Avanço do coronavírus expõe a perigo pessoas em situação de rua

Muitos moradores em situação de rua acreditam que a Covid-10 ‘não pega’ (Foto: Leonardo Costa)

Enquanto especialistas e o governo pedem o isolamento social e a limpeza frequente das mãos para evitar o contágio do coronavírus, a preocupação se volta para os moradores de rua. São pessoas sem teto fixo, dormindo em bancos ou sob papelões no chão, com pouca ou nenhuma higiene e saúde fragilizada. Muitos são usuários de drogas e não têm nenhum lugar para se isolar. A situação é agravada pela falta de acesso à informação e pelo descrédito com que muitos estão tratando a gravidade da doença. Para tentar minimizar o perigo, a equipe de abordagem da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) está identificando e orientando as pessoas em situação de rua que fazem parte do grupo de risco, fazendo mudanças nos locais que assistem esta parcela da população. Além disso, a abertura de mais 50 vagas para acolhimento irá acontecer nos próximos dias.

De acordo com Gisele Zaquini Lopes Faria, gerente do Departamento de Proteção Especial da Secretaria de Desenvolvimento Social, além das diversas adequações que a pasta fez para receber os usuários em seus serviços, a preocupação é com a conscientização. “A Prefeitura está trabalhando na conscientização sobre os riscos que correm continuando se expondo nas ruas, principalmente daquelas pessoas que não utilizam nenhum dos serviços disponibilizados no município. Ainda não temos nenhum caso registrado de coronavírus entre a população de rua, mas, todos os nosso serviços já prepararam um quarto de isolamento caso a gente tenha alguma orientação médica para isso”, disse.

Para Vanessa Farnezi, presidente da Fundação Maria Mãe, entidade que fica no Bairro Ladeira, região Leste, e que oferece, entre outros serviços, café da manhã, banho e tratamento odontológico para essa população, a preocupação é a mesma. São atendidas no espaço por dia entre 120 e 160 pessoas. De acordo com ela, a principal preocupação é que a população em situação de rua está tratando com naturalidade a propagação do vírus. “Só nesta segunda-feira (23), atendemos 138 pessoas no café da manhã, muitas estavam dizendo que a doença “não pega”, e isso é muito sério. Além de serem potenciais vítimas, são também transmissores. Eles transitam pela cidade toda. Estamos intensificando a lavagem de mãos, cuidados de saúde, e, principalmente, trabalhando a conscientização da necessidade de aqueles que têm algum vínculo familiar retornem para sua casa”, disse. Vanessa destacou que estão sendo disponibilizadas, dentro das possibilidades, máscaras e luvas para os assistidos.

Muitos moradores em situação de rua têm saúde fragilizada (Foto: Leonardo Costa)

Prefeitura vai ampliar serviço de acolhimento
Segundo Gisele Zaquini, além das 150 vagas disponíveis para pernoite na Casa de Passagem para Mulheres e Casa de Passagem para Homens, o Executivo Municipal está buscando um local para atendimento de mais 50 pessoas por noite. “Estamos preocupados com aquelas pessoas que estão pelas ruas da cidade e ainda não conseguiram fixar nos serviços que a Prefeitura já oferece. Já estamos trabalhando na abertura deste novo local, que vai abrigar homens e mulheres, já que muitos casais se recusam a ficarem separados. Neste novo espaço, vamos abrir a possibilidade de homens e mulheres ficarem no mesmo prédio. A proposta é intensificar o trabalho de abordagem com as pessoas que ainda continuam pelas ruas e não aceitam ir para o serviço de acolhimento. Por enquanto, estamos levantando os espaços, equipe de profissionais e outros detalhes. Em breve, divulgaremos o local e data de início.”

Serviço voluntário é reduzido

Outro problema que vem ocorrendo é a falta de voluntários para ajudar as pessoas em situação de rua. Segundo Lúcia Moreira, coordenadora do projeto “Anjos de Rua”, que há quatro anos oferece assistência e alimentação a esse segmento, a situação deles é grave. De acordo com ela, depois que o coronavírus avançou no país, o trabalho voluntário com a população de rua da cidade praticamente acabou.

Por conta disso, ela e os voluntários do projeto intensificaram a ida às ruas. Antes, a distribuição de comida era feita todas as segundas, atualmente, acontece diariamente. “Hoje, basicamente, só estamos nós fazendo este trabalho. Antes do vírus, eles já não tinham acesso a coisas básicas, com essa situação, está mais grave. Por exemplo, quem trabalhava com reciclagem, hoje está parado. Os que pediam ajuda na ruas, não têm mais a quem pedir com as pessoas em isolamento social. E eles não têm onde fazer esse isolamento”, comentou.

O grupo sobrevive com a ajuda de voluntários para doação de alimentos e outros itens básicos, como os de higiene. O projeto está entregando kits de higiene e também luvas e máscaras. Quem deseja ajudar com doações ou trabalho voluntário, pode fazer contato com os “Anjos de Rua” pelo Facebook ou pelo telefone (32) 99111-1437.

Mudanças no atendimento
A Casa de Passagem para Mulheres , que funciona na Rua Oswaldo Cruz, Centro, e recebe 50 mulheres por dia, agora está ficando aberta o dia todo. Antes as mulheres tinham apenas a opção de pernoite. Desta forma, as mulheres podem permanecer todo o tempo no local, evitando circulação nas ruas.

Já na Casa de Passagem para Homens, que tem capacidade para receber 100 assistidos para pernoite, as camas foram dívidas em dois locais. Gisele Zaquini destacou que o objetivo é deixar as camas mais longe possível uma das outras. A Casa da Cidadania, no Bairro Jardim Esperança, região Sudeste, está dando atenção especial aos idosos em situação de rua.

Restaurante Popular
O almoço no Restaurante Popular não está sendo servido às pessoas em situação de rua. Foram organizados dois espaços, onde estão sendo oferecidas as refeições. Um no Centro Pop, na Rua Professor Osvaldo Veloso, Centro, para cerca de 120 usuários do local, e outro no Centro de Referência em Direitos Humanos, onde cerca de 80 pessoas estão fazendo a refeição por dia. Os dois locais funcionam entre 13h e 15h, e, segundo Gisele, não está havendo aglomeração de usuários.

Outro ponto de ajuda à população em situação de rua é a Sopa dos Pobres, que funciona a Rua Santo Antônio 110, Centro, onde o trabalho foi modificado. Desde a última terça-feira (17), os assistidos não estão mais entrando do espaço, eles recebem os marmitex na porta do local, das 11h ao meio-dia. Nesta segunda-feira (23), 178 pessoas buscaram alimentação no local. Doações de alimentos estão sendo aceitas normalmente. A Sopa dos Pobres destacou que está necessitando de embalagens marmitex.

Prefeitura organiza fluxo de doações

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) solicitou, nesta segunda-feira (23), que empresas e entidades que estejam distribuindo cestas básicas na cidade a pessoas em situação de vulnerabilidade social procurem as secretarias de Desenvolvimento Social (SDS) e de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta). A iniciativa tem como objetivo organizar o fluxo das entregas, evitando aglomerações. As pastas também trabalharão na fiscalização e no encaminhamento prioritário dos mantimentos que serão recebidos no Parque de Exposição. Instituições que desejarem realizar doações devem entrar em contato com a Sedeta, pelos telefones 2104-7010, 2104-7003 e 3690-8669.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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