Aulas on-line transformam realidade de alunos e professores na quarentena

A determinação de uma quarentena para minimizar a proliferação do novo coronavírus pegou todo mundo de surpresa. Por conta disso, a rotina em escolas e cursos foi completamente alterada, fazendo com que os professores criassem alternativas para dar continuidade às aulas. E para não deixar seus alunos desassistidos, muitos recorreram à internet, afinal a rede não serve apenas para o entretenimento. A Tribuna conta, a seguir, algumas iniciativas que estão acontecendo em Juiz de Fora.

O professor Bernardo Hallack ensina biologia da cozinha de sua casa (Foto: Reprodução)

Biologia na cozinha

Quem diria que o revestimento colocado na geladeira para fazer anotações do dia a dia poderia se transformar em um quadro negro? Pois essa foi a alternativa encontrada pelo professor de biologia, Bernardo Hallack, para dar continuidade às aulas. Com a suspensão das atividades nas escolas em que trabalha, os alunos começaram a procurá-lo para saber como iriam fazer no período de quarentena, principalmente das turmas do 3º ano do ensino médio e pré-vestibular.

“Percebi que havia uma preocupação com o conteúdo em si e, também, com o ritmo de estudo e foco. Então optei pelas lives no Instagram (@be.hallack e @beologia). Tenho feito lives segunda, quarta e sexta e, sempre ao final delas, antecipo o conteúdo da próxima. Em paralelo, monto mapas mentais de estudo com o conteúdo das lives e posto também nos perfis. As lives duram, em média, de 40 a 50 minutos”, explica.

Segundo Bernardo, todas as lives são abertas para quem quiser acompanhar, independentemente de serem seus alunos ou não. “Embora eu direcione para eles, acho que todos que precisarem, nesse momento, merecem ter acesso. Vejo as lives não apenas como uma possibilidade de passar conteúdo, mas também de trabalhar um pouco o emocional dos alunos, já é muito frágil em ano de vestibular, somado a esse estresse que estamos vivendo”, comenta.

Para o professor, dar aulas pelo Instagram durante a quarentena é uma forma para nos mantermos mais ativos. “O retorno dos alunos tem sido ótimo. Penso em ampliar para as outras turmas do fundamental e anos iniciais do ensino médio, que também leciono. Gosto dessa ideia de democratizar o conhecimento, e a internet é um bom canal para isso. Só nos mostra que o conhecimento é uma construção. Nós, como professores, também estamos aprendendo com as ferramentas on-line.”

Gisely Corrêa continua as aulas de balé por meio de videoconferência com as suas bailarinas (Foto: Reprodução)

Contra o tédio, dança!

O isolamento social também tem impactado a vida de quem pratica atividade física, inclusive os que se dedicam à dança. Para não interromper o trabalho iniciado com as suas alunas desde o começo do ano, e também as fazerem movimentarem, a professora de balé clássico, Gisely Corrêa, tem dado continuidade às aulas por meio de ferramentas que permitem chamadas de videoconferência com as suas bailarinas.

“Assim que paralisamos, imediatamente enviei a elas uma lista de alongamentos para seguirem em casa. Porém, vi que isso não seria suficiente. Eu precisava ver se estavam seguindo. Por outro lado, as alunas começaram a se queixar de tédio. Então, na quinta-feira passada, fiz a primeira aula com um grupo de alunas, por videochamada. Deu muito certo, apesar de alguns problemas iniciais na conexão”, lembra.

Para organizar melhor as turmas e os horários, Gisely dividiu as aulas para que ocorram a semana inteira, em três momentos do dia e de acordo com a faixa etária. Pela manhã, é a vez das alunas menores, no começo da tarde; as alunas entre 7 e 10 anos, e mais para o final da tarde, as meninas a partir dos 11 anos. As aulas têm duração de uma hora. “No balé clássico, a gente precisa ter atenção com alguns detalhes, como piso e espaço que elas têm em casa, para que não escorreguem e nem batam em nada. Pela videochamada, consigo avaliar e adaptar o exercício para a realidade que elas têm nesse momento e fazer correções também”, explica.

Gisely já disponibiliza, por meio do Instagram do seu espaço de dança (@classique_oficial), o link das aulas via Skype para que outras pessoas possam participar delas. “É um momento em que todos nós precisamos de apoio, e ter uma distração a mais para o corpo e a cabeça não cai mal, certo?”, comenta.

Sem desculpa para o ‘no speak english’

Quando um curso de idiomas se propõe a ensinar uma nova língua de forma intensiva, e rápida, tem início uma corrida contra o tempo. No caso do professor de inglês, Vico Lopes, a suspensão das aulas na quarentena foi um balde de água fria para os seus alunos.

Alunos migraram para o ambiente virtual para as aulas de inglês do professor Vico Lopes (Foto: Reprodução)

“Muitos deles têm uma urgência em aprender um novo idioma, pois muitas vezes isso está atrelado a planos profissionais e pessoais. Mesmo que esses planos precisem ser adiados, eu não queria que a paralisação das aulas fosse um obstáculo a mais para essas pessoas. Assim, com a tecnologia a nosso favor, comecei a me movimentar e encontrar alternativas para dar continuidade ao trabalho”, conta.

Em poucas horas, ele e os demais professores do curso começaram a testar as ferramentas disponíveis, criar tutoriais e uma nova logística de ensino. “Muito do que conseguimos estabelecer foi baseado em experiências positivas que tivemos com aulas ministradas em ambiente on-line. Assim, temos realizado as aulas por meio do Skype e plataformas de videoconferência, como o Zoom”.

Outro gesto que facilitou a comunicação foram os grupos de WhatsApp de cada turma já existentes. “Por meio deles, e também por e-mail, temos conseguido enviar os materiais das aulas com antecedência para os alunos se preparem. O retorno tem sido muito positivo, o que nos alegra e mostra que vamos conseguir minimizar alguns prejuízos”. Alguns registros das aulas estão disponíveis no Instagram do curso (@Sistema3) que, em breve, trará lives de aulas expositivas, abertas ao público.

Alunos de música da escola Tom Maior têm aulas virtuais (Foto: Reprodução)

Música para acalmar os ânimos

Seguindo a mesma pegada de não atrapalhar a evolução dos seus alunos, os professores de música também buscaram o aplicativo WhatsApp para dar continuidade às aulas e suporte aos alunos. “Sabemos que passamos por um momento difícil, e a música tem a capacidade de levar alegria e leveza às pessoas. Assim, adaptamos nossos conteúdos, bem como apostilas, material didático e vídeos, para que as aulas sejam 100% on-line”, explica o diretor da escola de música Tom Maior, Thiago Stopa.

Além do WhatsApp, as aulas estão acontecendo por meio do aplicativo Zoom. E a escola também quer fazer as transmissões pelo Instagram (@tommaiorjfoficial). “O objetivo também é abrir vagas para novos alunos que querem iniciar aulas na quarentena e, também, aqueles que desejam aprender coisas novas. Vamos disponibilizar materiais para quem tem curiosidade de tocar um instrumento novo”, finaliza Thiago.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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