Bebê juiz-forana nasce com anticorpos contra a Covid-19

Cerca de um mês após a bancária Erika Frango Fagundes, 38 anos, ainda gestante, ter contraído a Covid-19 em Juiz de Fora, seu bebê, a menina Isabel Frango Ferraz, nasceu com anticorpos contra a doença, conforme aponta resultado de um teste feito por laboratório do Rio Grande do Sul. Erika estava com 35 semanas e três dias de gestação quando teve o diagnóstico positivo para o coronavírus, em meados de abril. O marido de Erika e a filha mais velha do casal, Alice, de apenas três anos, também foram infectados pelo vírus.

“Ficamos muito assustados e preocupados, principalmente com a Alice e com a bebê que ainda estava sendo gerada. A gente ainda não tem noção do que isso pode causar nas crianças. Apesar de não ter acontecido nada comigo, de ter sido uma forma mais leve da doença, foi bem assustador por achar que poderia causar algo sério nas minhas filhas”, relata a mãe.

Apesar do susto e apreensão iniciais, Erika conta que tinha expectativa da filha nascer com anticorpos contra a Covid-19. “Ficamos bastante ansiosos para o nascimento dela para saber se estava tudo bem, se nasceria saudável. Mas também, é claro, a gente pensava sobre a possibilidade de a Isabel nascer com anticorpos. Meu marido e eu assistimos reportagens falando sobre isso e ficamos na expectativa.”

O teste para detecção de anticorpos foi feito por indicação do pediatra que acompanha Isabel, o médico e vereador Antônio Aguiar. Além da análise, a menina, nascida em 16 de maio, foi submetida a outros exames de imagem e sangue para monitoramento.

“É uma situação muito nova, e achamos melhor acompanhar tudo de perto. Ficamos aliviados com os resultados dos exames. Não só pelo fato de saber que ela nasceu com anticorpos, mas pelos resultados dos outros testes que foram feitos para saber se havia alguma sequela. Os exames, até o momento, tiveram resultados normais, dentro do esperado para um bebê recém-nascido. Isso nos deixou mais tranquilos”, diz.

Exame

Isabel deverá ser monitora, a partir de agora, a cada seis meses de vida, conforme explica o médico pediatra Antônio Aguiar, que acompanha a menina. Esse acompanhamento será necessário para verificar a variação de anticorpos na criança e a duração da possível imunidade contra o coronavírus, além de indicar o possível comportamento do vírus em recém-nascidos.

“Estamos diante de uma doença que nos desafia em vários aspectos, porque não temos todos os conhecimentos sobre ela. E um dos desafios é ainda não saber como é o comportamento dessa doença com relação à imunidade. Esse é apenas um caso que estamos acompanhando. Em ciência é preciso que você tenha estudos mais consistentes em termos de número de pacientes. Mas em tempos que ainda estamos aprendendo muito sobre a Covid-19, entendemos que esse caso pode ser um alerta para que estudos de maior consistência, com número maior de pessoas, sejam realizados”, diz Antônio Aguiar.

De acordo com o médico, o exame utilizado no Rio Grande do Sul, feito por meio de amostra de sangue, tem mais de 98% de sensibilidade. A mãe também foi submetida ao mesmo teste que, segundo Aguiar, é um dos com maior taxa de detecção disponível no Brasil.

Porém, o exame não tem um custo acessível. Erika pagou R$ 295 para cada um deles. O material foi colhido em Juiz de Fora e encaminhado para o laboratório no Sul do Brasil.

“Em Juiz de Fora existem vários exames (para detecção de anticorpos), mas sem essas especificidades. A maioria dos testes não pesquisa a chamada “proteína S” (S de spike, espícula em português) do coronavírus, que é o que acopla à célula para a multiplicação do vírus, aonde, portanto, deve estar concentrado os maiores vetores de formação de anticorpos. Esse teste que fizemos, chamado Imunoscov-19, é um teste de pesquisa de anticorpos neutralizantes anti-proteína S1 e S2 do coronavírus. E foi identificada uma titulação de anticorpos bastante significativa tanto da mãe quanto da recém-nascida”, explica o pediatra.

Variação de anticorpos deve indicar tipo de transmissão

O acompanhamento e a possível variação da quantidade de anticorpos devem indicar como se deu a transmissão à criança, segundo analisa o médico Antônio Aguiar. “Estamos lidando com duas possibilidades. A de transmissão vertical, da mãe para o filho através barreira placentária desses anticorpos, e também com a possibilidade de a criança ter desenvolvido a sua própria resposta imune. Que os anticorpos passam de mão para o filho já é sabido, mas queremos avaliar se essa criança teve a Covid-19 ainda na vida intraútero”, relata.

Segundo o médico, ainda não se sabe se a proteção desenvolvida por recém-nascidos é duradoura. Os resultados dos exames de Erika e Isabel serão analisados e comparados entre si. “Nós temos alguns estudos que a imunidade produzida pela doença não é tão duradoura quanto a vacina, mas acredita-se que tenha uma proteção que pode se estender até entorno de nove meses mais ou menos. Mas isso ainda está sendo discutido. Vamos observar tanto a mãe quanto a criança e ver como foi a variação de anticorpos. Normalmente em bebês, após seis meses de vida, quando é somente transferência da mãe para o filho, há um decréscimo significativo na titulação da criança. Mas vamos interpretar isso daqui alguns meses. Se o neném continuar com níveis de anticorpos altos, significa, na nossa visão, que fez a doença intraútero e desenvolveu a sua própria defesa”, explica.

Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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