442 animais silvestres são capturados em 2019

A comunicadora social Amanda Novaes estava sozinha em casa quando se deparou com uma situação inusitada. Moradora do 5º andar de um prédio no Bairro Granbery, ela estava na sala de estar quando ouviu o som de sacolas plásticas caindo. Num primeiro momento, achou que fosse simplesmente o vento. Um barulho mais forte, no entanto, a levou a conferir os cômodos vizinhos. “Me deparei com um mico em cima da persiana do quarto da minha filha. Gritei assustada e fechei a porta”, relatou ela à Tribuna o fato ocorrido no fim do ano passado. A suspeita é de que o animal tenha entrado pela única janela da casa que não possui tela de proteção, uma abertura pequena e alta na área de serviço.

“Tentei ligar para o Ibama, mas não me atenderam. Os bombeiros me passaram o telefone da Guarda Florestal, que também não me atendeu. Se não fosse minha amiga, que conhecia um militar, não sei o que eu faria”, contou. Com isso, desde o aparecimento do animal, perto das 10h, até seu recolhimento, por volta das 14h, o mico permaneceu trancado no quarto por cerca de quatro horas. A medida tomada seguia orientações de segurança, já que o animal não teria formas fáceis de sair do apartamento e, por isso, poderia ficar agressivo. A ocorrência foi atendida por dois policiais militares do meio ambiente, que levaram cerca de dez minutos para capturar o animal com o devido cuidado.

Mico foi capturado em apartamento no Bairro Granbery quatro horas após sua aparição (Foto: Arquivo Pessoal)

“Acho que o mico também ficou assustado e deixou o quarto da minha filha muito bagunçado. Aqui no meu prédio nunca tinha acontecido isso, imagino que por conta de ter grades ou redes nas janelas. Mas dizem que tem muitos micos aqui no bairro. Suspeitamos que ele tenha vindo por cima do prédio e entrado na primeira janela que viu.”
A dúvida de Amanda sobre a quem recorrer numa situação como esta é a mesma de muitas pessoas que se deparam com animais silvestres em suas residências. Segundo o Ibama de Juiz de Fora, não é função atribuída ao órgão o recolhimento de animais silvestres, apenas o recebimento de animais por entrega voluntária ou apreensão da Polícia Militar de Meio Ambiente (PM MAmb) e do próprio Ibama, fruto de fiscalização, sobretudo do tráfico de animais. Desta forma, a função cabe apenas à PM MAmb e ao Corpo de Bombeiros, em alguns casos.

Conforme dados do 4º Batalhão de Bombeiros Militares, só no ano passado, a corporação capturou 139 animais silvestres perigosos ou agressivos, 56 casos a mais que em 2018 (83). O destino dos bichos varia, sobretudo segundo sua condição de saúde. “Se tiver como soltá-lo sem seu habitat natural, faremos, mas se ele estiver ferido ou muito fora de algum bioma, será encaminhado para a Polícia Ambiental para ser levado a um local adequado”, esclarece o Corpo de Bombeiros.

Casos de risco

Em Juiz de Fora, o Corpo de Bombeiros só recolhe animal silvestre caso ele esteja dentro de residências ou oferecendo risco à pessoas ou a si mesmo. “Quando uma ave entra em casa, é só apagar as luzes e deixar a janela aberta que ela sai. Mas uma coruja, se estiver acuada, pode atacar. Neste caso, nos deslocamos para recolher o animal e soltá-lo em seu habitat natural”, explica o tenente Yuri Eder Caetano. O mesmo acontece em casos de cobras. “Atendemos muitas ocorrências envolvendo cobras, principalmente em locais próximos a mata. Uma das motivações para o aparecimento desse tipo de réptil no meio urbano seria os incêndios, que espantam os animais das matas onde habitam.”

Nos caso de animal doméstico, os bombeiros explicam que é indicado que o Canil Municipal faça o recolhimento. No entanto, se o serviço não estiver disponível no momento, a corporação pode avaliar a situação e definir se agirá ou não. “Se o animal veio a atacar alguém, e a vítima está no local, recolhemos o bicho e o encaminhamos para o Canil Municipal em qualquer horário que seja. Mas se o animal (gato ou cachorro) está somente trazendo incômodo à vizinhança, ele não é recolhido pelos Bombeiros, pois se torna um ‘animal comunitário’. Nesses casos, orientamos a procurar o Canil, que pode conseguir uma adoção. Já animais feridos e atropelados, recolhemos e encaminhamos ao Canil”, explica o tenente Yuri Eder Caetano.

Em 2018, foram 52 cães perigosos ou agressivos capturados, contra 65 casos registrados em 2019. Outros tipos de animais domésticos apresentam um número menor de ocorrências, sendo nove em 2018 e apenas três no ano passado. O número mais expressivo corresponde à captura de insetos, sendo 123 ocorrências em 2018, e 229 casos no ano seguinte.

PM Ambiental orienta quanto a ocorrências com cobras

Segundo a 4ª Cia da Polícia Militar de Meio Ambiente (PM MAmb), em 2019 foram realizados 303 recolhimentos de animais silvestres. Dentre eles, o número de serpentes recolhidas chega a 49 casos (30 não peçonhentas, 12 cascavéis e sete jararacas). De acordo com informações da assessoria, os casos não são recorrentes e não é possível diagnosticar o motivo da proximidade com as casas, podendo apenas supor que seja pela proximidade com áreas verdes. “Com a invasão do ambiente e a busca por alimento e abrigo, elas podem ser encontradas em residências”, informou a companhia.

Para evitar que estes animais se aproximem dos domicílios, os bombeiros recomendam tomar certos cuidados que estão, inclusive, prescritos na Lei Municipal 12.345/2011. O artigo 59 da lei afirma que “compete aos munícipios, ao Poder Público e aos proprietários e possuidores em geral adotar medidas necessárias para manter o imóvel do qual seja proprietário ou possuidor, limpo e isento de animais da fauna sinantrópica e peçonhenta, exceto nas áreas declaradas de preservação, que ficarão sujeitas às determinações dos órgãos competentes”. O parágrafo 1º reforça que “é de responsabilidade dos proprietários e possuidores evitar o acúmulo de resíduos (lixo), fazer a remoção do mato, a remoção de materiais e objetos inservíveis ou quaisquer outras condições que propiciem a instalação e proliferação de insetos, roedores e outros animais da fauna sinantrópica ou peçonhentos, conforme legislação em vigor.”

Por que esses animais estão no meio urbano?

Em setembro do ano passado, a Tribuna divulgou uma matéria sobre o impacto de queimadas e da intervenção humana em Juiz de Fora, que refletem na questão dos animais silvestres. À época, a analista ambiental do Instituto Estadual de Floresta da Regional Mata, Sarah Reis, ressaltou que, em muitos casos, falta a boa convivência entre humanos e animais, através da conscientização. “(As pessoas) acreditam que os animais silvestres deveriam estar apenas no meio das florestas. Mas as cidades se expandem, retirando-as. Na verdade, o que acontece é que muitos animais se adaptam com o meio urbano, como maritacas, tucanos e saguis (mico-estrela). Se cresce uma cidade perto da mata, os animais menos tímidos podem tentar uma interação para conseguir benefícios, como alimentação e abrigo, ou fazer ninho no forro das casas”, explica.

A especialista lembra ainda que não se deve alimentar ou tocar o animal e que, para uma boa convivência com os eles na cidade, é preciso respeitar seu espaço. “Esses animais têm o recurso que eles precisam e, se forem alimentados, vão se tornar dependentes dos humanos. Se cortar o alimento, eles podem invadir as casas, o que causa reclamação”, orienta. Segundo ela, os animais apenas se deixam ser capturados em casos de estarem machucados ou terem algum problema de saúde.

      • Telefones para contato:

    Corpo de Bombeiro: 193

    PM MAmb : 3228-9050

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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