primeira necessidade, postergando o consumo de bens que não se enquadram nessa categoria. Dessa forma, esses setores, principalmente de comércio de bens duráveis, semiduráveis, como eletrodomésticos, veículos, vestuários, como exemplos, acabam amargando prejuízos. A queda no faturamento é apresentada e os custos continuam a se fazer presentes”, explicou o economista.

Esses efeitos negativos são reflexos em todos os setores produtivos. Aqui em Minas Gerais, quando do surgimento dos primeiros casos testados positivos pelo Covid-19, e consequentemente a criação de decretos baixados pelo estado e por vários municípios, em meados de Março, as empresas se viram limitadas das suas atividades. “ Nós já temos formalmente registrados o total de 17.030 fechamentos e infelizmente acredito que esse número pode ser muito maior, uma vez que muitos empresários ao encerrar suas atividades empresariais não dão baixa na junta comercial, logo acreditamos que esse indicador tende a ser superior”, projetou Guilherme Almeida.

Ainda segundo o economista-chefe da Fecomércio o foco desse fechamento é justamente as micro e pequenas empresas. “Quando a gente avalia esses setores, principalmente varejo, mais de 90% dos estabelecimentos comerciais atuantes são dessa categoria e normalmente operam com caixa apertado, possuem baixo poder de barganha junto aos fornecedores e em meio a essa pandemia acabam não vendo outra alternativa a não ser adotar atitudes drásticas, como demitir funcionários e encerrar suas atividades”, lamentou.

Encontrar um equilíbrio entre saúde e economia é o grande desafio do comércio. É nessa hora que o auxílio das entidades representantes de classe tem que colaborar na busca de alternativas que minimizem os impactos negativos de cada setor. Segundo Guilherme Almeida a Fecomércio – MG tem atuado em dois sentidos. “O primeiro deles é o de levar informação aos seus representados com capacitações e também um teor de orientação perante os diversos decretos, medidas provisórias e leis que estão sendo editadas nesse momento. Essa informação é levada por meio de lives que a entidade realiza em parceria com diversas outras instituições. Também utilizamos de informativos que são publicados no portal e nas redes sociais, além do envio de e-mails. Essas informações são muito ricas, uma vez que esse momento de pandemia muitos empresários estão entretidos em estratégias que possam garantir a manutenção das suas atividades e em algum momento acabar negligenciando algum ponto que pode ser essencial nesse processo. E a segunda forma de atuação tem sido justamente junto ao poder público e para isso o Fecomércio participou ativamente da construção do programa Minas Consciente, elaborado pelo governo do estado como alternativa para promover a retomada das atividades produtivas do estado. Diversas pautas foram levadas pela Fecomércio e pelos seus sindicatos ao estado e foram acatadas”, pontuou o economista.

Guilherme Almeida finaliza demonstrando preocupação com os inúmeros desdobramentos da pandemia. O economista teme pelo legado de elevado número de desempregos com grande número de falências. “Para o cenário pós-pandemia a nossa perspectiva segue inevitavelmente carregada de incertezas. Nós teremos um legado bastante negativo e essas questões vão impactar diretamente no setor produtivo e no desempenho das empresas e estabelecimentos comerciais. Penso que o empresário deve aproveitar esse momento, entendo difícil para todos, mas importante para repensar a sua forma de atuação. Aqueles, por exemplo, que não tinham atuação no ambiente digital, inevitavelmente estão sentindo mais do que aqueles que já tinham uma atuação no e-commerce, já fazem vendas on-line, ou tem presença nas redes sociais. Esse é um ambiente propício para o empresário repensar sua forma de atuação. Quais ferramentas de gestão eu posso implementar na minha empresa? Em que ambiente eu preciso estar presente? Então é importante pensar essa forma de atuação para garantir uma vantagem competitiva ao seu negócio. Naturalmente esse período de incertezas tende a levar a um desanima, uma frustração e uma baixa confiança nos agentes econômicos, porém nós sabemos, principalmente em economias como a nossa, no sistema capitalista, que existe um ciclo. Geralmente nós temos um “bum”, normalmente precedidos de períodos mais estáveis, e também em vales onde a economia acaba se deteriorando. Porém, quando a gente olha para as características dessa crise bastante diferente, originada em uma crise sanitária, que acabou desaguando na crise econômica, o processo de retomada é semelhante. Pode demorar mais um pouco, mas é semelhante. As pessoas voltarão a consumir, a renda voltará a existir, o emprego terá uma retomada, obviamente na sua velocidade, mas o empresário não deve deixar que esse cenário acabe abatendo e levando suas ideias de gestão e de formas de atuação. E naturalmente implementar novas estratégias para que ele consiga acessar os seus consumidores”, orientou.

Outras entidades estão apresentando estudos sobre os impactos econômicos e sociais da descontinuidade em Minas Gerais. O Conselho de Política Econômica da FIEMG, por exemplo, se reuniu no dia 26/03 para debater sobre o cenário econômico e político do estado e do país e sobre as contribuições da indústria para a retomada do crescimento.

Klayrton de Souza

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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