Reflexão: O Sínodo da Amazônia encerrou-se, mas não terminou…

O Sínodo dos bispos para a região Pan-amazônica encerrou-se no domingo, 27/10. Um texto produzido pela presidência da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM foi lançado como mensagem final sobre o Sínodo Amazônico. Assinado pelo presidente, cardeal Cláudio Hummes, pelo vice-presidente, o cardeal Pedro Barreto, e pelo secretário executivo, Maurício López, o texto destaca alguns dos pontos importantes que foram discutidos na assembleia de Roma, retomando o processo realizado ao longo de quase dois anos, e aponta alguns caminhos a partir da Assembleia Sinodal.

A defesa da Amazônia depende de uma verdadeira “conversão ecológica e cultural”, passando pelo combate ao “pecado ecológico”. Embora o Papa Francisco já tivesse mencionado a “conversão ecológica” em sua encíclica “Laudato Si’”, de 2015, o conceito de “pecado ecológico” foi elaborado durante o Sínodo: propõe-se que o desrespeito à natureza seja visto como uma nova forma de pecado, por representar um desrespeito ao “Criador”, ou seja, Deus, e à sua obra, que são o planeta Terra e todos os seres.

Observatório Pastoral

Mediante à triste constatação de ‘todo tipo de injustiça’ que a Amazônia sofre, o Papa decidiu por uma área dedicada ao tema no Vaticano. Foi sugerido a criação de um “observatório socioambiental pastoral, fortalecendo a luta em defesa da vida. Realizar um diagnóstico do território e de seus conflitos socioambientais em cada Igreja local e regional, a fim de assumir uma posição, tomar decisões e defender os direitos dos mais vulneráveis.” Neste contexto se falou da criação de uma Universidade Católica Amazônica baseada na pesquisa interdisciplinar, na inculturação e no diálogo intercultural e fundada principalmente na Sagrada Escritura, no respeito dos costumes e das tradições das populações indígenas.

Organização regional

O Sínodo propõe projetar novamente a organização das Igrejas locais de um ponto de vista pan-amazônico, redimensionando as vastas áreas geográficas da diocese, reagrupando Igrejas particulares presentes na mesma região e criando um Fundo amazônico para a promoção da evangelização a fim de enfrentar o “custo da Amazônia”. 

Ficou o pedido de maior mobilização da comunidade internacional para destinar recursos econômicos para a proteção da floresta e para a promoção de “um modelo de desenvolvimento justo e solidário” na Amazônia

O texto faz fortes denúncias dos crimes contra os direitos humanos na Amazônia, dizendo que há “impunidade na região com relação a violações” desses direitos e “obstáculos para obter justiça”.

A falta de padres

Durante as três semanas do Sínodo ficou evidente que a falta de padres é uma grande preocupação da maioria dos bispos da Amazônia. Eles divergiram, no entanto, sobre as ideias de como suprir essa carência.

Falou-se mais precisamente da elevação dos diáconos permanentes ao nível de padres. Os diáconos são homens já ordenados, mas apenas em primeiro grau. Sua função é realizar serviços nas comunidades. Podem presidir celebrações, mas não missas. Não podem ouvir confissões nem ungir os enfermos.

O documento afirma que não se trata de extinguir o celibato dos padres – a regra que prevalece no Ocidente – mas, ainda assim, abrir a Igreja para a “ordenação de homens idôneos e reconhecidos da comunidade”, com formação adequada.

Questão indígena e direitos humanos

O documento fala em ampliar a defesa dos povos indígenas da Amazônia, “mediante a garantia legal e inviolável dos territórios que ocupam de forma tradicional”. O Sínodo pede mais mecanismos de cooperação entre os estados, especialmente nas fronteiras.

Dentre tantos temas apresentados e debatidos ficaram pedidos e sugestões que incluam a  Igreja com rosto indígena, migrante, jovem, um chamado à conversão integral, um diálogo ecumênico, a importância dos valores culturais dos povos amazônicos, a dimensão socioambiental da evangelização, um Igreja ministerial e novos ministérios, além da presença e vez da mulher e muitas outras propostas.

A continuidade

As resoluções do Sínodo não são definitivas, mas apenas propostas entregues ao Papa após um debate que durou três semanas, no Vaticano. Participaram cerca de 250 pessoas, entre bispos, padres, religiosas, líderes indígenas, membros de outros grupos religiosos e especialistas nos temas da Amazônia. Cabe, agora, ao Papa decidir o que fazer a partir daí.

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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