Reflexão: O Papa Francisco e a união civil homossexual


Tem causado estardalhaço na mídia, de um modo geral, a fala do Papa Francisco sobre a união civil homossexual. Profissionais inescrupulosos e empresas descomprometidas com a verdade deram interpretação errônea ao pronunciamento do Papa, que tem sido atacado, intensamente, por grupos dentro e fora da Igreja. Cumpre então, esclarecer os fatos e  colocar nos trilhos a notícia correta. 

A Igreja oficial no Brasil, representada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), emitiu nota a respeito, nesta quinta-feira (22), assinada pelo bispo Dom Ricardo Hoepers, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da entidade. Segundo a entidade, a fala demonstra “humanidade”, mas “não muda em nada do ponto de vista doutrinal ou dogmático sobre a família”. Segundo a Igreja, o matrimônio só pode ocorrer entre homem e mulher.

“A fala em questão trata-se de uma palavra em um documentário e, portanto, o Papa fala com o coração aberto sobre os reais sofrimentos das pessoas de condição homoafetiva. Em uma sociedade que exclui com preconceitos e violência, é uma fala sobre dignidade e, acima de tudo de respeito que devemos ter para com todas as pessoas”, diz a nota.

“No caso das pessoas em condição homoafetiva, muitas delas são abandonadas pelas suas famílias, discriminadas pela sociedade, e à margem dos direitos de ter uma cidadania respeitada. A realidade da discriminação também pode levar à violência e à exclusão social. Portanto, diante desses perigos, o Papa entende que uma lei deve buscar garantir a seguridade que toda pessoa merece ser cidadão de direitos.”

A fala do Papa Francisco veio a público após a estreia do documentário “Francesco”, do diretor Evgeny Afineevsky, no Festival de Roma. No filme, ele afirma que “as pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso”.

“O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma eles são legalmente contemplados. Eu defendi isso”, diz.

Segundo o jornal argentino “La Nación”, o filme mostra um italiano gay que vive em Roma. Ele tem três filhos, e relata que uma vez escreveu ao papa e pediu para enviar suas crianças à paróquia, mas que tinha receio de que as crianças fossem discriminadas.

O homem afirma que o Papa Francisco o incentivou a mandar os filhos à Igreja e nunca disse qual era a opinião dele sobre a família formada por pais gays e que, apesar de a doutrina não ter se alterado, a maneira de lidar com o tema mudou radicalmente. 

O Papa Francisco já demonstrou ter interesse em dialogar com católicos LGBTIs, mas geralmente suas mensagens são a respeito de acolher esses fiéis. Ele já deu sinais velados que poderiam ser interpretados como uma opinião favorável à união civil. União civil, e não casamento.

Com sua postura, “o Papa Francisco mais uma vez demonstra sua serenidade, voltando-se também às questões reais da vida cotidiana. Ele tem uma sensibilidade pastoral tão aguçada que nos impressiona com seu nível de humanidade”, afirmou Dom Ricardo Hoepers. O Papa Francisco se tornou “a voz dos que se tornaram invisíveis nas periferias geográficas e existenciais”, e citou que as pessoas LGBT devem ter leis que as protejam.

Ao fim do texto, Dom Hoepers, presidente da Comissão para Vida e Família da CNBB diz que a fala, no contexto do documentário não altera o conceito da Igreja católica sobre a família. Segundo a nota, o próprio Papa Francisco reforçou as diretrizes de que o matrimônio deve ser entre homem e mulher.

“O Papa Francisco já realizou dois Sínodos e escreveu uma Exortação Apostólica pós-sinodal chamada Amoris laetitia – sobre a alegria do amor na família. Esse documento afirma que continuamos a caminhar em pleno acordo com a Tradição da Igreja sobre a sacralidade do Matrimônio e sua dignidade no plano de Deus: ‘O matrimônio cristão, reflexo da união entre Cristo e a Igreja, realiza-se plenamente na união entre um homem e uma mulher, que se doam reciprocamente com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até a morte e abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para se constituírem como Igreja doméstica e serem fermento de vida nova para a sociedade (Amoris laetitia, n. 292)’”.

Fontes: CNBB e G1 DF (Marília Marques e Pedro Alves)

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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