Alça de viaduto poderá reduzir linhas de ônibus na Getúlio Vargas

A conclusão da alça do Viaduto Augusto Franco, no Centro de Juiz de Fora, deverá reduzir significativamente o número de ônibus urbanos que circulam pela Avenida Getúlio Vargas. Um estudo em andamento pela Settra avalia que parte das 170 linhas que hoje circula pela avenida poderá mudar o itinerário, seguindo em direção ao Centro a partir da Avenida Brasil, passando pelo viaduto até alcançar a Avenida Francisco Bernardino. A novidade foi anunciada para a Tribuna esta semana, enquanto o jornal fazia levantamentos sobre os problemas graves de mobilidade e acessibilidade da via. Na verdade, a reportagem constatou que o intenso fluxo de veículos e de pessoas na avenida é apenas um dos cenários que reforça a necessidade de revitalização da Getúlio Vargas, uma das mais importantes da região central de Juiz de Fora. Entre os problemas apontados estão a alta concentração de ambulantes, muitos deles irregulares, além da poluição visual e ausência de arborização adequada, que faz da Getúlio Vargas uma das áreas mais quentes da cidade.

Avenida abriga hoje cerca de 170 linhas de ônibus, causando congestionamentos na via; trânsito nas calçadas também é difícil devido à grande presença de ambulantes disputando espaço com pedestres (Foto: Olavo Prazeres)

Além do evidente impacto no trânsito, a concentração de 170 linhas de ônibus na via também resulta em maior número de pedestres sobre ela. Muitos deles, aliás, não teriam que passar pela avenida, mas são obrigadas em razão dos pontos de embarque e desembarque para diversas regiões da cidade, como distritos, Cidade Alta, zonas Leste, Nordeste e, principalmente, a região Norte. Ou seja, a ideia divulgada pela Prefeitura, através da Settra, é agir no trânsito para reduzir a dependência pela Getúlio Vargas. A intenção de reduzir o número de ônibus na Getúlio Vargas também poderá trazer impactos positivos para o entorno, como a própria Avenida Rio Branco. Isso porque o tráfego em direção ao Centro seria feito pela Avenida Brasil, onde existe a intenção, também, de se criar faixas exclusivas para o transporte público desde a Rua Marechal Setembrino de Carvalho até a Rua Halfeld. “Na Avenida Brasil, os coletivos teriam a possibilidade de ter um ponto de ônibus adequado nas proximidades da Rua Halfeld, para a pessoa já descer na região central”, explica o secretário de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio.

Para a implantação das faixas exclusivas, a Settra diz ser necessário aguardar as obras de despoluição do Rio Paraibuna, que ainda promove ações pontuais às margens do Rio Paraibuna. Conforme anunciado pela Cesama no dia14 de maio, 85% dos trabalhos de implantação das redes interceptoras de esgoto na via já foram concluídos. “Temos uma quantidade de linhas concentradas na Getúlio. Passando algumas para Avenida Brasil, vamos dividir isso”, reforça o gerente do Departamento de Estudos e Projetos de Transporte e Trânsito, Marcelo Valente.

Prioridade para o transporte público

Ao longo das últimas décadas, mais de uma ideia foi defendida para resolver as questões que envolvem a Avenida Getúlio Vargas. O mestre em Engenharia de Transporte José Luiz Britto Bastos, consultado pela reportagem antes da informação divulgada pela Settra, disse que outra hipótese seria priorizar o transporte público na avenida, mas reduzindo assim o número de veículos particulares. “A avenida precisa, obviamente, de um projeto novo. Precisa de um projeto que retire essas linhas de ônibus que param ao longo das calçadas. Eu, por exemplo, colocaria os ônibus no centro da avenida, em uma plataforma, para retirar das calçadas aquele volume de pessoas que estão esperando os coletivos. Isso seria muito bom porque liberaria as calçadas para os pedestres que não vão embarcar. Isso traria melhor organização para a Getúlio Vargas.” A prioridade ao transporte público é uma tendência mundial, de acordo com o especialista. Em janeiro deste ano, Juiz de Fora possuía 269.769 veículos emplacados, conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Mas além deste volume, a cidade, por ser polo regional, ainda possui grande fluxo de veículos emplacados em outros municípios, mas que circulam por suas vias diariamente.

Com o número alto de carros e motos, a mobilidade urbana no município deve ser repensada, na avaliação de Britto. “Você tem que retirar, aos poucos, os automóveis das vias, o máximo que puder, para que possamos melhorar a mobilidade urbana. Automóvel é um problema sério no mundo inteiro, e o mundo inteiro está restringindo cada vez mais o seu uso.”

Terceira faixa testada

Conclusão da alça do Viaduto Augusto Franco deve permitir
a redução de linhas de ônibus na Avenida Getúlio Vargas (Foto: Fernando Priamo)

Em 2013, a Settra cogitou a possibilidade de implantação de uma terceira faixa exclusiva para o transporte coletivo na Avenida Getúlio Vargas, deixando apenas uma para os demais veículos. Na época, a medida foi testada por um dia, mas causou efeito cascata em todo o trânsito da área central de Juiz de Fora, com retenções que exigiu dose extra de paciência dos motoristas. Mesmo assim, o resultado obtido foi de aumento da velocidade média dos coletivos.

Mobilidade toda comprometida

Nas últimas décadas, a Prefeitura apresentou, mais de uma vez, projetos de revitalização da Avenida Getúlio Vargas, mas nenhum, de fato, chegou a ser concretizado. As concepções permeavam sempre a necessidade de dar mais conforto aos pedestres, com a readequação dos pontos de ônibus e a retirada dos vendedores ambulantes para um possível camelódromo. A ideia de mudança estrutural mais recente existe há nove anos, quando o município solicitou recursos ao Governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para uma série de adequações, como novas estruturas para pontos de ônibus e remoção total dos vendedores ambulantes na área.

Entretanto, de acordo com o gerente do Departamento de Estudos e Projetos de Transporte e Trânsito, Marcelo Valente, o projeto de remodelação da Avenida Getúlio Vargas, por meio do PAC, não será mais possível. “Em 2010, nós demos entrada de solicitação no PAC. De lá para cá, o programa foi encerrado pelo governo Michel Temer”.

A Tribuna entrou em contato com diferentes ministérios do Governo federal para averiguar a situação do programa. Porém, nenhuma informação sobre o PAC foi disponibilizada. No site oficial do programa, onde são encontradas as propostas atendidas em todo o país, o projeto de remodelação da Getúlio Vargas não é listado.

As questões envolvendo a Avenida Getúlio Vargas são motivos de insatisfação dos juiz-foranos, principalmente aqueles que precisam acessar a via diariamente. Neste grupo, destaca-se, por exemplo, os moradores da Zona Norte, que têm a maioria dos pontos de embarque e desembarque no Centro na via. Entretanto, as reclamações não são exclusividade destas pessoas. “Problemas aqui não faltam. Trânsito muito embolado e passeios ocupados por bancas de camelôs” relata o aposentado Luiz Carlos Silva, 60 anos, que embarca para o Bairro Grama, Zona Nordeste, em um dos pontos localizados na avenida. “Essa Getúlio Vargas está precisando melhorar muito”.

Do lado esquerdo da via, de quem segue da Avenida Rio Branco em direção à Avenida Itamar Franco, os pedestres precisam dividir o espaço do passeio com o comércio ambulante. Levantamento feito pela Tribuna no dia 10 de maio, entre 11h e meio-dia, apontou 50 ambulantes na via. Destes, metade estava em bancas nas áreas de estacionamento, fora das calçadas, enquanto outros 25 ocupavam os espaços voltados aos pedestres, comprometendo a mobilidade, principalmente dos idosos e dos deficientes físicos. Em ambos os lados, o piso irregular dos passeios se torna mais um risco para os pedestres. Para Maria Imaculada Duarte, de 52 anos, usuária das linhas de ônibus que atendem o Bairro Nova Benfica, região Norte, a mobilidade é um problema grave. “O piso está desregulado. Já vi gente que, na pressa, acaba tropeçando e se machucando”, conta.

Além disso, quem caminha pela via também sente falta de faixas mais próximas para travessia, o que acaba incentivando a imprudência. Por exemplo, cerca de 200 metros separam os semáforos e faixas localizadas nos cruzamentos da avenida com as ruas Marechal Floriano Peixoto e Batista de Oliveira, o que leva muitas pessoas a se arriscarem e atravessarem em meio aos veículos.

Os pedestres precisam dividir o espaço do passeio com o comércio ambulante (Foto: Fernando Priamo)

Faixas de travessia

De acordo com o titular da Settra, Eduardo Facio, a ausência de mais faixas de travessia passa por uma “questão de segurança”. Isso porque, segundo ele, a faixa é indicada quando existe alto volume de pessoas e a real necessidade de travessia. “As situações mais seguras são sempre nos cruzamentos com outras ruas, que eu tenho a retenção dos veículos na outra via, antes deles adentrarem a próxima quadra. No meio de uma quadra, não é indicado colocarmos uma travessia.” Sobre os passeios, ele disse que há projetos em andamento, dentro da possibilidade financeira da Prefeitura. Uma das ideias é a de implantar rampas de acessibilidade nas calçadas e travessias de pedestres na extensão da via, assim como está sendo feito na Avenida Rio Branco. “Estamos terminando o projeto, que vai ser licitado ainda esse ano, para que todas as rampas de acessibilidade nas calçadas e travessias nos cruzamentos com a Getúlio sejam feitas.”

Próxima do ‘caos urbano’

Com tantas questões envolvendo a Avenida Getúlio Vargas, a via “se aproxima muito do caos urbano”, de acordo com o arquiteto e urbanista Paulo César Lourenço. Na sua avaliação, além do grande volume de veículos que transita diariamente pela avenida, outros fatores contribuem para o impacto na mobilidade, especialmente dos pedestres.
“As calçadas são insuficientes e, sobre elas, existe um comércio ambulante que compromete pelo menos 50% da circulação. Então aquilo que já não era adequado, fica pior ainda”, justifica o especialista. O comércio ambulante afeta, inclusive, as áreas voltadas para carga e descarga na avenida, como foi denunciado pela Tribuna em abril de 2019.
A qualidade do espaço na Getúlio Vargas também está aquém do aceitável, segundo o arquiteto. Pouca arborização e más condições de iluminação impactam a mobilidade. “É uma avenida onde você tem calçadas deficientes, seja no seu piso ou na possibilidade de circulação de pedestres, onde a iluminação pública não é adequada para as calçadas e para a via, e onde não tem nada de arborização.”

Poluição visual

Somados ao comércio, de maneira geral, a via é afetada por poluição visual, como cita Lourenço. “Você tem todos esses fatores que contribuem para uma situação bastante comprometedora da Avenida Getúlio Vargas. Um projeto mais amplo de intervenção poderia garantir, minimamente, uma padronização de letreiros ou até mesmo a proibição deles. Existem inúmeros imóveis na via que são tombados e que não permitem qualquer tipo de sinalização. A revitalização, conforme anunciado, seria o primeiro passo para reduzir os problemas. E a partir disso, seria preciso melhorar a condição para que os pedestres circulem, ou seja, aumentando as calçadas. O problema sempre é muito mais amplo e deve ser tratado de maneira mais ampla.”

“As calçadas são insuficientes e, sobre elas, existe um comércio ambulante que compromete pelo menos 50% da circulação”, garante o arquiteto e urbanista Paulo César Lourenço (Foto: Fernando Priamo)

Mais de 1.300 itens foram apreendidos na Getúlio

Na última terça-feira (21), a Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (Semaur) promoveu operação com a Polícia Militar que resultou na apreensão de mercadorias comercializadas de maneira irregular na avenida. Conforme a pasta, 1.368 itens, como meias, frutas, óculos, maços de cigarro, pacotes de papel de seda, entre outros, foram apreendidos. Os produtos não passíveis de devolução, como as frutas, foram doadas na quarta-feira (22) para instituições filantrópicas.

Em nota, a Semaur reforçou que promove, regularmente, a fiscalização dos comércios nas vias de Juiz de Fora, por meio das rondas fiscais, realizadas de forma rotineira. “O objetivo é coibir os excessos e identificar irregularidades. O trabalho, que é ostensivo, busca garantir o ordenamento urbano.” Em 2018, em Juiz de Fora, 9.698 unidades de frutas diversas, como caquis, bananas, laranjas e maçãs, foram apreendidas e doadas. A fiscalização no ano passado também culminou na apreensão de cerca de 11.671 itens diversos entre meias, mídias (cds e dvds), brinquedos, cuecas, ferramentas, fones de ouvido, isqueiros, óculos, pano de chão, pentes, roupas, sombrinhas, etc. Enquanto em 2019, cerca de 4.282 unidades de frutas e 6.326 itens diversos foram apreendidos. Também neste ano, dois estabelecimentos – usados clandestinamente como depósitos de frutas – foram interditados pela Semaur.

Getúlio mais quente que outras áreas

Além das questões envolvendo a mobilidade, quem transita pela Avenida Getúlio Vargas também enfrenta incômodo relacionado ao excesso de calor. Isto porque, em determinados momentos do dia, a diferença de temperatura entre a via e o Campus da Universidade pode chegar a sete graus. Foi o que apontou estudo feito em 2014 pela coordenadora do Laboratório de Climatologia da UFJF, Cássia Ferreira. Ao longo dos anos, os registros de temperatura na via foram mantidos e, segundo a especialista, há uma tendência à piora.
“Cada vez mais prédios ocupam as áreas e ficam mais altos. Não tiveram, em hora nenhuma, plantio de árvores, principalmente na Getúlio Vargas, que é uma avenida onde há circulação predominante de veículos poluidores, como os ônibus. Na verdade, houve piora na situação.”

Além de congestionamentos, usuários da via enfrentam temperatura elevada, poluição visual e iluminação inadequada (Foto: Fernando Priamo)

Ilhas de calor

A arborização é um ponto que afeta diretamente a temperatura. Levantamento realizado pela Tribuna demonstrou que, ao longo da Avenida Getúlio Vargas, entre as ruas São Sebastião e Santa Rita, onde há maior concentração de pessoas, há somente oito árvores. “A arborização minimiza a quantidade de radiação que está chegando à superfície. Ela provoca um sombreamento e, consequentemente, uma amenização das temperaturas. Então a ausência dela faz com que tenha ainda mais aquecimento”, explica Cássia.
A questão soma-se a outros fatores que impactam na temperatura da via, como o uso de ar-condicionado, que gera aumento no gasto energético, e o processo de verticalização, ou seja, prédios cada vez mais altos. “Isso faz com que a energia que incide sobre aquela área fique armazenada ali dentro, provocando, consequentemente, temperaturas mais elevadas. Isso se associa, ainda, ao calor antrópico, relacionado aos combustíveis fósseis que fazem funcionar os motores dos automóveis. Essa poluição fica mais concentrada nesses ambientes, criando ilhas de calor naquele trecho.”

As ilhas de calor trazem reflexos em suas áreas. “Isso gera um desconforto térmico muito grande, com um estresse maior da população”, explica Cássia. O fenômeno afeta, ainda, a distribuição de chuvas, tornando-as mais fortes e localizadas no perímetro urbano.O que ocorre na Avenida Getúlio Vargas afeta grande parte do Centro, no triângulo formado entre a via e as avenidas Itamar Franco e Rio Branco. Conforme a pesquisadora, a área é a mais quente de Juiz de Fora. O estudo desenvolvido por Cássia diz respeito à instalação de termômetros em pontos distintos da região central.

Estudo de arborização

Em nota, Semaur informou que está realizando reuniões com parceiros, além de estar em fase final de elaboração de um convênio firmado com a UFJF para implantação de determinadas ações da Política Municipal de Arborização Urbana. Juntamente com a Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), foi analisado um estudo realizado pela universidade, que identifica as áreas mais necessitadas de arborização em Juiz de Fora. Esses locais serão priorizados para receber próximos plantios. “A Política Municipal de Arborização Urbana, que entre outras inúmeras questões, busca inventariar o quantitativo e qualitativo da arborização viária e urbana do município de Juiz de Fora, retratando a situação atual, para que os trabalhos possam ocorrer pautados pela melhor técnica, desde a avaliação do local do plantio, passando pelos tratos culturais de preservação da espécie nativa plantada, bem como o seu manejo e o consequente incremento da vegetação, substituição de indivíduos arbóreos inadequados para determinado local e o efetivo plantio nas áreas desprovidas de vegetação, tornando a cidade mais verde e mais agradável”, explicou o texto.

Segundo a Semaur, já houve o plantio de 250 árvores nativas da Mata Atlântica às margens do Rio Paraibuna, de um total de 400. O restante ainda será plantado. Além disso, foi realizado o plantio de cerca de 50 mudas, também de espécies nativas da Mata Atlântica, na praça do Bairro São Judas Tadeu. Outras 20 mudas foram plantadas no Bairro Granbery, na Rua Batista de Oliveira e em escolas municipais, entre outros locais.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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