Aglomeração nas ruas expõe trabalhadores de JF ao risco

Se, por um lado, o Decreto Municipal 13.897 restringiu a atividade privada em Juiz de Fora para tentar reduzir a circulação do novo coronavírus (Covid-19), por outro, os estabelecimentos que continuam em funcionamento têm se mostrado pontos de aglomeração de pessoas. Em diferentes regiões da cidade, lojas de conveniência e especializadas em produtos de higiene, por exemplo, reúnem grande número de clientes em seus interiores. A recomendação de autoridades de saúde é que os responsáveis dimensionem o estabelecimento para estipular quantas pessoas podem ficar no ambiente, porém, mesmo os serviços que procuram controlar o fluxo acabam acumulando filas na parte externa, como no caso de bancos, farmácias e supermercados. A movimentação foi observada pela reportagem na mesma semana em que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) adotou novas medidas para minimizar o risco de contaminação em locais com aglomerações de pessoas. A partir desta segunda-feira (20), a utilização de máscaras de proteção passa a ser obrigatória para toda a população nos espaços públicos e nos meios de transporte, com ameaça de sanção para quem descumprir a regra.

Entre os trabalhadores de estabelecimentos e prestadores de serviço que permanecem em atividade, e que lidam diretamente com o público, o clima é de preocupação. Isto porque o movimento de pessoas nas ruas é grande e tem se concentrado nestes espaços, mesmo com as orientações para isolamento social. Uma funcionária de banco, que preferiu não se identificar, relatou que os colaboradores têm ficado mais expostos com a epidemia do coronavírus. Isto porque as agências têm adotado o regime de contingência e rodízio, o que teria causado sobrecarga de trabalho. Além disso, funcionários teriam sido deslocados para auxiliar no autoatendimento. “As pessoas não entenderam a dinâmica ainda, então os clientes chegam perto para falar e encostam em nós. É bem desconcertante”, relata. “As pessoas não entenderam que é para evitar ir ao banco. Estamos assustados.” Receio semelhante é compartilhado por trabalhadores e frequentadores de estabelecimentos e serviços, como supermercados, farmácias e transporte coletivo urbano.

A sensação de que há um descuido por parte da população também tem sido percebida pela auxiliar de escritório de um plano funerário, Maria Jucelma Rodrigues do Nascimento. No trabalho, medidas de higienização têm sido tomadas tanto para funcionários quanto para clientes. “Nós procuramos pedir para que as pessoas usem máscaras e passem álcool em gel”, conta. “Medo todo mundo tem, pela situação que a gente está passando. Tem que correr o risco, e a gente precisa trabalhar também.”

Febraban

Questionada sobre a situação envolvendo a funcionária da instituição financeira, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que, como serviço considerado essencial, a atividade bancária não pode ser interrompida totalmente. Conforme a entidade, mesmo com as alternativas digitais, muitas pessoas ainda sentem necessidade de serem atendidas presencialmente. “Importante deixar claro que o atendimento dentro das agências bancárias segue as orientações das autoridades sanitárias e de saúde e as recomendações do Banco Central.” A Febraban destacou, ainda, que medidas de higienização foram intensificadas, ao passo que os atendimentos estão funcionando em regime contingenciado. “Existe um esforço do setor pelo alinhamento na adoção de práticas no enfrentamento ao coronavírus, mas cada instituição segue sua estratégia de negócios e política de organização do trabalho.”

Fluxo intenso de pessoas pode ser visto nas ruas centrais, preocupa autoridades e representa ameaça a trabalhadores de atividades consideradas essenciais (Foto: Fernando Priamo)

Medidas de segurança

Os funcionários de estabelecimentos que estão expostos diariamente precisam se resguardar, adotando medidas de higiene e segurança para evitar a propagação do vírus. De acordo com o infectologista Rodrigo Daniel de Souza, os trabalhadores que apresentarem sintomas, como quadro gripal, problemas respiratórios e febre devem ser afastados imediatamente, mesmo que sejam considerados casos suspeitos. Por outro lado, outras ações podem ser colocadas em prática. “A higienização das mãos e a limpeza daquelas esteiras (em supermercados, por exemplo), onde se colocam os produtos, já deveriam ser mais frequentes. Com isso, conseguiria um controle maior do ambiente reduzindo assim o risco de transmissão”, explica o especialista.

Conforme o médico, a utilização de máscaras tanto por colaboradores quanto por clientes também é recomendada, já que limita a liberação de gotículas pelas pessoas. “Temos a impressão subjetiva de que, quando utiliza-se máscara, limita-se muito a chance de espalhar gotículas para o ambiente. A pessoa utilizando máscara tem a capacidade de conter um pouco a secreção”, diz Souza. “Julgamos que o uso por todos diminui a circulação do vírus e a contaminação do ambiente.”

Etiqueta respiratória

Segundo o infectologista, o vírus não é transmitido propriamente pelas mãos, apenas se as mesmas estiverem contaminadas por secreções respiratórias. Desta forma, Rodrigo Daniel destaca a importância da chamada etiqueta respiratória. “O que o trabalhador não deve fazer é tossir usando as mãos como anteparo. Se for tossir, usar um lenço descartável ou tossir na dobra do cotovelo. Caso aconteça de ele tossir ou espirrar e contaminar suas mãos, imediatamente deve fazer a limpeza, com água e sabão ou com álcool em gel.”

Ao mesmo tempo, o especialista explica que a utilização das luvas não é recomendada, já que pode dificultar a higienização das mãos. “As luvas podem ser contaminadas por secreções. A pessoa pode levar a mão ao nariz, à boca, à região próxima do nariz, contaminar suas luvas e, talvez aí, faça menos higienização das mãos do que faria se não estivesse com a proteção”, aponta.

Vigilância sanitária orienta controle do fluxo nos estabelecimentos

O decreto municipal 13.897 proibiu a livre atuação do comércio, salvo exceções destacadas no texto legal, como, por exemplo, drogarias, supermercados, clínicas de saúde, açougues, padarias, postos de gasolina, lotéricas e bancos. Para os estabelecimentos em funcionamento, algumas medidas podem ser tomadas a fim de proteger clientes e funcionários, segundo a técnica do Departamento de Vigilância Sanitária da PJF, Vânia Figueiredo Vieira. Para controle do fluxo de pessoas, a recomendação é que a estimativa seja baseada em uma distância mínima de um metro entre profissional e cliente. “Esse cálculo deve ser feito de acordo com o dimensionamento do estabelecimento. O próprio responsável pode calcular quantas pessoas devem ficar lá dentro, respeitando essa distância.”

Outra orientação é que os estabelecimentos mantenham o ambiente o mais ventilado possível. “Nos locais onde possui ar-condicionado é preciso manter limpos os componentes do sistema de climatização. Isso vai evitar a difusão e a multiplicação desses agentes nocivos, mantendo a qualidade interna do ar”, explica Vânia.

A técnica do Departamento de Vigilância Sanitária atenta, ainda, para o não compartilhamento de materiais de trabalho, como canetas e demais itens de papelaria, sendo os mesmos destinados apenas para uso pessoal. “Disponibilizar e intensificar reposição para os funcionários de sabão líquido e papel toalha, nos lavatórios e nos refeitórios. A gente fala intensificar porque, às vezes, as pessoas colocam e não se preocupam com a reposição, muito importante nesse momento.” Ainda conforme Vânia é recomendada também a disponibilização de álcool em gel em pontos estratégicos.

Muitos trabalhadores ainda não usam Equipamentos de Proteção Individual, como máscaras, durante o trabalho nas ruas de JF (Foto: Fernando Priamo)

Uso de máscaras passa a ser obrigatório em JF

Nesta sexta-feira (17), a PJF publicou reedição do Decreto 13.897, determinando a obrigatoriedade de utilização de máscaras aos juiz-foranos, em espaços públicos e nos meios de transporte. A medida passa a valer a partir desta segunda-feira. De acordo com o dispositivo, o uso das máscaras deve ser feito pelas pessoas ao transitarem em ruas, praças, estabelecimentos públicos e privados e ao utilizarem o transporte coletivo e o transporte individual, como táxis e carros de aplicativos.

Também na sexta, o governador Romeu Zema (Novo) sancionou a lei, aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que obriga a utilização de máscaras de proteção pela população. O texto prevê que a medida seja cumprida por profissionais que prestam atendimento em órgãos e entidades públicos, nos sistemas penitenciário e socioeducativo, nos estabelecimentos comerciais, industriais, bancários, rodoviários e metroviários, nas instituições de acolhimento de idosos, nas lotéricas e nos serviços de transporte público e privado de passageiros de competência estadual.

Fiscais pedem apoio nas ruas

Em reportagem publicada pela Tribuna na última quarta-feira, os fiscais de posturas de Juiz de Fora relataram encontrar dificuldades na atuação nas ruas, para fazer valer as medidas do decreto municipal. Na ocasião, o presidente da Associação dos Fiscais de Posturas, Randolfo Medeiros, sugeriu o apoio de equipes da Saúde durante as rondas, já que estas poderiam auxiliar a população a executar corretamente as medidas de prevenção. “Ao lado da fiscalização do comércio, valeria a pena a composição com profissionais da área de saúde nas ruas, orientando as pessoas sobre o comportamento social, seja em filas, no interior dos estabelecimentos, nos serviços de bancos e lotéricas.”

Em nota, a Secretaria de Saúde da PJF informou que “tem atuado de forma contínua para o enfrentamento à Covid-19, entretanto é necessário continuar atuando no combate a outras doenças”, como no caso da dengue. Desta forma, os agentes de endemias mantêm os trabalhos de aplicação do inseticida UBV e atendimento de denúncias. Parte da equipe ainda realiza monitoramento dos 197 pontos estratégicos espalhados pelo município, a fim de avaliar o índice de infestação do mosquito nesses locais.

Já os agentes comunitários de saúde estão atuando no monitoramento de casos suspeitos e confirmados de coronavírus. “O acompanhamento permite que a equipe de saúde fique ciente do quadro clínico de seus pacientes, principalmente os que pertencem ao grupo de risco.” Além desses agentes, a pasta conta com os servidores que atuam no Departamento de Vigilância Sanitária, atendendo denúncias feitas pela população ou de órgãos, como o Ministério Público do Trabalho.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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