‘A fragilidade do nosso sistema de saúde é enorme’, afirma infectologista

Médico infectologista e empresário participaram de debate promovido pela Rádio CBN Juiz de Fora (Foto: Cris Hübner)

Em debate na Rádio CBN Juiz de Fora na manhã desta terça-feira (28), o retorno das atividades do comércio em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foi discutido entre o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF), Marcos Casarin, e o médico infectologista Guilherme Côrtes. Ainda aguardando as medidas municipais para a reabertura das atividades não essenciais, os representantes dos setores médico e empresarial levantaram pontos pendentes para a retomada econômica segura.

O presidente da CDL destacou a importância do retorno, mesmo parcial, das atividades comerciais de Juiz de Fora como um “ganho de oxigênio” das milhares de pessoas dependentes do setor. “A partir do momento que faltou alimento, todo mundo briga e ninguém tem razão. O setor produtivo interfere em tudo, e o que queremos é planejamento”, argumenta Casarin, presente na linha de frente dos diálogos dos lojistas com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para organizar o retorno.

Para ele, um dos principais desafios para o momento é a falta de diálogo entre o poder público os empresários, os quais ainda têm poucas informações sobre como se dará o retorno. Conforme o representante, desde o início da pandemia houve pouca conversa com a Prefeitura. “Não nos compete esse planejamento hospitalar, não nos compete o planejamento sanitário ou o planejamento produtivo. O que foi colocado é que todo mundo feche o comércio, e a população ficou sem orientação”, relata o presidente.

Segundo Casarin, os lojistas serão os principais aliados do poder público para conferir o cumprimento das medidas de prevenção que serão adotadas, como escalonamento de horários e abertura alternada de estabelecimentos. “Cada setor já fez seu planejamento, aquilo que pode ser executado. O empresário é super responsável nisso, até por estar na linha de frente. Ele será o primeiro a fiscalizar toda a segurança”, analisa.

Pelo decreto do Governo de Minas Gerais, o funcionamento das lojas será submetido a algumas condicionantes, como a presença de álcool gel, utilização obrigatória de máscaras por parte de funcionários e clientes no interior do estabelecimento, além do afastamento de trabalhadores dos grupos de risco da Covid-19.

Fragilidade do sistema de saúde

O médico infectologista Guilherme Côrtes, por sua vez, reafirmou durante o debate a importância da sobrevivência do setor econômico, mas acredita que ainda não é o momento ideal para voltar as atividades comerciais, uma vez que há poucas informações disponíveis para traçar estratégias e assegurar o retorno seguro. “É desejável as ações seletivas de isolamento social, mas precisamos entender qual é o momento de iniciar essa seletividade”, afirma o profissional, defendendo a testagem em massa e estudos para apontar horários e locais de picos de transmissão como fundamentais para a retomada segura. “Se não tiver esses dados, qualquer decisão que a gente tome será às cegas”, completa.

A cautela do médico infectologista se dá em função da pressão exercida pela Covid-19 no sistema de saúde, que ainda pode ser potencializada por enfermidades sazonais, como a dengue. “Essa situação mostra a fragilidade do sistema de saúde e que a linha que vemos do colapso do sistema de saúde é muito mais baixa. A fragilidade do nosso sistema de saúde é enorme, isso que preocupa absurdamente com relação a quanto temos de margem para o colapso na saúde”, explica, citando o exemplo de Maceió (AL), primeira cidade com saturação total do sistema de saúde no Brasil.

Segundo Côrtes, o cenário da pandemia altera em uma velocidade maior do que as informações disponíveis até o momento. Comparando a situação atual com um contexto de guerra, o médico defendeu a coordenação dos setores para o diálogo, para estruturar a reabertura seletiva. “Os danos diretos são saúde, e os indiretos são os econômicos. A questão é harmonizar para que a gente sobreviva à guerra”, reflete o médico. “Nós estamos na mesma tempestade, e todos nós precisamos uns dos outros para sobreviver da melhor forma possível a essa transição. Nós precisamos que o comércio sobreviva, que as indústrias sobrevivam, e que a população sobreviva”, finaliza.

 

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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