Associações de catadores enfrentam dificuldades em JF

Após o caminhão da coleta seletiva passar por 62% dos bairros de Juiz de Fora, o ciclo sustentável se fecha com a destinação do material recolhido para uma das três associações de catadores da cidade, que fazem a triagem e comercialização dos recicláveis. A parceria com os catadores é considerada fundamental pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), no entanto, em relatos para a Tribuna, nesta série sobre a gestão do lixo juiz-forano, duas das entidades do município relataram diminuição do volume de material recebido nos últimos anos.

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Há 19 anos, a Associação dos Catadores de Papéis e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (Apares) recebe material do caminhão do Demlurb e de diversas pessoas que fazem a separação do lixo residencial e encaminham para a sede da entidade, localizada na Rua Doutor Lafaiete Loures 101, no Centro. Todo tipo de descarte seco é recebido e separado pela Apares, que, inclusive, tem licença para receber descartes eletrônicos, despendidos pela população em larga escala mensal. Entretanto, ao menos desde a última década, a renda com o trabalho declinou.

“Até 2007, o material era tanto que a gente não conseguia nem abrir o portão. Hoje em dia, o galpão fica vazio, a maioria do material é para separar. À noite a gente vai para a rua de novo, coleta materiais, e assim a gente vai sobrevivendo”, conta a presidente da Apares, Flávia da Silva. Se a associação chegou a ter 48 catadores e receber três caminhões da coleta seletiva semanalmente, hoje são 17 catadores associados – alguns complementando a renda com “bicos” – e apenas um caminhão para recebimento de material, devido à falta de infraestrutura adequada na unidade. A baixa arrecadação também tornou inviável a manutenção de um carro próprio da entidade para coletas em bairros mais distantes.

A Associação Lixo Certo (Alicer), localizada na Rua Estrada da Remonta 430, Bairro Jóquei Clube, na Zona Norte, também lida diariamente com os problemas de falta de equipamento e de pessoal, segundo o presidente José Rubens. “O consumo está reduzido e tem mais catadores avulsos na rua, então o material desapareceu”, explica. Atualmente, a Alicer conta com 11 associados, mas apenas sete são frequentes na coleta.

“Temos quatro associados que não temos condições de segurar diariamente, então chega material, a gente chama, eles vêm e fazem o trabalho. Agora, se não tiver material, a associação não tem condição de pagar. Não tem material, não tem dinheiro”, afirma Rubens. Mesmo com as barreiras, a Alicer faz coleta em estabelecimentos comerciais e em condomínios dos bairros Santa Catarina, Dom Bosco e Manoel Honório, além de pontos da Avenida Presidente Itamar Franco.

Trabalho é essencial para gestão do lixo urbano

As coletas da Apares e da Alicer, além da Associação Municipal de Catadores de Papel e Materiais Reaproveitáveis de Juiz de Fora (Ascajuf) e de catadores independentes, são consideradas fundamentais pelo Demlurb para o sucesso da gestão municipal do lixo urbano. A administração pública conta com o trabalho dos catadores para cobrir os bairros não atingidos pelo caminhão da coleta seletiva. “Os catadores sobrevivem da renda desses materiais. Se o próprio bairro abraçar o catador, eles vão ser atendidos e não vão precisar esperar pelo poder público colocar uma rota. Às vezes, tem algum galpão que compra o material e trabalha com algum tipo de material dentro do próprio bairro”, aponta a Coordenadora do Departamento de Educação Ambiental, Rosilene Lopes.

A integração dos catadores, sobretudo em associações, é incentivada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para organizar a gestão do trabalho, a parte administrativa e também a técnica, de acordo com o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade de Engenharia da UFJF, Samuel Rodrigues Castro. Em conversa com a reportagem, o pesquisador destacou também a importância do trabalho conjunto entre administração municipal e catadores. “Essa parceria com os catadores é muito importante para as prefeituras, além do investimento, garantir infraestrutura e disponibilizar técnicos capacitados que apresentem soluções assertivas para cada realidade no gerenciamento de resíduos”, reflete.

Após gerar a integração dos catadores e capacitá-los para o trabalho de gestão de resíduos, uma possibilidade é a criação de empresas de reciclagem como forma a estimular um setor que emprega cerca de 340 mil pessoas em todo o Brasil, segundo Castro, que é o de limpeza urbana. Para o pesquisador, apesar de o desenvolvimento ser, em grande parte, responsabilidade do governo, também deve haver um trabalho conjunto da população. “Acho muito importante essa cobrança com o poder público, mas é importante ter em mente que nós também temos um papel fundamental, e não podemos nos eximir dessa responsabilidade”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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