Acidentes envolvendo motocicletas lideram indenizações de DPVAT

Dados dos últimos dez anos mostram que o DPVAT pagou mais de 3,2 milhões de indenizações por ocorrências envolvendo motocicletas e ciclomotores neste período (Foto: Felipe Couri)

Acidentes envolvendo motocicletas lideram o ranking de indenizações de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) em Juiz de Fora. Segundo dados da Seguradora Líder, que administra o seguro, em 2018, 667 indenizações foram pagas a vítimas de acidentes de trânsito. Deste total, em 431 casos, ou seja, 61,9% dos pagamentos foram destinados a pessoas que se acidentaram na condução de motocicletas ou ciclomotores. Já nos seis primeiros meses deste ano, do acumulado de 262 indenizações, 165 (62,9%) também foram destinadas a acidentados que dirigiam veículos de duas rodas. Os números, preocupantes, servem de alerta, uma vez que se aproxima a Semana Nacional do Trânsito. Com o tema: “No trânsito, o sentido é a vida”, os eventos estão previstos para acontecer entre os dias 18 e 25 de setembro, e a proposta é o envolver a sociedade diretamente nas ações e propor reflexões sobre uma nova forma de encarar a mobilidade.

Dados dos últimos dez anos mostram que o DPVAT pagou mais de 3,2 milhões de indenizações por ocorrências envolvendo motocicletas e ciclomotores neste período. Deste total, quase 200 mil pessoas morreram e 2,5 milhões ficaram com algum tipo de invalidez permanente. Os números mostram ainda que, na última década, os benefícios destinados a vítimas de acidentes com motos e “cinquentinhas” representam cerca de 72% do total de pagamentos efetuados pelo seguro obrigatório (R$ 4,5 milhões).

Para especialistas da área de trânsito, os maiores percentuais envolvendo veículos de duas rodas estão ligados à conduta dos motoristas, que não respeitam as regras de tráfego – principalmente abusando do excesso de velocidade – e à deficiência de fiscalização. “O problema do motociclista é que, de modo geral, ele não respeita as normas. Ele trafega pela contramão da direção e comete outras infrações que resultam nos acidentes”, avalia o especialista em Engenharia de Transporte, José Luiz Britto Bastos. Ele considera os motociclistas como para-choques dos veículos que conduzem, e, por esta razão, estão sempre em risco iminente. “Eles trafegam em locais que não deveriam, como os corredores entre os veículos, entre as faixas de trânsito, marcando a imprudência na conduta deles”, afirma.

Maioria das vítimas é de jovens economicamente ativos

Superintendente de Operações da Seguradora Líder, Arthur Froes também elenca o desrespeito às normas de trânsito como um dos principais fatores para o grande número de acidentes envolvendo motociclistas. “A não observância da sinalização, as ultrapassagens arriscadas e o excesso de velocidade são situações significativas, pois há uma grande exposição aos riscos por parte dos condutores. Muitos insistem em trafegar pelos corredores e, quando se está em um veículo e não há a visibilidade perfeita de uma moto que chega em velocidade muito grande, qualquer movimento para esquerda ou direita por parte do carro pode ser motivo para acidente num corredor”, considera.

Ele ainda destaca que o não uso dos equipamentos de segurança é um importante componente que contribui para os altos índices. “A falta deles, como o capacete para motociclistas e o cinto de segurança para demais condutores, agrava as lesões sofridas em caso de acidente. Na moto, ainda trafegam sem o calçado adequado, sem luvas e sem óculos. Isso é muito observado nos casos de invalidez permanente.”

Froes ressalta que a maioria das vítimas de acidentes de trânsito está na faixa etária que vai dos 18 aos 34 anos, e que os motociclistas lideram os pagamentos de indenizações, sendo a maior parte deles do sexo masculino. “As vítimas de acidentes com motocicletas são em sua maioria jovens em idade economicamente ativa”, pontua, acrescentando que eles concentram mais da metade dos acidentes fatais e daqueles com sequelas permanentes. Para o superintendente, esse cenário impacta os gastos públicos no que tange às despesas na área da saúde, bem como em outras áreas como demandas judiciais e custos no sistema de seguridade social. “Os acidentes têm, realmente, incidência maior nessas profissões de entregadores, conhecidos como motoboys, pois há uma exposição deles muito maior ao risco por estarem muito mais tempo em cima de uma moto. Esses profissionais até usam os equipamentos de segurança em sua maioria, mas desrespeitam regras básicas de segurança no trânsito.”

Dados do país

Em todo o Brasil, os motociclistas foram as maiores vítimas nas indenizações pagas nos primeiros seis meses de 2019. Dos 88.542 motoristas indenizados, 78.480 eram motociclistas (88,6%). Quando analisada somente a cobertura por morte, foram 7.130 indenizações contabilizadas, conforme dados da Seguradora Líder. “Em todo o país, as motocicletas representam em torno de 74% das indenizações pagas. Tem estados onde a motocicleta chega a mais de 85% e há aqueles em que o número é mais baixo, como cerca de 60%. Assim, Juiz de Fora, em relação ao Brasil, tem um número que é um pouco melhor. Mas, claro, ninguém fica feliz com isso, porque são números elevados e existe o risco de se ter, como consequência, a invalidez permanente”, avalia Froes.

 

Os pedestres são o segundo tipo de vítima que mais corre risco nos acidentes com motocicletas e ciclomotores. Em dez anos, foram pagas mais de 493 mil indenizações a pessoas que se deslocavam a pé no momento da ocorrência. Após ser atingida por uma moto ou ciclomotor, a maioria também ficou com algum tipo de sequela definitiva: foram mais de 417 mil sinistros pagos a pedestres vítimas de invalidez permanente no período. Entre 2009 e 2018, o aumento foi de 254%.

Para especialista, JF deveria ter 270 agentes de trânsito

Em Juiz de Fora, o especialista José Luiz Britto Bastos considera que a grande ocorrência de acidentes abarcando motociclistas tem ligação também com a frota de veículos, que teve considerável aumento dos últimos anos. Segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), Juiz de Fora tem 271.180 veículos. Deste total, 36.069 são motocicletas. “Assim, as vias estão constantemente congestionadas, e os motociclistas acabam por impor a presença deles, porque entendem que o objetivo da moto é para se deslocar com rapidez, mas uma celeridade excessiva, sem respeito às regras. Temos um trânsito extremamente adensado. Com velocidade abusiva e falta de responsabilidade, o resultado, infelizmente, é o acidente”, pontua.

Britto ainda pondera que a fiscalização, fator de suma importância para manter a segurança no trânsito, é deficiente. “Precisamos de fiscalização tanto eletrônica, por meio dos radares e das câmeras, quanto da realizada por meio da presença física dos agentes. Infelizmente, na cidade, temos no máximo 60 agentes de trânsito, e a metade deles trabalhando nas ruas, pois o resto se concentra em outras funções. Há uma deficiência enorme, porque o ideal é ter um agente para cada mil veículos. Assim, o município deveria ter 270 agentes. Quanto à Polícia Militar, praticamente, não fiscaliza mais”, afirma o especialista, acrescentando que sem fiscalização não há punição. “É preciso que haja uma legislação mais específica por parte do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), estudos e pesquisas no sentido da proibição de uma série de comportamentos por parte dos motociclistas para que, existindo a lei, eles possam ser punidos pelas infrações cometidas e, consequentemente, haja redução de acidentes”.

Mazza Dias é motoentregadora, trabalha no setor há 20 anos e já foi presidente da extinta Associação de Motoentregadores de Juiz de Fora. Ela avalia que a frequência de acidentes tem relação com a crise financeira do país, já que muitas pessoas optaram por adquirir motocicletas por considerá-las mais econômicas do que os carros. “Isso expandiu a frota e colocou nas ruas mais pessoas sem experiência que, com certeza, contribuem para os casos, porque a moto é um veículo perigoso”, afirma, lembrando que as condições das vias, muitas vezes esburacadas, motivam as ocorrências. Porém, Mazza faz uma ressalva: “Com minha experiência posso observar que o maior índice de acidente acontece em cruzamentos devido à falta de respeito às regras. Além disso, considero que nossa lei seja muito pobre no que diz respeito ao uso de equipamentos de segurança. Há empresas que obrigam o uso pelos funcionários, mas, em muitas, (os equipamentos) passam despercebidos, como é o caso da antena para proteção contra linhas, a chilena é um exemplo, e vê-se muito pouco o uso dela.”

A motoentregadora ainda alerta sobre a necessidade de os profissionais estarem equipados como manda a Lei 12.009, que regulamenta a atividade. “Essa não está sendo cobrada. Um exemplo disso é que nos casos dos serviços de entrega por aplicativo é proibida a presença de adereços presos ao corpo como mochilas e bolsas, mas essa situação é presenciada nas ruas direto.”

Transformação

Na visão de Britto, a realização de mais campanhas, principalmente nas escolas, contribuiria para mudar essa realidade, uma vez que ele considera que uma mudança cultural seria capaz de, a longo prazo, significar resultados positivos. “Precisamos, acima de tudo, de campanhas de trânsito bem feitas e trabalhar a questão da educação nos colégios. Quando a criança entra no ambiente escolar, é preciso trabalhá-la, a fim de mudar o seu comportamento para que, no futuro, possamos ter pessoas responsáveis no trânsito em função da educação que receberam. As campanhas de trânsito no Brasil deveriam acontecer em maior número numa tentativa de mudar o comportamento das pessoas, porém, lamentavelmente, não é isso o que temos na realidade”.

Superintendente de Operações da Seguradora Líder, Arthur Froes aponta que, nos últimos dez anos, ações do estado, como por exemplo, a Lei Seca, têm surtido efeitos positivos. “Onde há melhor manutenção das condições de trânsito e, de maneira geral, melhor fiscalização, a frequência de acidentes e de acidentes com gravidade reduz bastante.” Froes lembra que acionar o DPVAT é muito fácil. “Temos aplicativos para ser utilizados, pois muitas pessoas não sabem como proceder. São documentos simples que podem ser enviados para a seguradora por meio dos aplicativos que podem ser baixados em qualquer celular. Qualquer dúvida pode ser tirada no site e no call center (0800 022 12 04) para indicação de um posto mais próximo, se for o caso, para um atendimento presencial, pois temos mais de 7 mil pontos no Brasil”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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